Freiras e padres não podem casar. São proibidos de ter filhos e de manter relações sexuais como qualquer mortal. Ao abraçar a vida religiosa, homens e mulheres assumem os compromissos do celibato e da castidade, indissociáveis do sacerdócio desde o século IV. Mas será que os votos são sempre respeitados? Há pouco mais de duas semanas, o padre Miguel Rivera Sánches Pardo abalou a opinião pública ao ser flagrado transando com a freira Marlene Quispe Tenorio na caçamba de uma caminhonete, em Callao, no Peru. Notícias como essa surgem com frequência, invariavelmente alçadas à condição de escândalo. Muito se especula sobre os desejos e as tentações dos cordeiros de Deus, sobre o que acontece nas celas de mosteiros e conventos quando a noite cai. Raramente os fatos são encarados com o olhar de quem vive o dilema entre o celibato imposto e os próprios sentimentos. Foi o que fez a maranhense Anna França. Destemida e temida por setores do clero, a ex-freira franciscana de 42 anos resolveu mostrar ao mundo que, ao contrário dos anjos, os religiosos têm sexo. No livro Outros hábitos (Editora Garamond), lançado este mês, Anna conta seu romance com Heloar (nome fictício), então madre superiora de um convento em Belo Horizonte. Não fosse o peculiar namoro entre duas religiosas, a obra seria apenas mais uma história de amor entre duas mulheres. Até os direitos autorais do livro foram comprados para virar peça de teatro. “Minha intenção não é chocar, mas apenas contar minha história”, diz Anna. Ela resolveu escrever após diagnosticar um câncer na mama e outro no útero, hoje controlados.

Atração – Anna decidiu seguir a vida religiosa quando era interna no Colégio Divina Pastora, mantido por freiras em São Luís do Maranhão, aos 16 anos. Na época, os votos de castidade e pobreza não incomodaram. Aos 20 anos, noviça no Rio de Janeiro, Anna começou a sentir uma estranha atração pelas colegas, mas, como aprendera desde cedo que sexo era pecado e homossexualismo sacrilégio, nunca comentou com ninguém. “Chegava a ficar 15 dias em total silêncio, afastada, para ver se aquilo passava”, lembra. Evidentemente, não passou. Mas ficou adormecido. Mais tarde, Heloar confessaria a ela o emprego de inibidores de libido, remédios misturados na comida das noviças sem que elas soubessem. Aos 24 anos, desencantada com o tratamento rude dispensado por sua madre superiora – que a discriminava por ser pobre e negra –, Anna aceitou o convite de Heloar, da ordem franciscana de Belo Horizonte, e mudou-se para lá. Desde o início, as duas ficaram amigas e logo começaram um namoro. O romance durou quatro anos. “Foi a época mais feliz de minha vida”, considera.

A ex-freira tem certeza de que as outras sabiam de seu relacionamento, da mesma forma como notava vários casais de namoradas nas instituições por onde passou. Nunca houve repreensão a elas, principalmente por dois motivos. “Heloar era a autoridade. Além disso, a família dela era riquíssima e fazia doações para a Ordem, que não ousaria se queixar de sua conduta”, conta Anna. O relacionamento só acabou quando a superiora foi transferida para a França. Pouco depois, a autora deixaria a Igreja. Hoje, sua luta “é contra a hipocrisia da instituição”. “As comunidades têm padres e freiras cada vez mais idosos. Daqui a pouco, desaparecem. A Igreja espanta devotos com suas políticas ultrapassadas”, acredita. “Todo mundo é resultado de uma relação sexual. O dia em que a Igreja descobrir que o gozo é divino vai cair em si.”

