A lenda de Atlântida, mencionada pela primeira vez em contos do filósofo grego Platão, falava de uma ilha rica em metais preciosos que teria sido destruída por um cataclismo e afundado no Oceano Atlântico por volta de 9.500 a.C. Nesta semana, uma expedição do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) feita em parceria com a Agência Japonesa de Ciência e Tecnologia da Terra e do Mar (Jamstec) e com universidades nacionais pode ter encontrado uma Atlântida brasileira. Os pesquisadores levantaram indícios de que o Elevado Rio Grande, uma cordilheira submersa a 1.500 quilômetros da costa sul do Brasil, já fez parte da plataforma continental do País.

1.jpg

Há dois anos, um estudo da CPRM havia descoberto amostras de granito na região. “Foi uma surpresa, já que o granito não é típico de rochas oceânicas, mas das continentais”, diz o geólogo Roberto Ventura, diretor da CPRM. Os pesquisadores não sabiam se o granito vinha mesmo do fundo do mar ou se havia sido trazido por outros meios, como parte do lastro de navios. Outra hipótese, muito mais interessante, é que o elevado tenha feito parte da costa brasileira e afundado há cerca de 130 milhões de anos, quando a América do Sul e a África se separaram.

Para levantar mais detalhes sobre a geologia do local, um time de pesquisadores brasileiros pegou carona no submersível japonês Shinkai 6500 e fez mergulhos a até 4.000 metros de profundidade. “Coletamos sedimentos de quartzo, que é um componente do granito”, diz José Angel Perez, professor de oceanografia da Universidade do Vale do Itajaí e chefe da equipe nacional da expedição. Segundo Perez, apesar dos novos e fortes indícios de ligação do elevado com o continente, mais estudos são necessários para comprovar a origem da formação. É preciso, por exemplo, perfurar a rocha e se certificar de que ela realmente tem granito em seu interior.

Se a hipótese for comprovada, o Brasil pode requerer posse desse território junto à ONU, o que permitiria a exploração de metais como cobalto e manganês. É possível que a região também abrigue reservas de petróleo e de um combustível sólido conhecido como hidrato de metano (confira quadro). Segundo o economista Maurício Canêdo Pinheiro, da Fundação Getulio Vargas (FGV), as vantagens econômicas só seriam possíveis no longo prazo e a um alto custo. Ele lembra, entretanto, que o território pode oferecer outro tipo de riqueza: “A descoberta pode ampliar nossa soberania oceânica, o que beneficiaria a indústria pesqueira.” Hoje, ela é de 200 milhas, mas o Brasil pleiteia ampliar esse limite.

2.jpg
3.jpg

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Para além da importância econômica, a expedição descobriu que o elevado é rico em biodiversidade, com seus jardins de corais e espécies que se refugiam entre esses organismos, como estrelas-do-mar, ouriços e muitos tipos de peixes. “As montanhas submersas são um obstáculo para as correntes, que batem nas rochas e sobem em direção à superfície, levando matéria orgânica que serve de alimento”, diz José Angel Perez. Ainda que leve muito tempo para que o Brasil consiga explorar as riquezas do elevado, o País agora tem obrigação de zelar por esse tesouro natural.

Fotos: divulgação. infografia: Fernando Brum


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias