Os primeiros foram os personal trainers. A cultura do culto ao corpo e do “tudo no lugar” fez surgir uma assessoria de ginástica personalizada, com professores capazes de colocar em excelente forma física até os mais desiludidos com o peso na balança. Sua tarefa, de babá mesmo, consiste em criar a série de exercícios ideal e ficar ali, em cima, para que ela seja cumprida à risca. A profissão ficou tão popular que fez escola. Hoje há personal para tudo: arrumar guarda-roupa, mala e geladeira; ajeitar a mobília da casa, cuidar do visual e até para lidar com todo o tipo de burocracia. Espécies de consultores para os mais variados assuntos, eles não só orientam como literalmente dão aquela mãozinha.

O termo está tão em moda que a professora de tricô Nair Pinto, 76 anos, virou personal tricô. Em sua última passagem pela capital paulista, a cantora Marisa Monte resolveu distrair-se aprendendo alguns pontos com Nair. Da aula participaram também sua irmã Lívia e a backing vocal Marya Bravo. “Lívia me convenceu a dar a aula no hotel, mas não me contou que eu teria uma aluna tão especial”, conta a professora. Muito ativa, Nair ensina em lojas e associações. “O atendimento particular é para casos excepcionais, como o de Marisa. Além de ser muito ocupada, seria um rebuliço se ela fosse ao curso. Também já tive clientes homens que preferiam aprender em casa”, revela Nair.

É curioso como o atendimento personalizado se aplica hoje a questões antes tidas como muito pessoais. A empresa Help Home, por exemplo, é especializada em problemas domésticos. A dona do negócio, Laura Bertolai – que deixou o mercado financeiro para ajudar a pôr a casa dos outros em ordem –, organiza festas, orienta a compra de roupas e até ensina a ajeitar o armário, a geladeira ou a despensa. “Pode parecer exagero, mas homens sozinhos guardam alface no congelador”, entrega Laura.

Mão na roda – Para o artista plástico Gustavo Rosa, 53 anos, ter alguém que tome conta desses pequenos incômodos é uma mão na roda. Ele é cliente cativo da Help Home há quatro anos. “Mudei para um loft e não tinha coragem de começar a mexer nas coisas. Imagine a tralha que tem um pintor: desenhos antigos, livros, catálogos de exposições, fotos, quadros”, relembra ele. Laura separou o material por data e assunto e catalogou tudo. Até das tintas ela cuidou. Como a mão-de-obra é especializada, os preços são um pouco salgados. Laura cobra R$ 40 por hora. Isso quer dizer que para arrumar um armário (oito horas de trabalho), ela cobra R$ 320. Mas parece que vale a pena. “Hoje sei onde está cada coisa, inclusive no meu quarto. Entro de olhos fechados e encontro o que quero”, se orgulha Gustavo Rosa. O engraçado é que ele jamais permitiu que suas cinco ex-companheiras tocassem em seus pertences. “Namorada mexer em armário é invasão”, contesta ele.

Foi também ao mudar de casa que a secretária Sandra Claro, 40 anos, decidiu contratar um personal. Sandra fez um “reaproveitamento profissional” da mobília. Com a ajuda das decoradoras Neide Benício, 38 anos, e Edna Paes Barreto, 40, e não teve de quebrar a cabeça ou a coluna para ajeitar os antigos móveis na casa de três quartos, sala de três ambientes, escritório e piscina. As decoradoras mediram cada uma das peças e fizeram um projeto para o novo espaço. “Foi um alívio fazer a mudança sabendo de antemão onde colocar os móveis. Calcular item por item é um trabalho de formiguinha. E das bem pacientes”, comemora Sandra.

Segundo Vaz, saber vestir-se é uma questão de bom senso. “Em moda nada é errado. A questão é tal peça cair bem em tal pessoa. O que fica chiquérrimo em um não causa o mesmo efeito em outro”, ensina. O trabalho do personnal stylist começa com uma longa entrevista e uma visita ao closet do cliente. A primeira medida é fazer uma boa limpeza. “Normalmente, as pessoas usam no máximo 70% do que compram”, observa Vaz. A análise do estilo de vida também é importante. E, mesmo quando o objetivo é mudar completamente o visual, a personalidade do cliente tem de ser respeitada. Vaz não conseguiu, por exemplo, enquadrar totalmente o playboy Chiquinho Scarpa num look elegante e moderno como o próprio conde queria. “Ele teima em usar algumas peças muito coloridas”, observa Vaz. Além da impaciência congênita que alguns homens parecem ter em fazer compras, ele cita como erro básico a insistência dos brasileiros em usar roupa fora de medida. “É incrível como eles compram o manequim errado. Ou sobra no pescoço e na manga ou fica amarfanhado porque aperta”, diz ele.

Exageros – As mulheres, por sua vez, pecam nos detalhes. Para Amauri Borghett, responsável pela elegância de Débora Bloch, a maior gafe é exagerar na produção e não saber combinar sapatos com as roupas. “Se conhece um elegante pelo pé”, sentencia. Segundo o personal stylist, com um vestido decotado, por exemplo, não se usa sapato fechado. Também já passou o tempo em que era bonito combinar sapato com bolsa. Terrível também é colocar bota de salto com minissaia, calça de couro ou com as saias longas e informais que estão na moda. Borghett insiste que é melhor menos do que mais. “Tem mulher que exagera. Sai de batom vermelho durante o dia, usa jeans superapertado. Põe brinco, colar, pulseira, anel. É muita informação visual”, resume. Nesses casos, só mesmo um personal para dar jeito.

No Rio, as professoras Célia Pires, 51 anos, e Lourdes Maia, 49, também transformaram incômodos domésticos em atividade rentável. Elas trabalham em média dez horas por dia arrumando armários, pagando contas e fazendo malas. “No início, achávamos que nossa clientela seria essencialmente masculina. Que nada! Hoje, as pessoas têm pouco tempo e nenhuma paciência”, explica Célia. Mas arrumar bem uma mala, por exemplo, exige muito mais que isso. “É uma arte que pede habilidade. Na semana passada, fiz a mala para uma menina que vai morar nos Estados Unidos”, conta a personal home, que cobra R$ 15 por hora de serviço.

Legal – Quando o assunto é viagem, os transtornos não se resumem a fazer a mala. Muita gente se irrita com a burocracia. E é justamente da ojeriza que algumas pessoas têm a documentos e exigências legais que vive a advogada Maria Helena Villela, 60 anos. Ela é um personal lawyer e se dispõe a cuidar da saúde jurídica de pessoas físicas, um trabalho que pode incluir desde a atualização do passaporte ou acerto dos direitos da empregada até a compra de um imóvel ou testamento. Ultrapassa, portanto, a assessoria tradicional de advogados e contadores. “Dou atendimento integral. Mantenho toda a documentação em dia para que a pessoa não tenha de se preocupar com nada”, explica ela.

Há personals bem mais divertidos. Guilherme Pimentel, 27 anos, por exemplo, é professor de tango, mas tem uma forma pouco ortodoxa de dar aulas. Está sempre disponível para suas alunas. “Ele é mais que um professor particular. Fazemos aula em minha casa nas horas mais loucas. Ele me atende quando tenho uma brecha no trabalho”, explica a executiva Beatriz Fortes, 48 anos. Esse foi o jeito encontrado por Beatriz para encaixar sua paixão por tango na agenda abarrotada de compromissos.

Os pioneiros personal trainers não saíram de moda e andam cada vez mais especializados. Agora levam seus clientes para malhar na academia. Antenados às necessidades dos clientes, André Galvão (que cuida das curvas de Cláudia Raia) e Daisy Pinheiro abriram o Personal Wellness Center. Num estúdio de 150 metros quadrados, os interessados em entrar na linha formam grupos de três, recebem a dedicação total de um professor de ginástica e de quebra ganham a orientação de uma nutricionista. A mensalidade é de R$ 400. O serviço é ideal para quem não pode se dar ao luxo de ter uma academia em casa e não deseja dividir o espaço na academia com um pelotão de Barbies e Kens.

Os personal stylists ou assessores de estilo, que orientam famosos e anônimos endinheirados a se vestir ou mudar radicalmente o visual, também são muito requisitados. Afinal um figurino mal ajambrado pode pôr a perder as horas suarentas gastas em busca de um corpo definido. Na verdade, não são apenas os cultuadores da beleza que apelam para uma orientação de moda e estilo. A clientela AA deste tipo de profissional inclui, além de artistas, executivos, políticos e empresários. É bom saber que nem sempre ter um personal stylist é sinônimo de mau gosto ou falta de cultura. O presidente Fernando Henrique Cardoso, vaidoso e erudito, tem um: o paulistano Cláudio Vaz, 37 anos, que só não mete o bedelho na escolha de suas meias e roupas íntimas.