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VIGIADA
Ana Paula Maciel estava presa até na audiência com o juiz. Ela e outras
29 pessoas protestavam contra a exploração de petróleo no Ártico
 

Na casa da família Maciel, em Porto Alegre, as noites não são mais as mesmas desde a madrugada da quarta-feira 2, quando o telefone tocou. A matriarca, Rosangela, atendeu a ligação e soube que sua caçula, Ana Paula Maciel, 31 anos, que é ativista do Greenpeace e está em prisão preventiva na Rússia desde 19 de setembro, fora acusada formalmente de pirataria. Isso significa que, se condenada, poderá pegar pena de até 15 anos de reclusão, assim como outros 29 colegas. Todos eles, integrantes da ONG mundial que promove campanhas e atos para a preservação do meio ambiente, estão sendo investigados. Eles participaram de um protesto contra a exploração de petróleo no Ártico. Pirataria é o crime mais severo no qual eles poderiam ser enquadrados.

Por enquanto, não é possível saber se a brasileira conseguirá, pelo menos, aguardar a investigação em liberdade. O Greenpeace tenta reverter a situação com o apoio do Ministério das Relações Exteriores, que acompanha o caso. A família considera que o Itamaraty tem feito o possível e apela, agora, à presidenta Dilma Rousseff para conseguir, pelo menos, que ela possa falar por telefone com os pais. “É uma acusação absurda. Eles não são piratas. Os ativistas estavam enjaulados até na audiência com o juiz”, diz o advogado Sérgio Leitão, diretor de políticas públicas do Greenpeace Brasil. “Isso é ultrajante e representa um ataque ao direito fundamental de protesto pacífico”, afirmou, em nota, Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace Internacional. O próprio presidente russo, Vladimir Putin, já negou que os ativistas sejam piratas. O grupo estava no navio quebra-gelo da organização, o Arctic Sunrise, e alguns tentaram escalar a plataforma de petróleo da empresa Gazprom para exibir uma faixa de protesto. Na sexta-feira 4, o governo da Holanda, onde fica a sede do Greenpeace, decidiu brigar pelo grupo. Deu início a um processo de arbitragem contra a Rússia com base na convenção da ONU sobre o direito ao mar. Os russos terão de explicar em tribunal internacional.

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No Brasil, a família de Ana teme por seu futuro, mas elogia seu ativismo ecológico. “Sinto muito orgulho”, diz a mãe, Rosangela. Como marinheira do Greenpeace desde 2006, ela defendeu causas em todos os navios da organização, um dos trabalhos mais complexos da ONG. Estudiosa, aprendeu inglês sozinha, gosta muito de ler e detesta frio. “Se pudesse, escolheria só locais ensolarados, mas embarca sempre para defender uma bandeira, não importa onde seja”, afirma a mãe.