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A canadense Alice Munro, de 82 anos, foi coroada nesta quinta-feira com o Prêmio Nobel de Literatura por seus contos curtos que exploram com sutileza as complexas relações entre homens e mulheres, a memória e a velhice.

Munro, nascida em Ontario em 1931, é a primeira pessoa de nacionalidade canadense e a 13ª mulher a receber o mais importante prêmio da literatura mundial desde 1901. Em 1976, Saul Below, nascido no Canadá mas de nacionalidade americana, também recebeu o prêmio.
 
A Academia de Estocolmo considerou Munro uma "mestra da narrativa breve contemporânea" e elogiou "sua sutil narrativa, que se caracteriza pela clareza e o realismo psicológico".
 
"Estou incrivelmente surpresa", declarou Munro ao receber a notícia do prêmio.
 
"Eu sabia que estava na disputa, sim, mas nunca pesei que venceria", disse Munro ao canal CBC.
 
Os temas e o estilo da autora de "Felicidade Demais", "Fugitiva" e "O Amor de uma Boa Mulher", marcados por silêncios e pela presença de um narrador que explica o sentido dos acontecimentos, valeram a menção de "Chekhov do Canadá", em referência ao escritor russo Anton Chekhov.
 
Entre suas obras figuram "Who Do You Think You Are?" (1978), "The Moons of Jupiter" (1982), "Runaway" (Fugitiva, 2004), "The View of Castle Rock" (2006) e "Too Much Hapiness" (Felicidade Demais, 2009).
 
Em 2012, publicou sua última obra, "Dear Life".
 
"Escreve sobre as mulheres e para as mulheres, mas não demoniza os homens", disse David Homel, escritor, tradutor e crítico literário americano que mora em Montreal.
 
Esta é primeira vez, em 112 anos, que a academia sueca premia um autor que escreve apenas contos. Com Munro, 27 escritores de língua inglesa venceram o Nobel.
 
"Suas histórias se desenvolvem geralmente em cidades pequenas, onde a luta por uma existência decente gera muitas vezes relações tensas e conflitos morais, ancorados nas diferenças de geração ou de projetos de vida contraditórios", destacou a Academia.
 
"Encontramos geralmente em seus textos descrições de acontecimentos cotidianos mas decisivos, uma espécie de epifanias, que esclarecem a história e iluminam as questões existenciais", completou o júri do Nobel.
 
Alice Munro foi escritora por toda sua vida. Publicou as primeiras obras quando era estudante e, desde então, trabalha sem descanso em Clinton (Ontario), 175 km ao oeste de Toronto, afastada da agitação da imprensa.
 
Nascida em 10 de julho de 1931 em Wingham, oeste da província de Ontário, conheceu de perto a sociedade rural. Seu pai, Robert Eric Laidlaw, era um criador de raposas e aves de curral e sua mãe foi professora.
 
Aos 11 anos decidiu que seria escritora, profissão que nunca abandonou desde então.
 
"Não tenho nenhum outro talento, não sou uma intelectual e tenho um desempenho ruim como dona de casa. Nada poderia vir a perturbar o que eu faço", disse Munro há alguns anos.
 
No período como estudante universitária conheceu James Munro, com quem casou em 1951 e se mudou para Vancouver (oeste do Canadá). O casal teve quatro filhos. Em 1963, a família se mudou para Victoria e abriu a livraria ‘Munro’s Books’, um local que ganhou fama no Canadá e Estados Unidos.
 
Alice Munro recebeu o prêmio ‘Governor General’ por sua primeira coleção de contos, "Dance of the Happy Shades", editada em 1968. Recebeu outros prêmios em vários anos de carreira no exterior.
 
Após o divórcio em 1972 se instalou como "escritora residente" na Universidade de Western Ontario. Em 1976 casou com Gerald Fremlin, um geógrafo falecido em abril de 2013.
 
Sete contos de sua autoria foram levados ao cinema, com desta que para "Longe Dela", no qual Julie Christie interpreta uma mulher com mal de Alzheimer.
 
A escritora canadense receberá oito milhões de coroas suecas (1,24 milhão de dólares, 915.000 euros).
 
A cerimônia de entrega acontecerá em Estocolmo em 10 de dezembro, aniversário da morte do fundador do prêmio, Alfred Nobel.
 
Em 2012, o Nobel de Literatura foi vencido pelo romancista chinês Mo Yan.