A bola que rola e movimenta o milionário planeta dos negócios no esporte não é de couro nem de borracha. O componente principal é o dólar. Muitos bilhões de dólares. Ao contrário das redondas feitas para queimar a grama, receber cortadas violentas ou quicar nas quadras, essa esfera verde ganha corpo a cada giro. Cresce de forma vertiginosa e surpreende até os especialistas do setor, com seu potencial espantoso de crescimento nos primeiros anos e décadas do próximo século. De acordo com os cálculos de grandes grupos de marketing, o setor de entretenimento movimenta anualmente no mundo a respeitável bolada de US$ 1 trilhão. Deste total, US$ 350 bilhões servem de combustível para tocar a indústria do esporte. E 70% deste dinheiro, cerca de US$ 260 bilhões, sustenta exclusivamente o futebol, em atividades que vão das cotas de transmissão de uma partida importante à venda da camiseta de um clube por uma empresa de material esportivo.

Projetar com exatidão as dimensões desta bola de dólares daqui a 5, 10 ou 15 anos é tarefa complicada. Mas algumas previsões mostram que o crescimento não será nada modesto. No livro A grande jogada, o especialista em mar-keting esportivo Luís Fernando Pozzi, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, estima que o volume de dinheiro movimentado anualmente apenas no futebol brasileiro saltará dos atuais US$ 3,8 bilhões para US$ 25 bilhões em 2005. Outro estudo importante, feito pelo grupo Graham, Goldblatt & Delpy, publicado recentemente pelo jornal USA Today, contabiliza 4,5 milhões de empregos relacionados diretamente com o esporte em território americano, onde também é investido US$ 1 em cada US$ 2 dedicados ao patrocínio esportivo em todo o planeta. “Os investidores perceberam que o esporte é o melhor veículo para vender entretenimento. Ele envolve paixão e cria o que todo empresário sonha: fidelidade à marca”, afirma Paulo Guerra, presidente da LKS Marketing Esportivo.

Espetáculo esportivo é feito para ser consumido ao vivo. E a ordem é aproveitar ao máximo este poder de sedução. O faturamento anual da NFL, a liga nacional do futebol americano profissional, ultrapassa os US$ 6 bilhões -anuais. Deste total, US$ 2,4 bilhões são arrecadados com direitos de transmissão e divididos igualmente entre os 30 clubes da associação. Os administradores da NFL esperam grandes saltos no faturamento até 2010. Para isso, os líderes desta liga que protagoniza, nas decisões, a inserção comercial mais cara do mundo (US$ 1,3 milhão por 30 segundos) confiam em um plano para divulgar o esporte fora dos Estados Unidos nos moldes do criado anos atrás pela NBA. Graças a um brilhante trabalho de marketing, o basquete americano exibe as enterradas e os arremessos de Charles Barley e Shaquille O’Neal nas telinhas de 250 milhões de lares, em 100 países. Meses atrás, a suíça ISL, maior empresa de marketing esportivo do mundo, a mesma que irá investir entre US$ 80 milhões e US$ 120 milhões no Flamengo em 15 anos, aceitou colocar nada menos que US$ 3 bilhões para organizar o campeonato universitário de futebol americano nos próximos oito anos. O bolo ainda tem muito a crescer.

O futebol leva US$ 7 de cada US$ 10 movimentados pelo esporte no mundo. Para se ter uma idéia, os direitos de transmissão da Copa da França, em 1998, custaram US$ 320 milhões. Em 2002, no Japão e na Coréia do Sul, estes mesmos produtos renderão US$ 1,2 bilhão. “Aqui no Brasil, o futebol absorve, no mínimo, 90% dos investimentos”, atesta o ex-radialista José Hawilla, sócio majoritário da Traffic, empresa controladora da programação esportiva da Rede Bandeirantes e sócia do fundo de investimentos texano Hicks Muse Tate & Furst, parceiro do Corinthians e do Cruzeiro.

A força da tevê – Neste cenário dominado pelos craques dos gramados, o vôlei aparece em segundo lugar na preferência do público, ameaçado em alguns momentos pela Fórmula 1 (em 2000, a performance de Rubinho Barrichello irá determinar a intensidade desta ameaça). O futebol engolirá a maior parte dos US$ 25 bilhões esperados para 2005 ancorado em três pilares: parcerias com empresas de marketing esportivo (ISL, IMG, Octagon), entrada de fundos de investimento e forte partipação dos meios de comunicação. A Hicks Muse, por exemplo, usará a paixão dos clubes associados como alavanca para divulgar o seu Panamerica Sports Channel (PSC), um canal esportivo para a América Latina que será inaugurado no próximo dia 15 de fevereiro. Essa realidade transforma os eventos esportivos nos produtos mais caros para as redes de tevê, mas o investimento compensa. Uma pesquisa do grupo americano TopSports/Kagan prevê que o número de assinantes de tevê no Brasil saltará dos atuais 2,7 milhões para dez milhões em 2008. No mesmo estudo, a empresa calcula que, a partir de 2008, as tevês abertas e fechadas serão obrigadas a desembolsar anualmente R$ 1,5 bilhão, ou cerca de US$ 750 milhões, para transmitir e comercializar os principais campeonatos de futebol no Brasil a partir de 2008. No ano que vem, as televisões irão desembolsar US$ 90 milhões pelo Campeonato Brasileiro. Parece pouco, mas em meados dos anos 90 essa cota não ultrapassava US$ 5 milhões. Talvez seja oportuna uma leve comparação: as transmissões do campeo-nato italiano de 2000 irão render US$ 490 milhões aos clubes e, na Inglaterra, são esperados US$ 900 milhões. “Hoje, o orçamento anual de um clube de ponta bate nos US$ 30 milhões”, afirma Hawilla. “Se o futebol chegar a uma organização mínima na próxima década, esse valor poderá atingir, sem exagero, os US$ 100 milhões”, calcula. O jogo, como se vê, está nos minutos iniciais.