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NINGUÉM ESCREVE AO CORONEL
Cada dia mais isolado no Senado, Sarney filosofa:

"Veja como é o poder. Junto vem a velhice"

Do fundo do plenário, local jocosamente apelidado de zona cinzenta, o senador José Sarney (PMDB-AP) acompanhou escondido por uma pilastra o entusiasmo do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ao anunciar a promulgação da PEC das Domésticas, no início da noite da quarta-feira 3. Para não deixar transparecer sua inequívoca condição de coadjuvante, Sarney deixou a passos lentos a cerimônia, durante a última estrofe do ?Hino Nacional?. Acompanhado por dois assessores, esperou pelo elevador privativo sem receber nenhum tapinha nas costas ou cumprimento dos antigos bajuladores.

Mas não seria este o primeiro sinal da solidão de Sarney, depois de deixar o comando do Congresso. No fim de fevereiro, quando chegava ao plenário para marcar presença já como senador comum, ele foi abordado por um antigo funcionário. O servidor notou o isolamento e o ex-presidente logo emendou. ?Veja como é o poder. Junto vem a velhice?, desabafou com voz trôpega e ar cansado.Sem poderes formais no Senado, Sarney demonstra ter pouca disposição para o exercício legislativo. O parlamentar, que já não relatava uma matéria desde 2002, chega sempre por último nas reuniões partidárias, quando o encontro já está no fim. Sarney anunciou até uma licença de 120 dias para terminar o livro ?Testamento para Roseana?. A data ainda não está definida. Seu primeiro-suplente, Salomão Alcolumbre, está de sobreaviso, mas ainda quer ver para crer que conseguirá ocupar a cadeira de Sarney nesta legislatura.

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APOSTA
Sarney quer ver sua filha Roseana no Senado em 2014

Rei posto no Congresso, rei posto também na Esplanada dos Ministérios. Desde o fim do ano passado, Sarney tem perdido posições estratégicas no governo Dilma. Na Anatel, ele dominava duas das 12 cadeiras do conselho consultivo. Perdeu ambas, com o fim do mandato de Fernando César Mesquita em fevereiro e a substituição de Virgínia Malheiros. Na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Sarney também viu seu poder minguar, com a saída de Fernando Fialho da diretoria-geral do órgão. Na Agência Nacional do Petróleo (ANP), Alan Kardec, indicado por ele, não foi reconduzido. Na Valec, o senador maranhense perdeu a presidência da autarquia ? com a saída de José Francisco das Neves ? e a diretoria de engenharia do órgão, que era comandada por Ulisses Assad, seu aliado.

Sentindo-se desprestigiado, antes do feriado da Páscoa, Sarney sacou o telefone e ligou para a presidenta Dilma Rousseff. Aliados contam que ele demonstrava preocupação com a situa­ção do Ministério do Turismo, pasta comandada por seu aliado e também maranhense Gastão Vieira. Mas não foi a permanência de Vieira que levou o ex-presidente da República a recorrer a Dilma. Há tempos, Sarney tenta reaver o comando do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur). Seu inimigo político, o comunista Flávio Dino, preside o órgão e cresce como um dos principais nomes na corrida pelo governo do Maranhão em 2014. No que depender da presidenta, no entanto, Sarney ficará a ver navios. A Embratur deve mesmo permanecer sob o controle do PCdoB. Para piorar, Dilma estuda a substituição de Washington Viegas, indicado de Sarney na Companhia Docas do Maranhão (Codomar).

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Para tentar recuperar parte do fôlego político, Sarney articula para que sua família ganhe duas cadeiras no Senado no próximo ano. A estratégia começa no Amapá e termina no Maranhão, seus redutos eleitorais. Ele convenceu sua filha, a governadora Roseana Sarney (PMDB-MA), a disputar uma cadeira de senadora em 2014. No Amapá, pode lançar o filho Fernando Sarney. Questionado sobre seus projetos pessoais, a partir do próximo ano, Sarney tem dito que pensa em se dedicar somente aos livros. Amigos próximos adotam a cautela. ?Ele também costuma dizer que há duas maneiras de sair da política. Ou o cara morre ou é afastado?, conta o deputado Francisco Escórcio (PMDB-MA), com quem o senador convive há 30 anos. O fato é que Sarney hesita em disputar a reeleição. Está convencido de que seu desempenho eleitoral já não é mais o mesmo. Com menos cargos no governo federal, sua influência e capacidade de articulação dimi­nuíram. A caneta que sempre liberou polpudas verbas para apadrinhados políticos País afora também já carece das tintas carregadas de outrora. 


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