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PRECURSOR DO RAIO LASER
A instalação rotatória “Continuel-lumière Cylindre”, com versões expostas na
Casa Daros e na galeria Nara Roesler, é feita com espelhos e uma só fonte de luz

2013 é um divisor de águas para Julio le Parc. No começo do ano, uma exposição individual do artista argentino, pioneiro da arte cinética, levou 170 mil pessoas ao Palais de Tokyo, em Paris. Agora, ele ganha três exposições no Brasil. Com importantes instalações, pinturas e desenhos realizados da década de 1950 até hoje, “Uma Busca Contínua” está em cartaz na galeria Nara Roesler desde 3 de outubro; a Carbono Galeria apresenta e coloca à venda uma coleção de múltiplos, todos inéditos no País. E, no sábado 12, a Casa Daros inaugura
no Rio “Le Parc Lumière”, exposição antológica das 30 obras que integram a coleção Daros Latinamerica. “Le Parc sempre foi conceituado, mas entrou somente há três anos na coleção do Centre Pompidou, e a exposição do Palais de Tokyo foi sua consagração”, diz Yamil Le Parc, filho do artista e curador da mostra na Carbono Galeria.

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ANIMAÇÃO
Em “Continuel Lumière” (abaixo.), o argentino
Julio Le Parc (acima) provoca o espectador a participar da obra

Hoje, aos 85 anos, Le Parc tem influência e presença nas grandes coleções internacionais. Este ano, ele vendeu seu monumental “Continuel-lumière Cylindre”, exposto no Palais de Tokyo (e com nova versão exposta na galeria Nara Roesler), para o colecionador francês François Pinault, megaempresário dono de vinícolas, grifes de luxo e meios de comunicação que tem uma das coleções de arte contemporânea mais poderosas e cobiçadas do mundo. Mas nem sempre foi assim. Desde que chegou em Paris, onde se radicou em 1958, Le Parc é um artista experimental, com pouca afinidade com o mercado e o meio institucional. É mítica a história de sua recusa em expor no Musée D’Arte Moderne de la Ville de Paris, nos anos 1970, em represália à política cultural francesa.

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LE PARC LUMIÈRE – OBRAS CINÉTICAS DE JULIO DE PARC / Casa Daros,
RJ, de 12/10 a 23/2/2014  JULIO LE PARC – UMA BUSCA CONTÍNUA/ Galeria Nara Roesler,
SP, até 30/11 JULIO LE PARC, MULTIPLES – 1960-2013/Carbono Galeria, SP, até 11/11 

“Havia uma mobilização de artistas contra uma exposição de arte francesa que estavam organizando em segredo no Grand Palais”, conta Le Parc. “Nós pedimos para ser informados, mas as autoridades nos negaram acesso. Condenamos essa forma de proceder. Dentro desse contexto, me convidaram para fazer uma exposição no Musée D’Arte Moderne de Paris. Convoquei então uma reunião com artistas, galerista, família, colecionadores e os funcionários do museu. Foi uma ação. Li um texto e depois dei uma moeda para meu filho Yamil jogar. Deu negativa. Então não aceitei o convite.” A militância por “uma arte transitória e sem fins comerciais” marcou a carreira de Le Parc desde o início dos anos 1960. Sua produção evoluiu de estudos geométricos bidimensionais em papel para pequenas caixas de luz e, depois, para instalações de grande porte, ambientes imersivos e intervenções públicas na rua. A importância que deu à mutabilidade da percepção do espectador fez de Le Parc um pioneiro não apenas na arte cinética, mas também da participação do público na obra de arte. “A animação é a estrutura formal intrínseca de toda a sua obra, que é infinita, ambivalente e instável”, diz Estrellita B. Brodsky, curadora adjunta de arte latino-americana da Tate de Londres e também da mostra na Nara Roesler.

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A forte conotação política contribuiu para manter essa importante obra fora das grandes coleções por algum tempo. Mas a história começou a fazer justiça a Le Parc há pouco mais de dez anos, quando a coleção Daros Latinamerica começou a se formar. Com curadoria do alemão Hans-Michael Herzog, a coleção adquiriu 30 importantes instalações luminosas, realizadas desde os anos 1960. Esse impressionante conjunto foi reunido na exposição “Le Parc Lumière”, apresentada na sede de Zurique, em 2005, e agora na Casa Daros, no Rio.

“A Daros é muito meticulosa no cuidado com a obra. Além disso, não é uma coleção imóvel. Eles colocam a obra em permanente confronto e difusão, em exposições, conversas, livros”, diz Le Parc. Paralelamente à exposição, a maior colecionadora da obra de Julio Le Parc exibe filmes sobre sua trajetória, publica um livro de 256 páginas e promove encontro do artista com público no dia da abertura.