Logo depois das eleições municipais de 2012, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) teve uma conversa decisiva com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Foi direto ao assunto: “Geraldo, você quer ser novamente candidato a presidente da República?”, indagou o mineiro. “Se quiser, terá todo o meu apoio.” Alckmin respondeu que não e disse que trabalharia para o PSDB chegar unido em 2014. Era tudo o que Aécio queria ouvir. Sua pergunta tinha algo de retórica, pois ele já sabia que não estava nos planos do governador disputar a sucessão de Dilma Rousseff e que chegara a sua hora na fila tucana. O que Aécio buscava mesmo era a certeza de que movimentos ressentidos do recém-derrotado José Serra não abalariam a unidade partidária em São Paulo, Estado que concentra a maior parte do eleitorado brasileiro. Com a resposta de Alckmin e o aval do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves começou a colocar em prática uma série de ações que se tornarão mais visíveis nas próximas semanas, quando ele assumir a presidência nacional do partido. Nos últimos meses, o senador mineiro se debruçou sobre diversas pesquisas, conversou com os empresários que costumam liderar as listas de doadores nas campanhas eleitorais, reuniu prefeitos e governadores de todas as regiões do País e vem mantendo encontros frequentes com economistas e analistas políticos. No comando do tucanato, Aécio pretende liderar uma oposição bem mais aguerrida. Irá correr o País e promete finalizar até dezembro o que vem chamando de um novo projeto para o Brasil.

Leia a entrevista exclusiva com Aécio Neves

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Se depender do roteiro traçado pelo senador, a eleição presidencial de 2014 poderá ser bem diferente das duas últimas. Tanto em 2006 quanto em 2010, o PSDB não conseguiu se colocar como alternativa real na cabeça do eleitor. Não trouxe ideias capazes de animar o debate político e não conseguiu se descolar da pauta imposta pela gestão petista. Aécio trabalha agora para formular outra agenda e começa a esboçar o programa para a campanha. Do ponto de vista da economia, estarão de volta as bandeiras de corte liberal dos tucanos, agora apimentadas por críticas a políticas executadas pelo governo Dilma. Metas de inflação desleixadas, isenções fiscais seletivas, ingerências na economia, crescimento irrisório e paralisia nas obras de infraestrutura serão os alvos prediletos dos tucanos. A contundência das propostas, contudo, ainda parece depender demasiado de um eventual fracasso da atual política econômica, obviamente descartado pelo governo. É como se, para dar certo, tudo tivesse de dar errado. O índice inflacionário é o cavalo de batalha do momento. Na quarta-feira 1º, no palanque da Força Sindical, em São Paulo, Aécio jogou no colo do governo a responsabilidade pela alta dos preços: “A leniência do governo coloca em risco uma das maiores conquistas das últimas décadas: o controle da inflação. Não vamos permitir que esse fantasma volte a nos assombrar”, disse Aécio.

O nascente programa tucano passa a ganhar contornos mais corrosivos quando Aécio agrega à critica da política econômica uma discussão sobre ética e democracia. Desvios mensaleiros e denúncias de corrupção serão temas da campanha levados junto com a ideia de que o governo Dilma e o PT se revelam essencialmente autoritários. Os tucanos já começam a elevar o tom na defesa da independência de poderes e no que entendem como graves ameaças às liberdades democráticas. Há uma tendência de explorar a suposta identidade “chavista-bolivariana” que o PSDB gostaria de ver grudada ao governo petista. Esse conjunto de liberalismo econômico e combate à corrupção e ao autoritarismo tende a aproximar o discurso tucano em 2014 daquele adotado pelas oposições na Venezuela e na Argentina, por exemplo.

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ALVO
Aécio pretende associar a imagem de Dilma Rousseff à falta de diálogo e má gestão

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O PSDB também irá se empenhar em conquistar aliados e ampliar a tradicional aliança com o esquartejado DEM. O quadro idealizado por Aécio para o ano que vem troca o tradicional embate PT versus PSDB por um duelo mais amplo de governo versus oposição. Aécio imagina o novo PSDB capaz de dialogar com os eleitores de todas as classes sociais, mas primeiramente com a classe média das grandes cidades. “O PT não trouxe uma agenda para o País, trabalhou esses últimos anos com as ideias colocadas no governo de Fernando Henrique, mas precisamos avançar”, tem dito o senador a seus interlocutores. Das inúmeras conversas mantidas com empresários e banqueiros, muitas delas feitas com a presença do ex-presidente FHC, o senador mineiro concluiu que o governo da presidenta Dilma Rousseff não transmite a segurança necessária para que o País receba investimentos privados na quantidade necessária para alavancar um crescimento consistente. Aécio ouviu queixas de empresários sobre a interferência do Estado na economia e mudanças de regras de jogo, uma ação que não identificariam no governo do ex-presidente Lula.

Dos encontros com políticos, Aécio chega a outras conclusões. A principal delas é a de que há um crescente descontentamento de prefeitos e governadores, inclusive de partidos ligados à base de apoio do governo, com o que tem chamado de “concentração de poder na esfera federal”. Muitos reclamam que Brasília distribui pacotes de bondades à custa de diminuição de recursos para os Estados e municípios, mas pouco abre mão das receitas federais. Nesse sentido, o senador pretende levar aos tucanos a ideia da defesa do “federalismo” como uma forma de repaginar a velha bandeira municipalista, até hoje apontada como uma das principais razões para a densidade eleitoral do PMDB em todo o País. A receita de Aécio para o PSDB é fazer com que o partido assuma a linha de frente de uma política de valorização dos Estados e municípios, assegurando a governadores e prefeitos a retomada da capacidade de investimentos locais ou regionais. Tucanos que têm participado desses encontros de Aécio com governadores e prefeitos, relatam que muitos deles, principalmente os de partidos ligados à base de apoio do governo, se sentem tratados como dependentes de Brasília e não como aliados. São lideranças que eventualmente poderiam aderir a uma campanha oposicionista se enxergassem nela a solução para seus problemas locais.

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PALANQUE
No comício da Força Sindical, ataques ao governo pela suposta volta da inflação

Nas pesquisas pré-eleitorais que tem em mãos, o senador identifica um esgotamento das gestões do PT, principalmente entre as camadas de renda mais alta. Na última pesquisa, feita com uma amostragem de seis mil eleitores nas classes A e B, sua provável candidatura tem índices semelhantes ao da presidenta Dilma e superiores aos obtidos por Marina Silva – que carrega consigo um enorme recall da eleição de 2010 – e pelo governador pernambucano Eduardo Campos, do PSB. As pesquisas qualitativas também apontaram a Aécio uma preocupação da classe média com o que chama de “viés autoritário do PT”. É um tema que une os principais pré-candidatos à Presidência e agrada a setores que passaram a olhar o PSDB com reservas depois que Serra levou para os palanques uma pauta conservadora em torno de questões como o aborto e a união homoafetiva. O tucano também aposta na consolidação da candidatura de Eduardo Campos e batalha para que o Movimento Democrático, do deputado Roberto Freire, a Rede, de Marina Silva, e o Solidariedade, de Paulo Pereira da Silva, da Força Sindical, consigam efetivamente sair do papel. A aposta é de que até as vésperas dos registros das candidaturas, tucanos, socialistas e marineiros tenham discursos convergentes. A expectativa também é de que Serra permaneça aconchegado no ninho tucano. Aécio acredita ainda que, em 2014, poderá trazer para o bloco oposicionista o PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab.

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