Primeiro foi a França que abriu seus valiosos acervos ao Brasil, promovendo com instituições nacionais grandes mostras didáticas sobre a sua arte. O número de visitantes em exposições dedicadas a Auguste Rodin, a Claude Monet e, no ano passado, ao movimento impressionista como um todo surpreendeu os curadores europeus, mesmo estando eles acostumados à enorme frequência de seus museus. Agora, é a Itália que passa a confiar na seriedade de nossas instituições e no interesse do público para divulgar sua cultura. Na esteira do Ano da Itália no Brasil, que em 2012 organizou importantes mostras de Michelangelo Caravaggio, Giorgio De Chirico e Amedeo Modigliani, chega a São Paulo, no dia 13 de julho, a exposição “Mestres do Renascimento: Obras-Primas Italianas”, que ocupará quatro andares do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A sucessão de mestres é de tirar o fôlego. Poderão ser vistos 57 telas e desenhos de Michelangelo Buonarroti, Paolo Veronese, Leonardo da Vinci, Tintoretto, Giovanni Bellini, Lorenzo Lotto, Rafael Sanzio e Jacopo Pontormo (apenas alguns dos nomes já confirmados), contemplando o ápice de um dos mais influentes momentos da história da arte. A reunião de obras tão valiosas envolve uma logística que inclui o frete de três aviões e um seguro de 600 milhões de euros, sem falar da negociação e da burocracia.

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SURPRESAS
"Madalena", de Ticiano (abaixo), e "Adoração dos Pastores",
de Lorenzo Lotto: sensualidade e harmonia

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À frente da empreitada estão cinco curadores italianos, cuja seleção promete repetir o sucesso de “Impressionismo: Paris e a Modernidade, Obras-Primas do Acervo do Museu d’Orsay de Paris, França”, que levou cerca de 320 mil pessoas ao mesmo CCBB no ano passado. A expectativa da instituição é manter o interesse e elevar, assim, o caráter educacional do evento, oferecendo uma verdadeira aula sobre a Renascença. Para tanto, a opção foi dividir a produção em cinco regiões, ilustrando a heterogeneidade geográfica do movimento. As escolas de Florença, Roma e Veneza, por exemplo, vão ocupar um andar cada uma. A escolha foi acertada, segundo o professor de história da arte da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, Luciano Migliaccio: “A Renascença não foi um fenômeno único e é importante marcar as diferenças. Roma, por exemplo, por ser a cidade do papa, deu um significado religioso à arte que não foi o mesmo em outros locais. Essa variedade vai surpreender.”

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EQUILÍBRIO
"Cristo Benedicente", de Rafael Sanzio, representante
da escola florentina: retorno aos valores clássicos

O Renascimento surgiu no século XIV, em Florença, ao substituir a tradição bizantina, estilizada e abstrata, por uma produção mais naturalista, que promovia uma volta aos valores greco-romanos, ou seja, uma visão humanista da vida. “Até então, as artes eram pouco consideradas por serem feitas por meros artífices, em geral iletrados”, diz Eduardo Kickhöfel, professor de história da filosofia da Renascença da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “A partir dos novos tratados, esses artífices lentamente se transformaram em artistas que produziam com base em princípios teóricos e regras estéticas.” Rafael, presente na mostra com “Cristo Benedicente”, é um bom exemplo da corrente florentina. Da escola romana, o público poderá ver “Leda e o Cisne”, de Da Vinci, e “Anunciação”, de Bellini. Além de Roma e Florença, estarão representadas as cidades de Veneza, Milão, Ferrara e Urbino. Segundo Migliaccio, mais ainda que as regiões, são as próprias obras que se destacam: “Cada uma é um mundo.” Ele aponta “Madalena”, de Ticiano, em que o tema religioso fica impregnado de sentimento profano. “Essa tela é utilizada como uma representação da sensualidade feminina”, afirma. A grande surpresa, contudo, será “Adoração dos Pastores”, de Lorenzo Lotto, da escola veneziana: “Trata-se de um artista mais conhecido por especialistas. É uma grande redescoberta.”

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