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VENTO A FAVOR
O ministro da Fazenda, Guido Mantega
 

Cinco anos após o início da mais profunda crise dos últimos tempos, o mundo parece, enfim, respirar aliviado. Na semana passada, o mercado financeiro elevou a expectativa de crescimento da economia brasileira para 2013. De acordo com o Banco Central, investidores e analistas, a alta do PIB será de 2,47%, muito acima do 0,9% registrado em 2012. A boa notícia coincide com uma série de indicadores positivos apresentados nos últimos dias. O Brasil continua gerando muitos empregos – apenas nos oito primeiros meses do ano, mais de um milhão de vagas com carteira assinada foram criadas, setores como o agronegócio seguem batendo recordes financeiros e a inflação desacelerou. “Mas isso não significa que vamos descuidar”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Na Europa, países que flertaram com a recessão começaram a dar sinais de fôlego. A tempestade se dissipou. Na Espanha, para citar o exemplo mais contundente, o desemprego caiu pela primeira vez desde 2008. “A questão agora é saber qual será a velocidade do processo de recuperação”, afirma Fernando Fernandez, economista do IE Business School de Madri. “Da mesma maneira que existiu um excesso de euforia há três anos, hoje há um pessimismo exagerado”, diz Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultoria.

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Janet Yellen, a nova presidenta do FED, o banco central americano:
no Brasil, perspectivas positivas. Nos EUA, preocupação

O próprio Fundo Monetário Internacional, avesso a prognósticos otimistas, apontou que a perspectiva de médio prazo é de que o Brasil volte a crescer cerca de 3,5% ao ano. Na avaliação do fundo, os analistas estão subestimando o peso de fatores passageiros na desaceleração recente do País. Considerando todo o período de crise, o Brasil cresceu, em média, 3,1% ao ano desde 2008, mais do que a média mundial, de 2,9%. Além disso, a retomada econômica dos países europeus deverá dar novo alento à indústria brasileira para os próximos meses. “Com o câmbio desvalorizado e a estabilização da China e da Europa, a atividade industrial no País será melhor”, diz Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria. Para 2013, a consultoria estima um crescimento de 2% para o setor. Isso deve ocorrer porque países que sempre compraram commodities do Brasil reduziram as importações durante o período de crise. “Agora, os indicadores positivos da zona do euro sinalizam a volta desse mercado consumidor.”

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Apesar da onda positiva, o crescimento ainda é modesto. A indústria não tem muitos motivos para comemorar e entraves criados pelo próprio governo, como os fracassos dos leilões de infraestrutura, impedem que a economia deslanche de vez. Para Bráulio Borges, da LCA, a retomada do consumo será decisiva para uma aceleração mais forte. Nesse aspecto, uma pesquisa recente traz alguma esperança. Em setembro, o Índice de Confiança do Consumidor brasileiro aumentou 2,3% na comparação com agosto. Uma leitura óbvia do levantamento é que as pessoas estão dispostas a comprar mais. “Uma parte da piora das projeções para o desempenho do Brasil decorreu das perspectivas ruins para a economia internacional e outra parte reflete fatores domésticos, como a estagnação do consumo no início do ano”, diz Borges. Com a retomada – mesmo que tímida – do consumo, a tendência é de que todo processo negativo seja revertido.
O jogo estaria melhor se os Estados Unidos não interrompessem a recuperação econômica que ensaiaram nos últimos meses. A paralisação do orçamento no Congresso americano, fruto de um embate político entre republicanos e democratas, fez o país se aproximar de um perigoso calote financeiro. No calor dos acontecimentos, o presidente Barack Obama anunciou, na semana passada, a economista Janet Yellen como a primeira mulher à frente do Federal Reserve, o banco central americano. Em seu primeiro discurso, ela declarou que sua missão será diminuir o índice de desemprego de 7,3% do país. “Dois milhões de americanos ainda estão sem emprego e muitos se preocupam em pagar suas contas”, disse Janet. A escolha feita por Obama agradou à comunidade internacional. Com fama de trabalhadora incansável e dotada de um QI elevado, Janet é keynesiana nata (significa que é adepta do pensamento econômico que acredita no poder do Estado de guiar os mercados). Com essas credenciais, ela espera dar sua contribuição para que os Estados Unidos voltem a crescer com intensidade. E, com isso, impulsionar também emergentes como o Brasil.