Cinco palavras estão na gênese da obra do artista contemporâneo turco Hüseyin Bahri Alptekin: fatos, incidentes, acidentes, circunstâncias, situações. Elas nomeiam as diversas séries e os grupos de trabalhos realizados pelo artista em duas décadas de uma carreira interrompida em 2007. Bordadas em fronhas de hotel e posicionadas na entrada de sua primeira exposição no Brasil, essas palavras funcionam como uma carta de intenções ou um mapa de orientação dos caminhos de um artista que teve o trânsito como combustível de sua criação – desde os tempos em que atuou como fotojornalista da Sipa Press, nos anos 1980.

chamada-roteiros.jpg

“Tendo produzido em um período em que o circuito das artes passava por um processo de intensificação de trocas internacionais (com a proliferação de programas de residência artística e das exposições coletivas com artistas de todas as partes do globo), Alptekin viveu e refletiu intensamente sobre esse momento”, afirma a crítica de arte Kiki Mazzucchelli, que assina a curadoria da mostra com a artista Camila Rocha, com quem Alptekin foi casado. Foi numa dessas residências, em Helsinski, que Camila e Alptekin se conheceram. Depois, eles viajaram ao Rio de Janeiro, onde fizeram juntos uma residência no Capacete, em Santa Tereza. “No Rio, alugávamos um pequeno barco e íamos para a Baía de Guanabara fotografar aviões. Um desses aviões entrou para a série dos Incidentes e foi intitulado ‘Incidente Glória’”, conta Camila. 

“Incident-s” é também o nome de uma série de vídeos gravados em diferentes cidades do mundo. Projetados lado a lado no Sesc Pompeia, “Incident-s Ipanema” e “Incident-s Bombay” aproximam dois momentos vividos em praias do Rio e da Índia. Como artista viajante que foi, Alptekin realizou várias colagens com fotos, textos e rastros de seus caminhos. Camila conta que esses trabalhos eram também chamados de “De-collages”, palavra que ganha nova camada de sentido em português, aproximando-se dos aviões que atravessaram várias fases da obra de Alptekin.

Entre pousos e decolagens, Hüseyin Bahri Alptekin colecionava fotografias de luminosos de hotéis com nomes de cidades e países. A prática rendeu a obra “Capacity”, de 1998 (foto), e a instalação “H-Fact: Hospitality/ Hostility”, que especula sobre a vida na estrada.