Das técnicas arquivistas, a fotografia é a maior delas. “Pelo fato de a câmera ser literalmente uma máquina de arquivamento, toda fotografia e todo filme são a priori um objeto arquivístico”, afirma o crítico e curador Okwui Enwezor no catálogo da exposição “Arquive Fever”, realizada no International Center of Photography, em Nova York, em 2007. Já Ricardo Resende, curador da Foto Bienal Masp 2013, afirma na primeira linha de seu texto curatorial que “a fotografia é um relato lírico”, construído como “um diário visual que toma a forma de uma crônica, conforme o fotógrafo acumula suas imagens no tempo”.

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PARALELOS
Pinturas de Dora Longo Bahia da série "Farsa – Goya" alinham um fuzilamento
retratado por Goya em 1808 e outro fotografado em 1979

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O artista ou curador que trabalha hoje com fotografia, invariavelmente, se depara com essa “crise de identidade” do meio. O que é a fotografia? Crônica, documento, prova de veracidade, farsa, invenção ou apagamento da memória para a construção de novas realidades? Essa dúvida regeu a curadoria de Ricardo Resende na nova bienal de fotografia do Masp e cada um dos 35 artistas escolhidos expõe à sua maneira essa tensão entre documentação e construção.

O trabalho de Dora Longo Bahia reflete essa identidade múltipla da fotografia contemporânea, ao ser construído em camadas de referências ao fotojornalismo e à pintura histórica. Nas obras da série “Farsa – Goya” (2013), ela pinta a partir de apropriações de reproduções de uma pintura de Goya e de uma fotografia de fuzilamento em guerra do final dos anos 1970. Ao aproximar essas temporalidades, a artista estrutura seu discurso sobre a continuidade da violência, da sociedade moderna à contemporânea.

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MENINAS NO MUNDO
Fotografia de Rochelle Costi intitulada "Coleção Grandes Obras I",
exposta na galeria Luciana Brito

Outro trabalho da Bienal que evoca as relações da fotografia com a informação e o relato histórico é a instalação “Tombo” (2012), concebida por Rochelle Costi com negativos do acervo de fotografia do Museu da Cidade de São Paulo. A alusão ao grande arquivo universal formado pela história da arte e da fotografia também é o mote da exposição individual de Rochelle Costi, em cartaz na galeria Luciana Brito, também com curadoria de Resende. A instalação “O Tempo Todo” aproxima fotografias de várias fases de seu trabalho, numa disposição que tende a conformar uma narrativa histórica da própria obra da artista.