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Ele não usa o koffia (lenço palestino) na cabeça, não se veste com a tradicional farda verde e é um dos poucos palestinos que estudaram a história de Israel. “Ele também nunca carregou uma arma em sua vida, nunca ganhou uma batalha e nunca foi candidato eleitoral”, afirmou o analista palestino Mahdi Hamdi. Apesar de ter anunciado em campanha que seguirá os passos do carismático Yasser Arafat – símbolo da resistência palestina e primeiro presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), morto em 11 de novembro de 2004 –, Mahmud Abbas ou Abu Mazen, como é conhecido,
está distante do perfil do líder que irá substituir na presidência da ANP. A moderação e o pragmatismo foram as virtudes que deram a vitória no domingo 9 ao candidato do movimento Al-Fatah, a facção mais importante da Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Mazen, 69 anos, levou 62,3% dos votos, contra 19,8% de seu principal rival, o médico independente Mustafah Bargouti, porque os palestinos apostam em sua capacidade de negociar.

Representante dos palestinos no acordo de Oslo, foi ele quem assinou os documentos na Casa Branca, no histórico 13 de setembro de 1993. E, desde então, vem ganhando também a confiança dos Estados Unidos e de Israel, não apenas por ser um talentoso negociador, mas principalmente por suas frequentes críticas à segunda intifada (levante palestino contra a ocupação israelense em Gaza e na Cisjordânia iniciada em 2000). “Um homem moderado foi eleito, um homem inteligente, experiente. Vamos dar a ele uma chance… Existe uma nova e legítima cúpula palestina, cujos líderes definitivamente são contra o terror e a guerra”, afirmou Shimon Peres, o segundo homem do governo israelense.

Desafios – “Mas ele será julgado por seus atos depois das eleições, pela maneira como combaterá o terrorismo e desmantelará suas infra-estruturas”, completou o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon. Mazen está assumindo a presidência
da Autoridade Palestina devastada pela corrupção, ineficácia e nepotismo. Aliás, foram esses os motivos pelos quais ele próprio renunciou ao cargo de primeiro-ministro em 2003. O presidente eleito está ciente de seus inúmeros desafios: retomar as negociações com Israel, controlar a resistência armada, estabelecer
um Estado para os palestinos e recuperar uma economia hoje em frangalhos.
“Existe pela frente a difícil missão de construir nosso Estado, de alcançar segurança para nossa população, libertar nossos prisioneiros e dar aos nossos exilados
uma vida digna”, afirmou ele a seus eleitores. A reforma dos serviços de segurança, com excesso de funcionários da velha guarda apadrinhados por Arafat, é o seu primeiro desafio doméstico.

A tarefa mais difícil e esperada será conter a violência da resistência armada. Segundo fonte da ISTOÉ, prosseguem as negociações com as Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, adeptos da Fatah que se recusam a entregar as armas. É bem verdade que a maior parte dos palestinos não é composta por fundamentalistas islâmicos, mas tanto o Hamas quanto a Jihad Islâmica, que boicotaram as eleições, ganharam força nos últimos quatro anos com a ausência de uma política mais eficaz por parte da ANP. Mazen teve seu primeiro teste durante a campanha: pediu uma trégua, mas ela não foi respeitada, apesar de líderes extremistas como Hassan Yousef, do Hamas, terem enviado cumprimentos por sua vitória. Portanto, será espinhosa a missão de convencer os radicais a abandonar os ataques contra os israelenses. “Estamos dispostos a tomar qualquer atitude que alivie o sofrimento
do nosso povo. Se Mazen vier até nós e disser que tem outro caminho para acabar com a ocupação (israelense), vamos ver qual é. Mas trégua definitiva não, porque
a luta armada é sempre uma opção que precisamos manter”, disse Khaled Al-Batsh, do Jihad Islâmico. Um acordo com esses grupos poderia implicar a divisão de
poder com eles na ANP.

No cenário internacional, tudo vai depender da pressão que os EUA e os outros promotores do plano “mapa da estrada” (que prevê um Estado palestino e é apoiado pela União Européia e pela Rússia) fizerem sob Mazen e Sharon. O presidente George W. Bush telefonou a Mazen dizendo estar “ansioso” para trabalhar com ele. Mas, como todo mundo sabe, o conflito entre Israel e os palestinos ainda não está nas prioridades da Casa Branca.