O romance de Anna ilustra um desvio de conduta presente no cotidiano da Igreja. Outros exemplos não faltam. Como trabalho de conclusão do curso de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas, Solange Celere apresentou, em 1997, a obra Doze apóstolos no confessionário, contando experiências sexuais e amorosas de sacerdotes. Para ela, investigar um assunto tão polêmico em uma instituição mantida pela Igreja constituía um grande desafio. Padres com vida sexual ativa, casados ou não, heterossexuais ou gays, formam o elenco de 12 religiosos que apresentam seus relatos na obra de Solange, ainda não publicada. Todos estão protegidos por nomes falsos, os mesmos dos apóstolos de Cristo. Um dos mais interessantes é Tiago, o primeiro personagem do livro. “Quando conheci Tiago, descobri que dentro de cada padre mora um homem como todos os outros. Não existe nenhum santo nos padres”, escreveu Solange.

Foram tantas as investidas da autora que padre Tiago cedeu a ela um de seus maiores tesouros: seu diário. Nele, podem ser lidas descrições detalhadas de inúmeros encontros amorosos, com todo tipo de mulher, em vários países (ler trechos no quadro acima). “Mas o fato de conhecer muitas mulheres em suas viagens e dormir com elas não impede Tiago de exercer trabalhos sociais importantíssimos nem de ser um teólogo maravilhoso”, conta Solange. Na hora de receber a confissão dos fiéis, o homem por trás de Tiago permanece coerente. “Pecado é rico pagar salário mínimo para o pobre e gastar o dobro em um sapato, desviar dinheiro público enquanto muitos morrem nos corredores dos hospitais porque a verba não chegou ao seu destino. Atender aos desejos de prazer não é pecado diante de tanta injustiça”, afirma.

 

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Seu comportamento sexual desregrado exige a presença de uma importante companheira, também abominada pela Igreja: a camisinha. Enquanto João Paulo II condena o uso do preservativo, o monsenhor Javier Barragán, presidente do Pontifício Conselho de Saúde, conta que está nos planos do Vaticano obrigar todos os aspirantes a seminaristas a fazer testes para detecção do HIV. Acusada a presença do vírus, o bispo poderá aceitar ou recusar a inscrição do candidato. “Promover exame não é discriminação, mas seleção. Nem todos estão aptos a virar sacerdotes”, disse Barragán em junho, representando o papa em reunião na CNBB.

 

Após 1800 anos de celibato, a existência de padres com vida dupla já faz parte do imaginário coletivo. Eles aparecem em clássicos da literatura como O crime do padre Amaro, de Eça de Queirós, e filmes como O padre, de Antonia Bird (ver quadro à pág. 60). Quando a paixão fala mais alto do que a vocação para o sacerdócio, é necessário abandonar as funções ministeriais e assumir o matrimônio, como fez o padre Mauro de Queiroz há quase três décadas. Com 68 anos, Queiroz lembra-se de quando conheceu Regina, 56, uma das fiéis de sua paróquia em São Paulo. “Ela me ajudou bastante quando eu passava por dificuldades financeiras. Como nunca achei certo cobrar por batizados, casamentos e funerais, vivia da ajuda dos paroquianos”, conta. Quando se envolveu com Regina, Queiroz já havia abandonado a batina. Para ele, é melhor assumir o matrimônio do que constituir família em uma cidade e ser vigário em outra, só para manter as aparências diante do bispo e dos paroquianos. O resultado foram três filhos.

