Na China, há mais de três mil anos a fitoterapia (medicina baseada no uso das plantas) representa 70% dos tratamentos médicos tradicionais. Os outros 30% estão divididos entre a acupuntura e a prática de artes marciais. Agora, parte desses remédios à base de ervas começa a se tornar disponível no Brasil. Já estão por aqui 50 das 279 fórmulas magistrais (combinações de ervas chinesas) que compõem o tratamento fitoterápico utilizado na China. As fórmulas estão sendo comercializadas pelo laboratório paulista Aprofarma em forma de extratos secos encapsulados. Segundo a tradição, grandes médicos ao longo da história chinesa formularam essas combinações com o intuito de aumentar a resistência física, prevenir doenças e promover longevidade.

O princípio básico do tratamento chinês utilizando fórmulas à base de ervas é tratar o corpo humano como um todo e não apenas as doenças isoladas. Isso porque na medicina chinesa as doenças são vistas como um desequilíbrio energético do corpo e o tratamento tem como objetivo reequilibrar essa energia. O diagnóstico é feito a partir de uma análise da língua (cor, textura e aspecto) e do pulso (ritmo e profundidade) do paciente. "De acordo com a gravidade do caso, o paciente poderá tomar de três a seis cápsulas por dia", explica o cardiologista e fitoterapeuta Lo Der Cheng, representante do laboratório.

Apesar de cada erva possuir uma propriedade específica, o que se usa no tratamento é uma combinação de várias delas em fórmulas que prometem desde abrir o apetite até auxiliar na prevenção da arteriosclerose. Uma das ervas mais procuradas na medicina chinesa e que está disponível no Brasil é o reish, conhecido como cogumelo do imperador. Durante a dinastia Ming (1368-1644) foi de uso exclusivo do imperador, que buscava longevidade. E, ao que parece, o monarca estava certo. De acordo com o médico, seus principais constituintes são os polissacarídeos, triterpenos e ácidos ganodéricos, substâncias que estimulariam o sistema de defesa do corpo e ajudariam inclusive a combater tumores.

E nesse aspecto, a ciência ocidental vem comprovando de fato a eficácia de algumas dessas ervas. Um estudo da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, por exemplo, mostrou que uma mistura de oito plantas chinesas se mostrou eficaz em casos de câncer de próstata avançado. A pesquisa foi feita com 61 pacientes, que tomaram diariamente nove cápsulas da mistura diariamente por cerca de oito meses. Após esse período, o que se verificou foi uma queda significativa nos níveis de PSA (antígeno específico da próstata), substância que funciona como um termômetro indicador da força do tumor. Outra pesquisa, realizada na Universidade de Stanford, também nos Estados Unidos, e apresentada recentemente no encontro anual da Associação Americana de Pulmão, constatou que um componente químico extraído da erva chinesa Tripterygium wilfordii contribui para a destruição de câncer de pulmão.

O que se costuma louvar na fitoterapia chinesa, no entanto, é a ausência (ou quase) de efeitos colaterais. Embora a alopatia aja mais rapidamente sobre o foco da doença, é comum, por exemplo, um remédio tirar a dor de cabeça, mas provocar uma terrível dor de estômago. Na fitoterapia chinesa isso raramente acontece. Por isso, a prática vem ganhando cada vez mais interesse. "Ao que tudo indica, dentro de alguns anos a medicina alopática, a homeopática e a fitoterapia chinesa estarão trabalhando em conjunto", projeta Carlos Rojas, professor do Instituto Brasileiro de Estudos de Homeopatia (Ibehe).

Na prática, os resultados são animadores. Há mais de um ano o aposentado Roberto Afonso, 68 anos, sofreu um acidente vascular cerebral e era obrigado a manter a pressão arterial sob controle com a ajuda de drogas alopáticas. Há cinco meses, descobriu as fórmulas chinesas com a ajuda da sogra Tukia Hide, que já tratava dos problemas de memória com as combinações. "Com as ervas chinesas mantenho minha pressão controlada. E elas funcionaram tão bem que hoje só me trato com elas", vibra. Há casos, no entanto, em que as fórmulas são ministradas em conjunto com remédios alopáticos, como prevê Rojas. A terapeuta Diva Ferreira procurou o tratamento por causa de problemas de pele. Ela tinha contraído uma micose em cima de uma dermatite (infecção da pele). "Tinha a pele em carne viva, do rosto até os seios", lembra. Para a cura do problema da terapeuta o que funcionou foi a associação das fórmulas magistrais com um antimicótico alopático. "Na primeira semana do tratamento minha pele já tinha melhorado. Em menos de um mês estava curada", conta.

Apesar de a chegada das ervas chinesas ao Brasil produzir histórias como essas, especialistas em outras técnicas da medicina oriental avaliam com cautela esse desembarque. O chefe da equipe de acupuntura da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Ysao Yamamura, por exemplo, garante que a fitoterapia chinesa tem grandes poderes, mas faz ressalvas. "Em seis meses as ervas costumam perder suas propriedades químicas. Portanto, o remédio deve ser tomado antes do término desse período. Se isso for feito, há grandes chances de sucesso", lembra Yamamura.