Para os interessados em dar seus primeiros passos no setor, produzimos um vídeo com a receita passo a passo de um dos tipos mais cultuados pelos apreciadores da bebida. Confira:

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Durante quase um ano, Jorge Mario da Silva, 43 anos, mais conhecido como Seu Jorge, músico e ator, dividiu seu tempo entre ensaios, shows e gravações com a experimentação de novos sabores de cerveja. A ideia surgiu num momento de lazer, enquanto bebia com os amigos Dinho Diniz e Otavio Veiga. Na falta de um produto de qualidade disponível no mercado, decidiram criar sua própria bebida. O resultado foi a Karavelle, relançada em 2013 com cinco sabores diferentes, para agradar a pessoas que, como eles, querem mais do que uma latinha gelada. “Isso não significa que esse público seja apenas da classe AAA à B”, diz Seu Jorge. “Queremos converter os consumidores acostumados a marcas massificadas e levá-los a conhecer as artesanais.” Donos de uma fábrica em Indaiatuba, a 90 km da capital paulista, capaz de produzir 100 mil litros por mês, os sócios investiram numa frota própria e utilizam os centros de distribuição de grandes supermercados para levar o produto aos consumidores. Embora representem apenas 0,15% do mercado nacional, as artesanais têm sustentado um crescimento que dobra a cada ano, e a expectativa do setor é que respondam por 2% do negócio de cerveja no País em até uma década.

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ALÉM DA FÁBRICA
Da esq. para a dir., Dinho Diniz, Seu Jorge e Otavio Veiga,
sócios da Karavelle, vão abrir um bar em São Paulo

Cardápios com apenas três ou quatro opções do mesmo tipo (provavelmente pilsen, a “loira gelada” preferencial dos brasileiros) e prateleiras de supermercado preenchidas com embalagens e conteúdos parecidos, muitas vezes vindos da mesma fábrica, estão com os dias contados no País. O processo é semelhante ao que aconteceu nos Estados Unidos no início dos anos 1990. À época, as pilsens reinavam absolutas em território americano. “É algo que não tem aroma, cor ou sabor e o jeito de tomar é estupidamente gelado”, diz Eduardo Bier, fundador da Dado Bier, de Porto Alegre. “Até que nasceu um movimento que basicamente propunha o contrário disso: sabor.” A ideia pegou e, passados 20 anos, as microcervejarias americanas respondem por mais de 100 mil empregos no país, 6,5% do mercado em volume e 10,2% em faturamento (leia quadro). Nos EUA, só no ano passado foram abertos 409 negócios relacionados às cervejas artesanais. No Brasil, terceiro maior consumidor de cerveja do mundo, estima-se que existam mais de 200 microcervejarias. O potencial de expansão é, portanto, enorme. Nesta semana, o empresário Sandro Gomes vai lançar em São Paulo e no Rio de Janeiro a cerveja Biritis, em homenagem ao pai, o humorista Antonio Carlos Bernardes Gomes, eternizado pelo personagem Mussum, do quarteto Os Trapalhões. A cerveja terá um ponto de venda especial na quadra da escola de samba Mangueira e os planos incluem a expansão da distribuição para outros Estados, com produção de 50 mil litros nos primeiros seis meses de operação.

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PARA GRINGO VER
De olho na demanda que vem até de fora do Brasil, os irmãos Tiago (em pé)
e José Felipe Carneiro, da Wäls, investiram mais R$ 20 milhões

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Pioneiro no setor, Eduardo Bier, de 47 anos, começou em 1995. “Lancei uma cerveja de trigo turva, bem densa, e depois uma vermelha”, afirma. “Eu explicava as diferenças, mas ou as pessoas se apaixonavam ou achavam descabido.” Hoje, segundo ele, tudo mudou. A renda cresceu junto com o poder de consumo, os brasileiros viajaram mais para o Exterior, onde puderam conhecer novos tipos de cerveja, e a moeda forte favoreceu a entrada de produtos importados. “Os brasileiros estão mais abertos a experimentar novos sabores”, diz Bier. Em julho, a Dado Bier colocou no mercado, em parceria com a Kopenhagen, a Double Chocolate Stout, produzida com chocolate 70% cacau e com 10,5% de teor alcoólico – mais que o dobro da cerveja mais vendida no País. Uma ousadia impensável há poucos anos. Com uma fábrica em Santa Maria, a cerca de 300 km da capital gaúcha, e uma rede de cinco restaurantes, Bier investiu, em 2012, R$ 1,2 milhão na ampliação de sua adega e, quando não consegue atender a demanda, fecha parcerias com outras fábricas. A projeção para este ano é crescer 20%.