Queiroz é um dos membros mais ativos do Movimento dos Padres Casados (MPC), entidade fundada no final dos anos 70, em que edita o Jornal Rumos. Registros divulgados pela Igreja mostram a existência de quatro mil padres casados no Brasil, mas estimativas feitas pelo MPC apontam o dobro. Os números surpreendem em um País onde o total de sacerdotes não chega a 14 mil. Depois de casados, eles continuam sendo chamados de padres – já que o sacerdócio é um compromisso irrevogável, assim como o casamento religioso –, mas perdem a licença para exercer atividades ministeriais da Igreja. “Gostaríamos que o clero reavaliasse a questão e permitisse o fim do celibato. Além disso, deveria ser legítima a ordenação de homens com esposa e família”, diz Queiroz. Mas nem todos os membros do Movimento sonham com a possibilidade de vestir novamente a batina. “De nada adiantaria reassumir o ministério em uma Igreja retrógrada como a atual. Nossa luta é ainda maior: queremos um diálogo com a alta hierarquia clerical e maior atuação junto ao povo”, completa.
Parecida com a de Queiroz é a luta de Frei Betto. “As vocações para o sacerdócio e para o celibato andam separadas. A Igreja erra ao exigir que elas andem juntas. As regras devem ser revistas e o celibato deve se tornar facultativo para os padres seculares”, diz. Betto é um frade dominicano e não seria afetado pela flexibilização do celibato. Os seculares estão diretamente ligados a uma diocese, a um bispo. Para os religiosos, como os frades e os monges, não existe nenhuma hipótese de se liberar o matrimônio, já que habitam os mosteiros de suas próprias congregações e sua dedicação à Igreja é sempre integral. Betto afirma ter vocação para o celibato, necessária a todo frei. “Nunca tive vontade de me casar. Já a castidade pesa como a tentação da infidelidade paira sobre um homem casado. Sinto-me tocado pela sexualidade feminina, mas não vou romper meus votos por causa disso. Eu apenas supero”, diz. Betto teve a maturidade de conhecer o amor antes de optar pela religião. “Tive uma adolescência muito solta. Quando entrei para a vida religiosa, era universitário e morava sozinho no Rio de Janeiro havia três anos. Não assumi o celibato virgem e cheio de dúvidas sobre o sexo como acontece com muitos”, admite.

A revisão de valores desejada por Frei Betto, no entanto, parece estar longe da pauta de discussões da alta hierarquia da Igreja. Para o monsenhor Arnaldo Beltrani, da Arquidiocese de São Paulo, esperar o fim do celibato é perda de tempo. “Há duas questões indiscutíveis no Vaticano: o matrimônio de sacerdotes e a ordenação de mulheres”, afirma. Uma das justificativas para a manutenção da norma é a dedicação a Deus. Setores da Igreja acreditam piamente que o padre não pode se dedicar simultaneamente a uma família e aos compromissos do sacerdócio. Na Idade Média, quando o celibato foi instituído, os motivos eram outros. “O clero não admitia ter de dividir os bens do religioso com sua família após a morte. Com o celibato, toda a herança do sacerdote vai para as mãos da Igreja”, explica Eduardo Cruz, professor de Teologia da PUC de São Paulo. “Além disso, o estereótipo oferecido por Cristo é decisivo para a ordenação dos sacerdotes da Igreja. Por isso o padre tem de ser do sexo masculino, celibatário e casto. O contraditório é que Jesus escolheu o apóstolo Pedro, um homem casado, para ser o primeiro papa”, diz.
Se um padre confessa a seu superior ter uma namorada, a primeira atitude é esconder o problema e esperar que a fidelidade a Deus supere os desvios mundanos. Quando isso não acontece, o padre é transferido de paróquia e até de cidade para que seu relacionamento termine antes de se tornar público. A Igreja parece evitar a todo custo uma atitude precipitada e raramente expulsa um sacerdote apenas pelo não-cumprimento do celibato, apesar de padre Vando, vigário da PUC de São Paulo, afastar qualquer hipótese de cumplicidade. “Na nossa paróquia, não há nenhum padre que não seja casto. Se a gente sabe de algum, manda voltar para casa imediatamente”, afirma.

 

 

A postura da Igreja costuma ser mais radical quando envolve homossexualismo, pecado considerado mais grave do que a quebra da castidade por setores mais tradicionais da Igreja. Eugênio Ibiapino foi obrigado a deixar o seminário. Motivo: ter assumido sua opção sexual. “Ser ordenado era um sonho de criança. Ele foi arrancado, amputado por uma Igreja preconceituosa, com discursos e sacerdotes cada vez mais homófobos”, revolta-se. Após viver entre religiosos desde os 16 anos, em seminários de Pernambuco e São Paulo, Ibiapino não conseguiu seguir o exemplo de muitos colegas e professores e esconder sua atração por outros homens. “Não dá para ser homossexual enrustido. Considero minha inclinação um dom divino, não punível pela lei nem pela Constituição”, diz.

