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“O PMDB já falou muito e mantém sua posição: cabe ao PMDB indicar o vice” Michel Temer, presidente da Câmara

Política é como um jogo de xadrez. Não existem movimentos ou declarações em vão. As peças do tabuleiro são acomodadas quase sempre de olho num objetivo mais adiante. É como um verdadeiro enxadrista que o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), tem se comportado e irá se movimentar até junho de 2010, quando os candidatos ao Palácio do Planalto terão que ser oficializados em convenção.Temer representa um partido dono de sete assentos na Esplanada dos Ministérios. Mesmo assim, ele cumpre a tradição do PMDB de não correr risco de ficar fora do poder depois das eleições presidenciais do próximo ano. Ao se aproximar do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, reeleito presidente do PMDB paulista, Temer põe um pé na canoa da candidatura de José Serra (PSDB) à Presidência. E acena ao governo que a aliança com o PMDB não é tão favas contadas quanto parece. Ao mesmo tempo, o parlamentar trabalha intensamente nos bastidores para emplacar um nome do partido para a vaga de vice na chapa da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Mas desde que este nome seja o dele próprio.Temer só não contava com a intempestiva reação pública do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em evento em São Luís, na quarta-feira10, Lula disse que o PMDB deveria apresentar uma lista tríplice para Dilma e não o partido indicar o vice de sua preferência. Neste caso, quem atuou como um jogador de xadrez foi Lula. A declaração do presidente, conforme apurou ISTOÉ, foi combinada com Dilma e sua equipe de campanha no dia anterior. Ninguém admite publicamente, mas Lula e aliados da pré-candidata do PT temem que a indicação de Temer, citado na lista da Camargo Corrêa e na gravação do escândalo do mensalão de Arruda, possa se transformar num telhado de vidro para Dilma. Os petistas dizem preferir para vice o presidente do Banco Central, recém-filiado ao PMDB, Henrique Meirelles, ou até mesmo o deputado Ciro Gomes (PSB-CE). O problema é que, ato contínuo à declaração de Lula, quem reagiu, e com contundência, foi a ala do PMDB ligada a Temer. Em público, o grupo reverberara o que o presidente da Câmara, até então, dizia intramuros. Ou seja, que o PMDB só aprova a aliança com o PT na convenção do partido se Temer for o escolhido para compor a chapa. “A chance de Michel não ser o vice é a mesma de a Dilma não ser a candidata.

Só se acontecer uma hecatombe”, disse o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), porta-voz da fúria do PMDB diante da proposta da lista tríplice. “Foi uma proposta mais que indecente”, disse Alves numa conversa reservada com parlamentares do partido. Diante do mal-estar, não restou outra alternativa ao PT senão entrar em campo para tentar aparar as arestas. Os ministros Franklin Martins, da Comunicação Social, e Alexandre Padilha, de Relações Institucionais, telefonaram para Temer. Argumentaram que Lula fez um gesto para agradar alguns setores do PT, mas que não haveria veto ao nome dele. Temer não acreditou. “Estamos indignados mesmo. Prefiro que me critiquem pessoalmente e me elogiem em público do que o inverso”, disse Temer a Franklin. Em seguida, combinou com Alves um pedido de retratação pública de Lula. Até a quarta-feira 16, o presidente não havia conversado com o aliado. Mas escalou Dilma para jogar um balde  de água fria na polêmica. Em telefonema a Temer, Dilma falou da importância da aliança com o PMDB e minimizou as declarações do presidente no Maranhão. No fim da semana, os ânimos pareciam menos exaltados. “Estão se acalmando. O que o presidente reafirmou foi o papel importante do PMDB na coalizão”, disse o ministro Padilha.

Temer, no entanto, manteve o discurso. “O PMDB já falou muito e mantém a mesma posição: cabe ao PMDB indicar o nome.” Apesar das palavras duras proferidas de lado a lado nos últimos dias, ninguém ousa falar em rompimento. Há mais jogo de cena e tentativa de marcar posições de olho em 2010 do que uma briga de fato. A questão é que os últimos acontecimentos podem servir de pretexto para o grupo de Temer trair Dilma mais adiante, dependendo da conveniência eleitoral. Além do episódio da lista tríplice, Temer fez questão de manifestar, nos últimos dias, sua contrariedade com o fato de ninguém de peso do governo ter ligado para ele para prestar solidariedade diante de matérias negativas na imprensa envolvendo seu nome. Em compensação, ligaram para ele José Serra e Aécio Neves, governador de Minas. Segundo um parlamentar influente no PMDB ouvido por ISTOÉ , dependendo do que acontecer até meados de maio do próximo ano, Dilma pode muito bem ser abandonada pelo partido, como fora Ulysses Guimarães em 1989.

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FOGO AMIGO Com o apoio de Temer, o serrista Quércia é eleito presidente do PMDB-SP

“É uma ilusão achar que o PMDB vai ficar livre se não apoiar Dilma. Se não apoiar Dilma, podemos muito bem formalizar aliança com o PSDB”, disse o parlamentar. “Se o candidato fosse Aécio então, o PMDB ia de graça, sem cobrar nada”, acrescentou a mesma fonte. Além de Quércia, quem pode ajudar a fazer a ponte entre o PMDB e a candidatura tucana é o governador do Paraná, Roberto Requião. Embora esteja mais alinhado com Lula, Requião articula, com o aval de Quércia, a candidatura própria do partido à Presidência. Seu real objetivo, no entanto, é outro. A intenção é dividir ainda mais a convenção do PMDB em junho. E, se for o caso, vender caro os votos em favor de Serra ou Dilma.