Desta vez não foi o mordomo. Nem a máfia russa. O assassino do megaempresário judeu libanês naturalizado brasileiro Edmond Safra, 67 anos, é um enfermeiro. O americano Theodor Maher, 41 anos, confessou no domingo 6 ter incendiado o luxuoso apartamento na avenida d’Ostende em Mônaco levando à morte o magnata e sua enfermeira Vivianne Tourront. Ele ainda afirmou que teria se esfaqueado, simulando ter sido ferido por dois homens encapuzados. Motivo: ser aclamado como herói ao salvar a vida de Safra. Porém seu plano mirabolante não deu certo e, em vez de chamar a atenção do empresário, teria provocado sua morte por sufocamento. Safra foi enterrado em Genebra.

A explicação do crime é do procurador-geral de Mônaco, Daniel Serdet, responsável pela investigação. Serdet afirmou que o enfermeiro (com salário de US$ 600 diários e apenas seis semanas em Mônaco) tinha um caso com uma das enfermeiras e não suportava as regras rígidas da enfermeira-chefe Sonia.

Divulgada a versão policial, Mônaco respirou aliviado, garantindo a fama de um dos lugares mais seguros do mundo. Para provar que o paraíso fiscal que recebe US$ 8 bilhões anuais voltou à normalidade, o príncipe Albert e as princesas Caroline e Stephanie deram o ar da graça na inauguração de um sofisticado sistema ferroviário a apenas 100 metros do Belle Époque, onde Safra foi assassinado na sexta-feira 3.

Dúvidas – Mas ainda pairam no ar algumas perguntas. A família Safra é conhecida no Brasil e nos quatro cantos do planeta por seu zelo com a segurança. Edmond evitava a mídia e lugares badalados e só andava de helicóptero acompanhado por dois seguranças treinados pelo serviço secreto de Israel, o Mossad. O banqueiro conheceu Theodor quando fazia tratamento para mal de Parkinson no Columbia-Presbyterian Medical Center, em Nova York. Mas como teria contratado um enfermeiro descrito pelo próprio procurador como uma pessoa de personalidade “frágil, instável, com variações de humor e dependente de calmantes”? E ainda contrataria alguém que até então teria trabalhado apenas com crianças prematuras? Theodor morava com a mulher, também enfermeira, e três filhos em Stormville, ao norte de Nova York. O locador da casa disse que o enfermeiro era uma pessoa de “difícil convivência”.

Proprietário do Republic National Bank of New York, Edmond Safra havia decidido vender o banco ao inglês HSBC. Essa iminente transação teria deixado o banqueiro ainda mais paranóico com a segurança, temendo seus inimigos no mercado financeiro. A razão da venda seria a sua doença. Outra questão ainda obscura é o próprio incêndio que começou numa cesta de papel, mas foi capaz de mobilizar mais de 50 bombeiros. Teo-ricamente tudo teria sido filmado porque Mônaco tem câmeras de vídeo por todo lado. Mas até agora não se tem notícia dessas filmagens. Os Safras pediram o inquérito, mas o procurador Serdet avisou que só irá divulgar mais detalhes durante o julgamento de Theodor. Das especulações da máfia russa, passando por um ataque anti-semita, aos inimigos do mercado financeiro, a resolução do crime de um dos homens mais ricos do mundo acabou sendo caseira aparentemente.