 


 

Hoje, membro do Movimento 28 de junho (homenagem ao dia mundial do orgulho gay), Ibiapino lança-se candidato a vereador em Nova Iguaçu, na baixada fluminense. Em seu currículo, constam passagens polêmicas como celebrações de casamentos gays. “Como conhecia a liturgia, casais de amigos pediam para eu celebrar sua união. Fazíamos uma cerimônia simulando um casamento de verdade”, conta. Em 1994, quando João Paulo II visitou o País, Ibiapino juntou-se a outros militantes e atearam fogo em pôsteres do sumo pontífice em frente à igreja da Candelária, no Rio de Janeiro. “Ele é o papa mais conservador da História. Se o discurso da Igreja em relação aos homossexuais não mudar, a comunidade GLS será obrigada a tomar atitudes mais radicais, como denunciar os padres gays que se escondem sob o discurso moralista”, ameaça. Segundo ele, esses padres são muitos.

Perdas – O frei franciscano Fernando de Araújo, do Rio de Janeiro, lamenta o número de perdas sofridas pela Igreja por causa da velha teimosia. Muitos de seus colegas com vocação religiosa se apaixonaram durante o seminário. “Se a Igreja cedesse e deixasse de exigir o celibato, aumentaria o número de vocações”, acredita. “Todas as preferências sexuais existem dentro da Igreja. Os religiosos também são humanos e sentem atração por outras pessoas.” Ele ainda lembra que o culto à monogamia e a proibição do incesto são criações do homem. “Lei e desejo normalmente se opõem, criam conflito. E a proibição não funciona. O triângulo amoroso é muito mais constante do que se imagina. O amor verdadeiro deveria receber sempre a bênção de Deus.”

Outro frei franciscano, Inácio (nome fictício), acusa a Igreja de evitar a discussão da sexualidade como se fosse um avestruz, enfiando a cabeça na terra em vez de encarar a questão, por mais evidente que seja. O frade considera essa postura um dos maiores erros da instituição. “Quando um homem e uma mulher se encontram sexualmente, o céu bate palmas e o mar dança de alegria. Inventar que sexo é pecado contribuiu para gerar este mundo pornografizado”, avalia. Ele cita o livro Os clérigos, do padre alemão Eugen Drewermann, lançado em 1989. Nele, o autor afirma, baseado em dados de pesquisas internacionais, que um terço do clero vive em “situação matrimonial oculta”. Além disso, chama o celibato de “castração” e “violência”. Recebido como uma bomba pelo Vaticano, o livro provocou o afastamento do padre alemão. Frei Inácio vai mais longe. “Aqueles que não ousam descumprir o celibato – a maioria dos sacerdotes – se masturbam.”


Colaboraram: Marina Caruso e Valéria Propato

 

A história da moral

A imposição do celibato surgiu no ano 306, com abrangência restrita à Espanha, no Concílio de Elvira. O casamento foi proibido para todos os religiosos. Pouco depois, em 314, o sínodo de Ancira permitiu o casamento dos diáconos (clérigo que vem abaixo do padre), legítimo até hoje. Com o papado de Gregório VII, na segunda metade do século XI, as investidas da Igreja em favor do celibato radicalizaram-se. Gregório, moralista, repudiava envolvimentos afetivos de representantes do clero. A maioria dos papas seguintes reafirmou o celibato e, entre 1537 e 1563, durante o Concílio de Trento, o celibato se tornou obrigatório em todo o mundo.

