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Um dos mandamentos da política é se comportar como vencedor até que as urnas provem o contrário. E é exatamente isso que os partidos estão fazendo diante do anúncio da aliança entre o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva. Ainda atordoados, políticos de diferentes legendas se negam a admitir publicamente possíveis abalos nos projetos que vinham sendo desenhados. Na cúpula dos partidos, entretanto, o cenário é menos otimista. Legendas e seus candidatos se articulam para diminuir os prejuízos e agregar o máximo de aliados no menor espaço de tempo. Quem será o mais beneficiado ou prejudicado a partir do novo jogo eleitoral ainda não se sabe ao certo. Só o tempo irá dizer. Mas três efeitos são inegáveis. O primeiro será a saída do PT e PSDB do piloto automático e da insistente estratégia de polarizar o debate, muitas vezes restrito ao legado dos seus ex-presidentes. O outro é o aumento do preço eleitoral de diferentes legendas, que podem negociar alianças com o fisiologismo de sempre, mas com a certeza de que são coadjuvantes importantes para definir o enredo das eleições presidenciais. O terceiro é que esse movimento coloca novamente a oposição ao governo federal como protagonista do jogo eleitoral, algo que não ocorria desde 2002, quando Lula foi eleito. Na ocasião, além de Lula, Ciro Gomes, então aspirante à Presidência pelo PPS, também representando a oposição a FHC, reuniu possibilidades reais de vencer o pleito. Agora, mais uma vez, duas candidaturas com condições de triunfar nas urnas se colocam em trincheira oposta à da situação: a de Aécio (PSDB) e a de Campos-Marina (PSB), cabendo ao governo – agora, o alvo preferencial de todos os postulantes ao Planalto, depois de passar 12 anos no poder –, o papel de defender as suas realizações.

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Nesse novo desenho, as legendas que orbitam o governo Dilma, a exemplo do PDT, do PTB e do PP, renegociam – a preços mais altos – sua permanência na aliança antes considerada natural. Não faltam ameaças. O PDT de Carlos Lupi, que comanda o Ministério do Trabalho, agora manda recados de que há parlamentares do seu partido interessados em se retirar da base. Do outro lado, o PTB avisa que ainda é aliado, mas cobra o comando de um ministério. Já o PP, presidido pelo senador Ciro Nogueira (PI), diz que está dividido e flerta firmemente com os tucanos, entrando nos governos dos Estados comandados pelo PSDB. Se com o PP já há um namoro, a relação do PSDB com o PSB terá de mudar. Segundo o senador Aécio Neves (MG), o acordo que ele havia fechado com Campos, de os partidos PSDB e PSB se apoiarem mutuamente em pelo menos dez Estados, deverá ser revisto. “Será apenas um exercício de reformulação. Para nós, não muda muito, porque o PSB sempre foi governo. Não perdemos quadros”, diz o senador.

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O cenário também será alterado em outros Estados (leia quadro abaixo). No Maranhão, o rumo que o PSB tomar pode representar o fim da oligarquia Sarney, que está no poder há quase 60 anos. Flávio Dino (PCdoB) tenta atrair os socialistas para sua campanha, o que representaria a formação de um amplo grupo anti-Sarney. O problema é que Marina havia se comprometido com a deputada estadual Eliziane Gama, pré-candidata do PPS, adversária de Dino. Na semana passada, Marina se reuniu com a deputada e reafirmou seu apoio, desconsiderando as conversas que o agora aliado Eduardo Campos vinha mantendo com o candidato do PCdoB. Com a oposição ao atual governo dividida, aumentam as chances de crescimento de um candidato apoiado pela governadora Roseana Sarney (PMDB). Em São Paulo, tudo caminhava para que Eduardo Campos indicasse o vice de Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa pela reeleição. Agora, Marina defende que o seu novo partido lance o deputado federal Walter Feldman, que é ex-tucano e seu aliado. Entre perdedores e ganhadores, uma das poucas certezas que se tem até agora é que o desenho político mudou e exigirá muito mais habilidade dos candidatos e dos partidos. Sobreviver nesse novo cenário depende da capacidade de atrair aliados e neutralizar os adversários, que podem estar bem ao lado.