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RESPOSTA
Muhtar Kent, presidente-executivo da Coca-Cola,
afirmou que a obesidade não é só culpa da Coca-Cola
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“Isso é um problema social importante, para o
qual temos que buscar juntos uma solução”

Sabe aqueles ursos polares fofinhos da propaganda da Coca-Cola? Eles ficaram obesos e agora sofrem de doenças como diabetes. Sabe o que aconteceu com os animais selvagens que só comem fast-food? Eles têm barrigões enormes e são incapazes de caçar, correr na floresta e nadar. As situações acima aparecem em duas animações que circularam nas últimas semanas na internet. Vistos por milhões de pessoas, os desenhos transmitem, de forma encantadora, uma mensagem perceptível até para crianças: se você beber refrigerante demais ou comer sanduíche em excesso, vai se dar mal. O vídeo que tripudia os ursinhos da Coca-Cola foi criado por um ativista que prega o consumo consciente. O desenho que ataca os fast-foods (entenda-se McDonald’s, principalmente) saiu da cabeça de estudantes que participavam de um festival de cinema em Stuttgart, na Alemanha. Por mais que seus idealizadores afirmem que não estão fazendo campanha contra nenhuma empresa específica, as animações incomodaram Coca-Cola, McDonald’s e outros gigantes da indústria graças ao poder viral da internet. Todo mundo sabe que refrigerantes e hambúrgueres demais engordam, mas outra coisa é um desenho bonitinho martelar essa mensagem para milhões de consumidores. A questão agora é saber até que ponto as empresas podem ter suas reputações atingidas. “Os virais revelam o que as marcas não querem comunicar”, diz Felipe Wasserman, professor do centro de inovação da ESPM. “Eles levam as pessoas a refletir sobre um determinado assunto e, por isso, podem afetar a imagem das empresas.”

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Com o avanço da obesidade e dos problemas de saúde que ela traz, de uns tempos para cá os grandes fabricantes de produtos com alta carga calórica começaram a sofrer ataques sistemáticos dos saudáveis. Em países como França e Inglaterra, são comuns campanhas publicitárias que alertam as pessoas sobre os riscos do consumo exagerado de calorias. Nos Estados Unidos, país que detém todos os recordes de obesidade, já se discute em diversas cidades a limitação da venda de refrigerantes. Em Nova York, o prefeito Michael Bloomberg criou uma lei que proíbe a venda de garrafas de dois litros de Cocas, Pepsis e outros refrigerantes. Prevista para entrar em vigor, a determinação foi revogada por um juiz que a considerou arbitrária. Bloomberg, porém, declarou que não está disposto a perder a batalha. Coincidência ou não, os mais recentes balanços financeiros de Coca-Cola e McDonald’s decepcionaram. No quarto trimestre de 2012, as vendas de Coca-Cola caíram 5% na Europa, o que pode ser explicado, segundo especialistas, pela crise no Velho Continente. Mas o que justifica o desempenho fraco nos Estados Unidos, com alta só de 1% nas vendas, menos da metade do avanço do PIB? O McDonald’s também não comemorou seus resultados financeiros. Maior franquia da rede no mundo, a Arcos Dorados encerrou o quarto trimestre de 2012 com queda de 4,3% no lucro.

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Para evitar danos maiores, as companhias contra-atacam. Em entrevista ao jornal americano “The Wall Street Journal”, Muhtar Kent, presidente-executivo da Coca-Cola, afirmou que a obesidade não é culpa só da Coca-Cola: “Isso é um problema social importante e complexo, para o qual temos que buscar juntos uma solução.” Recentemente, a Coca-Cola lançou uma campanha que sugere atividades físicas prazerosas para a pessoa que consumir as 123 calorias da lata de Coca-Cola de 290 ml (até um beijo entre namorados, diz o anúncio, ajuda a queimar gorduras indesejadas). O McDonald’s lançou filmes que mostram a procedência dos alimentos vendidos em suas lanchonetes, com a intenção de fixar na consciência do consumidor a qualidade de seus produtos. Nos dois casos, as campanhas se tornaram virais e também foram vistas por milhões de pessoas. Ainda é cedo para saber se o contra-ataque surtirá os efeitos desejados, convencendo as pessoas de que, afinal, não é tão ruim assim para a saúde tomar Coca-Cola e comer Big Mac. Enquanto isso, os ursinhos polares gordinhos e os leões comedores de fast-food continuam encantando milhões de pessoas na internet.

Fotos: JOHANNES EISELE/afp photo; divulgação