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Na Wäls, de Belo Horizonte, a produção de cervejas começou em 2008, quase dez anos depois do início da fabricação própria de chopes para a rede de lanchonetes da família. “No começo, até tentamos introduzir as cervejas, mas não houve aceitação”, diz Tiago Carneiro, 30 anos, engenheiro de alimentos e sócio da cervejaria. “A mudança de hábito que se vê hoje é um caminho sem volta”, afirma. A fábrica recém-reformada tem capacidade para produzir 80 mil litros por mês, mas de seus tanques saem apenas 30 mil litros no período, porque suas cervejas levam de dois a três meses para ficarem prontas – em geral, o processo demora um mês. Confiantes na sofisticação do paladar dos brasileiros e na curiosidade que o País desperta nos consumidores estrangeiros, Tiago e o irmão cervejeiro, José Felipe, estão investindo R$ 20 milhões numa adega com bar, a ser inaugurada em dois meses, na ampliação da fábrica de Belo Horizonte e numa nova planta em Araxá, no interior de Minas Gerais, com espaço para visitação, eventos e bar. Com isso, a expectativa até 2015 é ampliar em dez vezes a produção e exportar até 20% desse volume. Para 2013, eles esperam que o faturamento cresça entre 25% e 30% e chegue a R$ 12 milhões no acumulado do ano.

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PIONEIRO
Para Eduardo Bier, dono da Dado Bier, que aposta
nas artesanais há 18 anos, tudo mudou:
"Os brasileiros estão mais abertos
a experimentar novos sabores"

A estratégia de criar um bar próprio para divulgar o conceito e ajudar na construção da marca é repetida por outras empresas. Sua origem é alemã e permite que a bebida seja servida na temperatura ideal dentro do copo certo e seja harmonizada com um prato. A Karavelle, por exemplo, deve inaugurar até o fim do ano um ponto de venda nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. A 320 km dali, em Ribeirão Preto, um dos maiores polos cervejeiros do País, a Walfänger colocou R$ 1 milhão em equipamentos para abrir um bar com fábrica, onde serão produzidos dez mil litros por mês a partir de fevereiro. Fundada por Caio Balieiro, de 25 anos, e o pai, Augusto César, a microcervejaria começou a ser pensada há três anos. Mas só em junho, num laboratório com capacidade de armazenamento de 900 litros montado no sítio da família, é que terminou o desenvolvimento da primeira cerveja da marca, seguindo estritamente a Lei de Pureza da Baviera. De acordo com a regulamentação, datada de 1516, só são permitidos cevada, lúpulo, água e fermento durante a produção da bebida. Admitindo qualquer acrobacia em busca de aroma e sabor, no entanto, outras cervejarias rejeitam a lei germânica e seguem a escola belga, mais elástica, e incorporam ingredientes como casca de laranja, pimenta-da-jamaica, alfarroba, rapadura e mandioca em busca de uma identidade nacional.

Nos supermercados do Grupo Pão de Açúcar, maior varejista de cervejas especiais, as vendas crescem 80% ao ano. O aumento da demanda, da variedade dos rótulos e da pressão dos próprios lojistas levou a rede a criar um cargo específico em 2010. Depois de passar por cursos na Inglaterra, Alemanha e Rússia, Robson Grespan, comprador de cervejas especiais do Pão de Açúcar, realiza treinamentos para funcionários em várias cidades, com o objetivo de divulgar a cultura cervejeira e explicar suas características, como já é feito com vinhos e queijos nobres. Hoje, são 150 rótulos no catálogo. Os preços, porém, ainda atrapalham a popularização. Os empresários calculam que as artesanais brasileiras sejam, em média, três vezes mais caras que as industriais – algumas ultrapassam os três dígitos –, enquanto, nos EUA, a diferença de preço é de 50%. A explicação está nos custos da fabricação em pequena escala e da matéria-prima, quase toda importada, e nos impostos. Como a carga tributária incide diretamente sobre o preço final, muitas vezes mais da metade do que o cliente paga é imposto. Dói no bolso, mas o lema aqui é outro: “Beba menos, beba melhor.”

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