A esperança estava no Concílio Ecumênico do Vaticano II. Sensibilizados pela Teologia da Libertação e pela onda de renovação que varreu a Igreja nos anos 60, muitos acreditavam na revogação do celibato, como Máximo IV, patriarca das igrejas do Oriente. Em carta para o papa Paulo VI, Máximo capitalizava as perdas iminentes. Muitos abandonaram o sacerdócio após o encerramento do Concílio, em 1965, desolados perante a postura irredutível de Paulo VI. Tão irredutível quanto parece ser João Paulo II.

 

 


Diário de um padre

 

 

Fui tecendo a cor dos olhos dela, daquela menina franzina que ontem mesmo veio me visitar. Ainda estava linda, a lindinha. Na saída, disse:
– Quero fazer amor com você. Voltarei outro dia.
– Estarei esperando, respondi.

“São uns filhos da puta. De dia, andam de colarinho puxando o saco do bispo. À noite, vivem dando o cu por aí. (…) Ai, esses monsenhores me fazem rir; gozar da cara deles. Se pudesse, gozava literalmente só para deixarem de ser falsos, mesquinhos. Sei de um que tem um filho de 19 anos e se finge de santo para todos. Família numa cidade e já é cônego de catedral em outra. E todo mundo sabe do seu caso. O bispo finge que não sabe. A Igreja finge que não vê. É mais cômodo para ela. Nenhum é santo. Ainda bem que a fé em Deus é maior e o povo é mais liberal do que esta Igreja de dogmas arcaicos.”

“Entre o amor e a liberdade, escolho sempre a liberdade.
As mulheres que amei nunca foram minhas; a não ser por algumas noites.
Entre o sacerdócio e o sexo, prefiro os dois.”

“Os cabelos longos enroscaram em minhas mãos durante o beijo do retorno. Nada importava. Deixamos que olhasse quem quisesse. No pequeno apartamento da estudante, naquela noite sem lua, nos amamos como antigamente.”

“É inevitável. Acho que é como nos quartéis militares. Uma infinidade de homens juntos, sempre tem que ter uma bichona. Nada contra os homossexuais. Apenas prefiro as mulheres! Alguns até procuram o sacerdócio para livrar-se do que é considerado pecado. A castidade funciona como forma de punição.”

“Elas são todas iguais na sua banalidade. Vêm e vão. Minha vida é um rodízio de mulheres. Solteiras, desquitadas, casadas, virgens, prostitutas, jovens, velhas, com ou sem filhos, bonitas e feinhas. Muito feias não!”

“Veio e pousou suas coxas sobre as minhas. Carência… será só carência? E o seu marido… seus filhos? Não importam. O tesão cega o homem. Conversamos e fomos a um distrito afastado.
Ela é ótima. Tem bom papo, é inteligente, gosta de livros, de cinema… Mas eu não posso. Não quero ficar apaixonado… de esperar o telefone tocar, de sentir aquelas coisas que levam à loucura, de querer tê-la por perto. Não! Decididamente não! É melhor cortar o mal pela raiz.”

“Sou mesmo um rebelde e um santo. Amo as mulheres e faço amor com elas. Amo o meu povo e rezo a missa com ele. Vivo para elas e para ele. Hoje é madrugada de domingo para segunda-feira e eu estou ótimo. Será que se não tivesse transado estaria tão bem? Acredito que não.”

 

 

Filhos perdidos

 

 

Existem na Itália clínicas-convento onde a Igreja trata seus filhos perdidos. Ali, o homossexualismo é considerado “uma inclinação moral desordenada” e “os sacerdotes em dificuldades” são atendidos pelos próprios colegas de batina. As causas da atração pelo mesmo sexo são atribuídas a “quadros psíquicos complexos” e, muitas vezes, a uma infância violenta. Os internos costumam sofrer de depressão, vergonha e culpa. Após a passagem pelo instituto-convento, muitos acabam retomando a missão pastoral. Outros são designados para trabalhos burocráticos dentro da Igreja ou a centros de assistência a idosos e doentes.
 

