O empresário Ricardo Mansur, ex-dono das redes Mappin e Mesbla, é apontado pela polícia como principal suspeito de ter tentado provocar uma tempestade no mercado financeiro nacional. Usando um nome falso e supondo-se protegido pelo uso de um endereço anônimo na Internet, ele teria tentado abalar o prestígio do Bradesco, que é um de seus principais credores e contra quem move uma ação judicial. Se bem-sucedido, Mansur poderia ter provocado uma onda de boatos capaz de não só derrubar as cotações das ações do maior banco privado brasileiro, como causar uma corrida de depositantes em pânico aos caixas da instituição, com consequências imprevisíveis. No dia 15 de setembro passado, algumas das principais instituições que atuam no mercado financeiro nacional – como as corretoras do Itaú, J.P. Morgan e Hedging Griffo – receberam um e-mail segundo o qual o Bradesco estaria em situação precária, à procura de um parceiro para evitar a quebra. Além de dizer que o banco teria um rombo de R$ 13 bilhões, a mensagem acusava seus diretores de pagar mal aos funcionários e manter contas na Suíça. O autor era um enigmático Marcos C., cujo endereço eletrônico era marcosc_c@hotmail.com. Endereços deste tipo são fornecidos gratuitamente pela Hotmail, uma subsidiária da Microsoft, com base apenas em dados pessoais digitados pelos interessados em obter o serviço.

Alertada por um dos recebedores da mensagem, a diretoria do Bradesco, através do diretor-executivo e vice-presidente, Ageo Silva, procurou o delegado Mauro Marcelo de Lima e Silva, da Polícia Civil de São Paulo, especialista em investigar crimes cometidos através da Internet. Numa operação que envolveu a colaboração da Scotland Yard, ele conseguiu chegar à origem da mensagem e às informações que apontam Mansur como responsável por ela. O endereço eletrônico de Marcos C. foi criado pouco antes das 19 horas do dia 15 de setembro, no Costa, um cybercafé situado no número 24 da Sunnyhill Road, em Londres. Menos de um minuto depois, mais precisamente às 18 horas e 44 minutos, ele foi usado para remeter a mensagem a uma lista de 15 instituições financeiras.

Se tivesse encerrado o caso durante a happy hour daquele dia, Mansur não estaria sob investigação. Mas ele incorreu num erro que é um chavão nos romances policiais baratos: voltou, de forma virtual, ao local do crime. Supondo-se protegido pelo anonimato do Hotmail, consultou sua caixa postal várias vezes nos dias seguintes, possivelmente em busca da repercussão que suas denún-cias poderiam ter provocado. A polícia apurou que essas consultas foram feitas do escritório londrino da United Empreendimentos Imobiliários, de propriedade de Mansur, e da sede da Internacio-nal Processamento de Dados, também controlada por ele, em São Paulo, além de um outro acesso por um IP (endereço na Internet) privativo, registrado sob seu nome e endereço na Inglaterra.

Segundo depoimento à polícia do diretor do Bradesco, Ageo Silva, Mansur ameaçou divulgar afirmações capazes de comprometer o Bradesco no dia 4 de agosto passado, em telefonema ao assessor de comunicação da Febraban, Luiz Salles. Isso aconteceria caso o banco não concordasse com os termos de uma ação de indenização de R$ 500 mil proposta por ele – o Bradesco contesta na Justiça a acusação de ter sido responsável pela quebra das redes de lojas ao não conceder mais financiamentos. Segundo Ageo Silva, Mansur e algumas de suas empresas são grandes devedores do banco. O mercado estima que a dívida alcance R$ 100 milhões. O vice-presidente do Bradesco contesta no depoimento o conteúdo da mensagem divulgada, tanto em relação à solidez do banco como sobre os atos de seus diretores. Para o delegado Mauro Marcelo, as provas coletadas no inquérito são suficientes para incriminar Mansur. “Ele incorreu em crime contra a honra, visando denegrir a imagem pública do Bradesco e de seus diretores”, conclui. Segundo o delegado, o empresário será indiciado nos próximos dias por injúria, calúnia e difamação, além de crime contra o sistema financeiro, por criar boatos capazes de abalar o mercado.


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