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ILUMINADA
Sede da Petrobras, no Rio. olho grande Sob Obama, a NSA bisbilhotou a
Petrobras de olho no leilão de Libra, cuja estimativa é de 12 bilhões de barris

Desde que foi criada em 1953, a Petrobras é alvo da espionagem americana. O primeiro caso notório foi o do geólogo americano Walter Link, contratado para fazer um levantamento de potenciais reservas em território brasileiro e que, depois, entregou cópia de seu relatório à gigante americana Standard Oil. No fim dos anos 60, nova ameaça: um navio sem bandeira, mas com tripulação americana, foi flagrado na costa do Brasil fazendo um levantamento sísmico das bacias marítimas. Recentemente, o furto de computadores com informações estratégicas reforçou o histórico de cobiça aos segredos da estatal. Não seria difícil prever que, se a NSA (Agência de Segurança Nacional americana) bisbilhotou as conversas da presidenta Dilma Rousseff, faria o mesmo com a Petrobras.

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A revelação do ato de espionagem acendeu a luz vermelha no Palácio do Planalto. Dilma ligou para a presidenta da Petrobras, Graça Foster, que convocou reunião de emergência com a equipe de tecnologia de informação. O diagnóstico preliminar não foi conclusivo sobre o ataque, mas os técnicos apontaram o sistema de informática administrativo como o mais vulnerável. Caso tenha conseguido acessá-lo, a NSA pode ter coletado informações financeiras, de fornecedores e de clientes da empresa. “A partir daí, basta grampear os números dos telefones e monitorar”, avalia um oficial da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que já colaborou com a Petrobras e pediu anonimato.

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OS SEGREDOS
O ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli
alerta: “O que se quer não são os componentes,
mas as soluções tecnológicas”

O ataque foi considerado grave tanto do ponto de vista político como econômico, justamente por lançar suspeitas sobre operações importantes como o leilão de Libra – cuja estimativa é de 12 bilhões de barris ou US$ 1,5 trilhão. Ao todo, o pré-sal pode ter até 100 bilhões de barris, segundo cálculos da Petrobras. Para Dilma e Graça Foster, o caso desmontou a versão oficial da Casa Branca de que a espionagem teria objetivo restrito de combate ao terrorismo. Em nota oficial, Dilma alertou para os “interesses econômicos e estratégicos” por trás das atividades da NSA e voltou a cobrar publicamente esclarecimentos da Casa Branca sobre as violações.

Desde a descoberta do pré-sal em 2007, o interesse internacional sobre a exploração no País só cresceu. De lá para cá, a tentativa de se obter dados sísmicos ou da tecnologia de exploração em águas profundas, desenvolvida pela Petrobras, passou a guiar as ações da espionagem estrangeira. O professor de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Williams Gonçalves alerta que o Brasil, com o pré-sal, entrou no mapa geopolítico do petróleo. O risco inerente a essa posição estratégica é óbvio. “A maioria das guerras tem sido travada por disputas territoriais ou por fontes de energia”, afirma. Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, lembra que os americanos estão interessados em explorar melhor as reservas na costa da África, no México e em seu próprio país. “O segredo mais importante da Petrobras é sua tecnologia. Ela pode ser usada em todo lugar do mundo”, ressalta Pires. O diretor da Coppe/UFRJ, o físico Luiz Pinguelli Rosa, concorda: “A Petrobras conseguiu desenvolver modelos geológicos que permitem viabilizar a exploração com maior eficiência e custos mais baixos. Esses são os dados mais valiosos”, explica.

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 Sinais desse novo e perverso cenário começaram a surgir há cinco anos, com casos de furtos de computadores da empresa, muitas vezes classificados de crimes comuns como estratégia para abafar o tema. A Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet) revela que, num seminário interno realizado no hotel Glória, na zona sul do Rio de Janeiro, em 2007, dois laptops com dados sobre os campos de Júpiter e Tupi, ambos na região do pré-sal, desapareceram de um auditório, enquanto os participantes estavam almoçando. O fato nunca foi esclarecido e a estatal preferiu não dar publicidade ao caso. Na mesma época, geólogos da Petrobras que moram em Macaé, no litoral norte fluminense, sofreram misteriosos assaltos em que os bandidos só levaram seus computadores.

O então superintendente da Polícia Federal no Rio, Valdinho Jacinto Caetano, requereu vários inquéritos da Polícia Civil para a alçada federal, por suspeita de espionagem. Não há informações sobre o resultado do levantamento. O episódio do furto de quatro laptops e um disco rígido, em 2008, também ganhou da PF a chancela de “crime comum”. Um delegado próximo às investigações relata que houve pressão da Petrobras para abafar o caso, que inicialmente foi classificado como “espionagem” pelo próprio presidente Lula. O então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, garantiu que tudo foi esclarecido. Para ele, roubar computador para obter informações “é irracional”. “O que se quer não são os componentes, mas as soluções tecnológicas”, alertou.