Durante a Segunda Guerra Mundial, os pilotos camicases japoneses transformavam os seus aviões em mísseis e se atiravam sobre os navios inimigos. Decolavam da base aérea com a certeza de que jamais iriam voltar. Até o final deste ano, um grupo de 40 astronautas será escolhido para colonizar Marte a partir de 2023. Quando partirem, eles estarão com a certeza camicase de que nunca mais voltarão à Terra. É isso o que propõe o projeto Mars One, lançado por Bas Lansdorp, um empresário holandês do ramo da energia eólica, que planeja construir uma colônia no planeta. Se der certo, os habitantes passarão seu tempo cuidando da colônia e coletando informações para pesquisadores na Terra. Mas, provavelmente, eles terão de passar o resto da vida por lá, já que trazê-los de volta encareceria a missão a ponto de inviabilizá-la.

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Para que o projeto saia do papel, grandes obstáculos precisam ser superados. Um deles é a radiação à qual os tripulantes estariam expostos, tanto durante a viagem quanto em solo marciano. Um estudo do Instituto de Pesquisa Southwest, nos EUA, calculou que uma ida a Marte acumula 330 milisieverts de radiação no organismo, o que equivale a uma tomografia de corpo inteiro por semana, durante um ano. Agências espaciais calculam que mil milisieverts é o limite de exposição na vida para que o risco de câncer não se eleve. “E, se houver muita atividade solar, a quantidade de radiação pode aumentar”, diz Nilton Rennó, professor da Universidade de Michigan e membro da equipe que desenvolveu o rover Curiosity, que está conduzindo pesquisas no planeta.

Outro desafio é garantir o básico para a sobrevivência: comida, água e oxigênio. Alimentos levados pelos tripulantes serão consumidos apenas em emergências. Para o dia a dia, legumes, verduras e frutas serão cultivados hidroponicamente. Já a água será extraída do solo, por meio de máquinas que esquentarão a terra até que a umidade evapore. Ela será então condensada e armazenada. O oxigênio será produzido a partir dessa água.

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DONO DA IDEIA
O empresário Bas Lansdorp quer criar a primeira
colônia de terráqueos no planeta vermelho

Por fim, é preciso muito dinheiro. A organização do Mars One estima que o projeto consumirá cerca de seis bilhões de dólares. Mas a Nasa avalia que uma missão tripulada a Marte pode chegar a 100 bilhões. Lansdorp espera levantar a verba com doações e venda de merchandising e de publicidade na transmissão de etapas da seleção de candidatos.

Para fazer parte dos pioneiros da colonização marciana, qualquer pessoa acima de 18 anos pode se inscrever pelo site do projeto. Basta enviar um vídeo de apresentação e pagar uma taxa por volta de US$ 17 (cerca de R$ 34), que varia conforme o país. Há pelo menos 19 brasileiros inscritos. Um deles é Ronnyere Vital, 23 anos. Ele vive em Navegantes (SC) e soube do projeto por meio de uma comunidade online sobre ciência. “Sempre me interessei pelo espaço e não tenho medo de morrer. Isso vai acontecer com todo mundo. Por que não fazendo o que se gosta?” O maior objetivo dele é deixar seu nome gravado na história da exploração espacial.

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SONHO
O brasileiro Ronnyere Vital já fez sua inscrição e diz não ter medo
de morrer ou passar o resto da vida longe da família

Mas, afinal, é possível construir uma colônia em Marte? Não há uma resposta fechada, mas há esperança. “Quando o projeto Apollo começou, ninguém achou que daria certo, mas com um investimento grande foi possível”, diz Nilton Rennó. O problema é juntar o dinheiro necessário sem ter uma Guerra Fria para abrir os cofres.

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