Nas salas de aula, os professores de ciência ensinam que Albert Einstein e Charles Darwin são gênios incontestáveis. Nada mais justo. O primeiro decifrou a expansão do universo, e o segundo escancarou o parentesco entre homens e macacos. Mas o caminho que levou a essas descobertas não foi pavimentado apenas com acertos. Houve erros, e não foram poucos. É sobre eles que se debruça o astrofísico e escritor romeno Mario Livio no recém-lançado livro “Brilliant Blunders” (“Erros Geniais”, em tradução livre, com lançamento previsto para maio de 2014 no Brasil).

01.jpg

Na obra, o autor explicita as falhas, mas defende que elas foram desvios de percurso que, no fim das contas, colaboraram para o avanço da ciência. “Escolhi erros que tivessem sido cometidos por grandes cientistas, em um passado relativamente recente e que estivessem conectados com a evolução: da vida, das estrelas, dos seres humanos e do universo”, diz Livio, que nasceu na Romênia e naturalizou-se israelense-americano. Outro critério foi distinguir os enganos “geniais” de erros provocados por descuidos ou desleixos.

02.jpg

Além de apontar os equívocos, o livro deixa claro o quanto a evolução científica não é necessariamente uma progressão linear do pensamento, em que um cientista passa o bastão para o seguinte. Darwin foi brilhante em desenvolver a teoria da seleção natural, mas não enxergou as repercussões dela sobre as regras da hereditariedade aceitas em sua época. “Mas isso levou outros cientistas a reescreverem completamente essas normas, levando às nossas noções modernas de genes”, diz a física e jornalista Marcia Bartusiak, professora de redação científica do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

03.jpg

Assim como no exemplo de Darwin, muitos equívocos forçaram outros pensadores a corrigir ou redirecionar ideias. Linus Pauling desenvolveu um modelo de DNA (ácido desoxirribonucleico) errado na essência, já que a estrutura pensada pelo cientista não era a de um ácido. “Os outros pensaram: ‘Como o maior químico do mundo poderia estar errado?’”, diz Marcia. Dois cientistas muito mais jovens, James Watson e Francis Crick, não só tinham certeza do erro como se apressaram e chegaram à descrição de DNA.

04.jpg

Um exemplo curioso de erro que não estava “tão errado” assim diz respeito a Einstein. Quando o cientista formulou a Teoria da Relatividade, as equações que desenvolveu só fariam sentido se o universo estivesse se expandindo ou se contraindo, mas os cientistas da época acreditavam que o cosmo era estável. Para “consertar” a teoria, o físico adicionou às equações uma constante cosmológica. Astrônomos descobriram que o cosmo não estava estático, mas se expandindo. Einstein baniu a constante e a chamou de seu maior erro. Contudo, outros cientistas reabilitaram-na, já que ela poderia explicar a “energia escura”, força hipotética que estaria acelerando a expansão do universo.

05.jpg

Outro ponto sobre o qual “Brilliant Blunders” joga luz é o fato de algumas dessas mentes brilhantes serem cabeças-duras na hora de admitir os erros. Exemplos são William Thomson, conhecido como Lord Kelvin, e Fred Hoyle. Mesmo diante de evidências de que estavam errados (Kelvin com o cálculo da idade da Terra e Hoyle com a sua teoria furada sobre o universo), eles se recusaram a admitir o lapso. Os acertos posteriores em suas carreiras deram um lustro na imagem que eles deixaram no panteão do conhecimento humano. Os erros flagrados no livro não diminuem a importância desses gênios. Mostram apenas que a ciência é um empreendimento humano e, como tal, sujeito às nossas fraquezas.

Fotos: Julian Calder/Corbis; Roger Ressmeyer/Corbis; SCIENCE PHOTO LIBRARY