Nos últimos três anos, o deputado Augusto Farias (PPB-AL), conhecido nacionalmente como o irmão e sucessor nos negócios de PC Farias, ocupou muito mais espaço nas páginas policiais do que no noticiário político. Ele é apontado como suspeito no inquérito que investiga o assassinato de PC e também nas apurações sobre a morte da deputada alagoana Ceci Cunha.

Na quinta-feira 30, Augusto se viu envolvido em mais uma trama. Na CPI do Narcotráfico, o ex-segurança e caminhoneiro Jorge Meres Alves de Almeida depôs e disparou munição pesada. “PC foi morto para benefício do próprio irmão e de outros componentes da organização”, disse. A “organização”, segundo Meres, seria uma rede criminosa dedicada ao tráfico de drogas, armas, roubo de cargas e assassinatos por encomenda.

Os chefes seriam Augusto, o ex-deputado Hildebrando Pascoal (Acre), o deputado estadual José Gerardo (PPB-MA) e o advogado Willian Marques, em São Paulo. De agora em diante, além de investigado pelos delegados de Alagoas, as atividades de Augusto serão acompanhadas pela CPI.

Na mesma quinta-feira 30, os deputados da CPI autorizaram a quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal de Augusto Farias. Dessa forma, poderão checar muito do que foi dito pelo caminhoneiro e ainda estarão retomando os caminhos que podem levar ao tão procurado dinheiro de PC. Meres diz que trabalhou cinco anos com os políticos bandidos. Há três meses ele foi preso no interior do Maranhão por ter dado o cano em uma locadora de automóveis e é réu em um processo de roubo de carga. Do final de agosto até a última semana, o caminhoneiro prestou seis depoimentos, que mostram detalhes macabros. Segundo ele, o advogado William Marques seria o responsável pelas atividades criminosas em São Paulo e testa-de-ferro de PC Farias em cinco empresas instaladas em Campinas. Com a morte de PC, teria ocorrido uma espécie de divisão do espólio. “William ficou com as empresas que já estavam no nome dele e Augusto com outras empresas e o dinheiro fora do País”, afirmou.

A “organização” funcionaria com uma espécie de divisão geográfica. Cada chefe cuidava dos problemas do seu território. “Eles se reuniam e discutiam a compra de drogas, distribuição de armas, remessa de carretas para a Bolívia, quem ia morrer, quem ficaria vivo e a divisão do lucro”, relatou o caminhoneiro à polícia. Em uma dessas reuniões, teriam decidido matar o delegado maranhense Stênio Mendonça, que investigava o roubo de carretas no Estado. O deputado José Gerardo teria ficado com a tarefa.

Mendonça foi fuzilado com cinco tiros no dia 25 de maio de 1997, um domingo, às dez horas da manhã, em frente à praia, na avenida Litorânea, em São Luís. As revelações de Meres ainda dependem de confirmação, o que demandará um enorme trabalho da CPI. Porém, investigações iniciais da PM maranhense vêm confirmando suas informações. “É preciso checar tudo, mas a princípio a riqueza de detalhes dá credibilidade”, admitiu o ex-delegado da Polícia Federal e relator da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE). Ao tomar conhecimento das declarações, Augusto Farias tentou ser ouvido pela CPI no mesmo dia, mas não conseguiu. Os deputados reservaram a terça-feira 5 para que o deputado exponha sua versão.

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Estratégia frágil – “Isso é um absurdo. Se confirmarem alguma relação minha com esse pessoal, renuncio de meu mandato”, disse Augusto. “De uma hora para a outra me transformaram no maior gângster do País e acreditam muito mais na palavra de um bandido qualquer do que na minha.” O deputado tem razão quando insinua que o caminhoneiro Almeida não é o melhor exemplo de probidade, mas também é verdade que, até agora, os argumentos de Augusto se limitam a tentar desqualificar aquele que o acusa. Aliás, essa tem sido uma prática comum do parlamentar alagoano.

Augusto Farias, sempre que possível, ataca os delegados Alcides Andrade e Antônio Carlos Lessa, que investigam a morte de PC Farias, e também procura desqualificar qualquer testemunha que discorde da fantasiosa tese do crime passional. Uma estratégia que pode até surtir algum efeito sobre a polícia de Alagoas, mas que certamente será frágil demais para ser apresentada diante de uma CPI na Câmara.

Ulysses Guimarães costumava dizer que uma Comissão Parlamentar de Inquérito todos sabem como começa, mas ninguém é capaz de dizer onde ela irá terminar. E é essa premissa que poderá tirar o sono de Augusto nos próximos dias. Certamente, ao investigar o irmão de PC, os deputados encontrarão uma estrada muito bem pavimentada para se chegar à herança deixada pelo ex-tesoureiro de Collor. No meio dessa estrada muita poeira será levantada.


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