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LIGAÇÕES SEGURAS
Alquéres exalta ainda a cooperação entre a Alstom e autoridades paulistas.
Cita o governador Geraldo Alckmin e o então prefeito eleito José Serra
 

A cada passo que damos nas investigações sobre o cartel, nos deparamos com o mesmo personagem: Arthur Teixeira.” A frase dita por um integrante do Ministério Público encontra eco entre colegas da Procuradoria da República e da Polícia Federal envolvidos na apuração dos crimes cometidos pela máfia formada por empresas de transporte sobre trilhos para vencer e superfaturar licitações da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e do Metrô paulista. Os investigadores do caso estão convencidos de que o lobista Arthur Teixeira é uma das peças-chaves neste esquema criminoso que se perpetuou durante sucessivos governos do PSDB em São Paulo. Ele une duas qualidades que, segundo as apurações, tornam seus préstimos concorridos e recomendados. Teixeira circula com desenvoltura no tucanato paulista e em gabinetes das estatais e ainda é dono de uma sofisticada engrenagem financeira de intermediação de propinas. Em momentos distintos, tanto a Siemens como a Alstom – as duas principais empresas do cartel – recorreram aos seus serviços para vencerem certames com o governo paulista.

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LIGAÇÕES PERIGOSAS
Ex-presidente da Alstom, José Luiz Alquéres (à esq.) elogia para executivos na matriz os serviços
do “consultor” Arthur Teixeira (acima), também investigado por pagar propinas para outras empresas do cartel

Documentos enviados há duas semanas pelo MP suíço para autoridades brasileiras deixam clara a importância de Teixeira na obtenção dos contratos superfaturados. Entre eles, há um e-mail revelador com o título “Uma estratégia vencedora para oportunidades de curto prazo para o Setor de Transporte do Estado de São Paulo”. A mensagem foi enviada em novembro de 2004 pelo então presidente da Alstom no Brasil, José Luiz Alquéres, a executivos da matriz na França. “Assim como em muitas outras negociações, nós temos sido auxiliados pelo consultor Arthur Teixeira, da Procint”, escreveu Alquéres. Ele destacou, entre aspas, que a eficiência de Teixeira revelou-se “tanto em bom quanto em mau tempo”. O então dirigente da Alstom também expõe o cenário da operação da empresa em contratos na área de transporte com o governo. “Sofremos duas grandes derrotas nas licitações públicas, as primeiras em muitos anos”, comenta. Ele, no entanto, salienta a “longa história de cooperação” da Alstom com as autoridades do Estado de São Paulo. “O novo prefeito recém-eleito (José Serra) participa das negociações que nos permitem reabrir a Mafersa como a Alstom Lapa, assim como o atual governador (Geraldo Alckmin)”, narra Alquéres. Na mensagem, o executivo diz acreditar no sucesso em quatro licitações da CPTM e do Metrô que ocorreriam, em breve, e que representariam “um total de 250 MEUR (milhões de euros)”. Para obter êxito nelas, recomenda a “utilização da expertise” do lobista Arthur Teixeira nesses projetos. Na semana passada, Alquéres alegou que os serviços contratados foram lícitos e que se alguém fez pagamentos de proprina que “arque com as consequências perante a Justiça”.

Como ISTOÉ mostrou em julho, Arthur Teixeira também operou para outras companhias do cartel dos trilhos. Ele é citado por um ex-dirigente da Siemens em uma carta enviada ao ombudsman da empresa em 2008. Nela, o executivo revela que para viabilizar o contrato da CPTM Linha G, que passou a ser a linha 5 do Metrô paulista, “cada empresa tinha sua própria forma de pagar a propina ao pessoal do PSDB e à diretoria da CPTM”. A Alstom e a Siemens se utilizaram das empresas de consultoria, relata, de Arthur Teixeira e do seu irmão Sérgio Teixeira, morto em 2011.

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O esquema usado por Arthur Teixeira para intermediar os acordos envolve diversos países. As companhias do cartel contratam a offshore uruguaia Gantown Consulting S/A ou a brasileira Procint – de sua propriedade – para serviços oferecendo porcentagens em contratos da CPTM e do Metrô paulista a serem licitados. Os valores são creditados, mas o trabalho realizado na prática é outro. Por meio de suas contas bancárias, como a 524374 Rockhouse, no banco Credit Suisse em Genebra, Arthur Teixeira realiza o pagamento de suborno a autoridades do governo paulista. Foi por essa engrenagem, por exemplo, que ele efetuou um depósito de US$ 103,5 mil na conta Milmar em 27 de abril de 2000. O beneficiário foi João Roberto Zaniboni, diretor de operações da CPTM entre 1999 e 2003 (gestões dos tucanos Mário Covas e Geraldo Alckmin).
 


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