“O problema desses padres não está relacionado ao sacerdócio. A religião é impotente diante de um buraco existencial; são homens angustiados e frágeis”, afirma o diretor do Istituto Venturini, padre Franco Fornari. Ele esclarece que a tolerância da Igreja só existe porque os “padres em dificuldades” têm desejos, mas mantêm a castidade. Do contrário, seriam expulsos das hostes católicas. Eles contam também com a ajuda de psicólogos e médicos. O objetivo desses centros – que agem praticamente às escondidas – é ajudar os pacientes a “reconstruir-se como pessoas”. Oficialmente, no entanto, a Igreja trata o homossexualismo com punhos de ferro. Em agosto do ano passado, o cardeal Joseph Ratzinger, presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, com sede no Vaticano, suspendeu as atividades pastorais da freira Jannine Gramick e do padre Robert Nugent por estarem fugindo da cartilha católica. A dupla dava assistência pastoral a comunidades de gays e lésbicas de Washington e foi acusada de criar uma ambiguidade doutrinal ao permitir a crença entre os fiéis de que o homossexualismo é aceitável.

 

 

A arte do pecado

O padre – No filme de Antonia Bird, Gregg divide a paróquia com um colega que mantém um casamento escondido com a suposta governanta. Gregg passa a viver um romance com outro homem.

O nome da rosa – Umberto Eco narra a morte de sete monges beneditinos na Itália medieval. Adso, um jovem religioso, se apaixona por uma herege, queimada pela Inquisição.  

 Hilda Furacão – Rodrigo Santoro viveu o seminarista Malthus na minissérie de Glória Perez, na adaptação do romance de Roberto Drummond. Ele apaixona-se pela prostituta Hilda, interpretada por Ana Paula Arósio. 

 Crime do Padre Amaro – No livro de Eça de Queirós, Amaro torna-se padre por imposição de sua mãe adotiva. Passa a ser amante de Amélia, com quem tem um filho.

 Livrai-nos do mal

 Um relatório explosivo está fazendo tremer as gigantescas colunas da Catedrale di San Pietro, no Vaticano. O documento de três volumes, intitulado Pedofilia no Clero das Américas, contém o relato de 1.500 casos de pedofilia envolvendo sacerdotes e diáconos dos três continentes americanos. Um dos mais recentes ocorreu há um ano, num orfanato do México. O padre José Arruda, 34 anos, foi preso com fotos onde aparecia transando com crianças de até dois anos. O dossiê está sendo analisado pelo cardeal Joseph Ratzinger, presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, e também foi encaminhado às autoridades eclesiásticas americanas. Com os padres, a Igreja ainda não sabe o que fazer. Mas há informações de que estaria tratando de indenizar as famílias dos menores molestados. As poucas notícias veiculadas pelos jornais italianos chegam a afirmar que o banco da Santa Sé estaria gastando mais dinheiro defendendo-se de ações contra pedofilia na Justiça do que com a manutenção de suas igrejas.

Há cinco meses, a Associação de Psicólogos e Psiquiatras Católicos Italianos, dirigida pelo diácono Tonino Cantelmi, promoveu um seminário para discutir projetos de recuperação para “religiosos afetados pela pedofilia”. “Para os casos de puro sadismo, a única saída é a prisão. Mas a maioria vive um senso de culpa e pode ser ajudada. Eles encontram na relação com crianças um modo de reforçar a própria personalidade”, afirma Cantelmi. No dia 23 de maio, o papa João Paulo II comentou pela primeira vez o assunto durante a Conferência Episcopal Irlandesa. “O celibato é intocável e estamos próximos no sofrimento a todas as vítimas de abusos sexuais por parte de sacerdotes. Rezemos para que eles reconheçam a natureza perversa de suas ações e peçam perdão.”

 O poder e a glória – Na obra de Graham Greene, um padre deixa os EUA e parte para o México, onde revolucionários perseguem religiosos. O padre se entrega à bebida e às mulheres.

 

 

 


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