Na semana passada, ISTOÉ revelou a gravação de uma conversa na qual o atual ministro da Agricultura, Antônio Andrade, reconhece ter operado com recursos ilegais durante a campanha municipal de 2012, quando respondia pelo diretório do PMDB de Minas. De lá para cá, a situação política do ministro só se deteriorou. Cobrado pela presidenta Dilma Rousseff a dar explicações sobre a denúncia, ele se complicou ainda mais. Além de não conseguir mostrar a origem de uma doação de R$ 100 mil que entrou na conta do PMDB na eleição de 2012, Andrade tampouco soube dizer como o dinheiro foi parar na campanha de um candidato rival e se contradisse mais uma vez sobre por que autorizou tal operação suspeita quando presidia o PMDB mineiro. Após a publicação da reportagem, Dilma cobrou do vice, Michel Temer, presidente nacional do partido, uma solução rápida para o caso. “É sua indicação, você resolve isso”, disse.

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CONTRADIÇÃO
Ministro da Agricultura, Antônio Andrade, diz agora que dinheiro não foi
arrecadado pelo deputado João Magalhães (PMDB-MG), ao contrário do que
havia falado em gravação. "Na ocasião, dei uma resposta política", alegou. 

Para tentar apaziguar os ânimos, Temer conseguiu colocar Andrade na comitiva de Dilma que, na terça-feira 16, desembarcou em Minas Gerais para anunciar a construção de uma fábrica de insulina. Mas, durante o evento, Dilma preferiu manter distância do ministro, que é alvo da segunda denúncia em apenas um mês na pasta. Segundo assessores, a presidenta já avalia ter sido uma má ideia acatar a indicação de Temer contra a vontade da bancada. Alguns integrantes do bloco mineiro já fizeram chegar ao Palácio do Planalto sua insatisfação com um ministro que não recebe seus próprios deputados. Em meio a toda essa situação, o controverso deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ainda tenta emplacar dois dos principais diretores do Ministério da Agricultura. E, o que é pior, dois quadros políticos e não técnicos, cujos perfis seriam mais adequados para ocupar cargos na máquina administrativa. Cunha quer ver Pedro Camargo na Secretaria de Defesa Agropecuária e outro nome de sua confiança no Dipoa (Departamento de Inspeção de Produto de Origem Animal).

Em nota oficial, o diretório regional do PMDB tentou desfazer a suspeita de caixa 2, ao alegar que os recursos foram declarados à Justiça Eleitoral. O texto foi costurado por Andrade com o tesoureiro Célio Mazoni e aprovado por Temer. O partido também garante que não houve “traição” ao partido, pois resolução do Tribunal Superior Eleitoral nº 23.376 permitira à legenda aplicar seus recursos onde bem entender. “A direção partidária esclarece que, após análise da legalidade da fonte doadora, atendeu à solicitação dos deputados responsáveis pela arrecadação e encaminhou os recursos para os candidatos por ele definidos. Prática essa realizada por diversos partidos políticos”, informa o documento, assinado pelo deputado Saraiva Felipe, que substituiu Andrade no comando do diretório estadual, além de Mazzoni e do secretário-geral, Sávio Souza Cruz. Segundo o trio, “a tese de utilização de caixa 2, defendida por desconhecedores da legislação eleitoral ou em flagrante má-fé, é equivocada”.

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NOVA FAXINA À VISTA?
Dilma Rousseff (acima) cobrou do vice-presidente, Michel Temer, uma
solução rápida para o caso. "É sua indicação, você resolve isso", disse.
Mas as explicações, até agora, foram consideradas insuficientes

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Na reportagem passada, ISTOÉ ouviu alguns dos maiores nomes do direito eleitoral brasileiro, entre eles o advogado Alberto Rollo, que considerou o ato de Antônio Andrade “uma barbaridade eleitoral”. A própria denúncia foi feita por outro advogado eleitoral, Conrado Luciano Baptista, que trabalhou para a coligação PT/PMDB na campanha de Santos Dumont. Foi o próprio Baptista que pediu à Justiça Eleitoral a abertura de investigação e anexou as gravações que fez de conversas telefônicas com Antônio Andrade e o contador do PMDB mineiro, Filipe Risson. O caso está sendo investigado pela juíza Ivanete Jota de Almeida, que poderá pedir a reabertura das contas de campanha do prefeito eleito, Bebeto de Faria (PP). Na análise de Alberto Rollo, nada justifica a doação de R$ 100 mil ao candidato do PP, Bebeto de Faria – que acabou sendo eleito –, em detrimento do candidato Labernet Mendes Ribeiro, da coligação do próprio PMDB. O problema maior é que o partido também não conseguiu identificar o doador do dinheiro e entrou numa briga de versões para tentar explicar quem direcionou a doação para o PP, usando o PMDB como ponte.

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Em sua edição de número 2.265, que circulou no sábado 13 de abril,
ISTOÉ revelou gravação mostrando o envolvimento do ministro da Agricultura,
Antônio Andrade, no repasse ilegal de dinheiro nas eleições municipais

Na quinta-feira 18, Andrade deu entrevista em seu gabinete. Preocupado com o caso, Temer destacou seu assessor de imprensa para acompanhar a entrevista. Questionado novamente sobre o caso, o ministro admitiu ter mentido à ISTOÉ e ao advogado da coligação ao dizer que o dinheiro havia sido arrecadado pelo deputado João Magalhães, fato que o parlamentar negou. “Foi uma resposta política. O advogado agiu de má-fé ao me gravar. A ação dele na Justiça Eleitoral não vai dar em nada”, disse. Pressionado a revelar a origem do recurso e quem autorizou o repasse, Antônio Andrade, já irritado, desabafou. “Não sei quem mandou o recurso. Não sei quem repassou”, afirmou. “Não ter o controle das contas do próprio partido que comandava só depõe contra quem tem agora a responsabilidade de gerir uma pasta com orçamento de R$ 10 bilhões. É temerário”, avalia o senador Álvaro Dias (PSDB/PR). Para ele, o governo deve tomar providências. “É preciso apurar isso a fundo. Do ponto de vista ético, ele deveria ser afastado do cargo até que o caso fosse devidamente esclarecido”, disse.

Fotos: Adriano Machado; DIDA SAMPAIO/ESTADÃO