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OS ALOPRADOS
O deputado Walter Feldman (à esq.) e o assessor político do PSDB
Ivo Patarra (à dir.)incentivaram as denúncias contra Chalita para ajudar José Serra

Em outubro do ano passado, às vésperas do segundo turno da eleição à Prefeitura de São Paulo, o analista de sistemas Roberto Leandro Grobman procurou integrantes da campanha de José Serra (PSDB). Dizia ele estar munido de uma denúncia bombástica contra o deputado federal Gabriel Chalita (PMDB), um dos cabos eleitorais do então candidato do PT, Fernando Haddad, e crítico ferrenho da gestão de Serra. No comitê do PSDB, Grobman foi recebido com entusiasmo. A pedido do deputado federal e coordenador da campanha de Serra, Walter Feldman, o analista dirigiu-se ao Ministério Público acompanhado pelo jornalista Ivo Patarra, assessor político do PSDB. Em depoimento aos procuradores, Grobman revelou uma série de irregularidades cometidas de 2002 a 2006 por Chalita, então secretário estadual da Educação filiado ao PSDB, para favorecer o grupo educacional COC.

Em troca, segundo o delator, Chalita teria recebido benefícios financeiros, entre os quais o pagamento de US$ 600 mil para a reforma de sua cobertura no bairro de Higienópolis.

A desastrada operação de campanha, contudo, não produziu o efeito desejado. Se viessem à tona na época, aquelas acusações colocariam nas cordas um dos mais importantes aliados de Haddad e poderiam ter sido decisivas para alterar o resultado da eleição, desfavorável aos tucanos. A prudência dos promotores, porém, em aguardar o desfecho das eleições e só na semana passada dar publicidade ao caso acabou se transformando num tiro no pé do próprio PSDB. A denúncia expôs uma vulnerabilidade já conhecida do governo do tucano Geraldo Alckmin: a área da Educação. Além do governador ter sido o responsável por nomear Chalita, e as denúncias compreenderem o período em que ele era filiado ao PSDB e secretário da Educação de Alckmin, não é a primeira vez que o governador de São Paulo é alvejado por acusações nesse setor. Em agosto do ano passado, ISTOÉ revelou casos de superfaturamento e pagamento de propina na compra de uniformes pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE). Na ocasião, o governador preferiu calar-se sobre a denúncia. Agora, como tudo leva a crer que a corrupção no FDE é sistêmica, não restou alternativa a Alckmin senão a de se pronunciar. Na semana passada, o tucano saiu em defesa do antigo aliado. “Tenho absoluta confiança (em Chalita), é uma pessoa correta, séria, tem espírito público”, declarou Alckmin. “Acho estranho denúncia dez anos depois. Por que dez anos depois?”, complementou.]

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De acordo com as informações prestadas pelo delator, Chalita montou um esquema de arrecadação pessoal na secretaria da Educação. Exigia comissão em contratos e tinha contas pagas por fornecedores, como o grupo educacional COC. A companhia, vendida em 2010 pelo empresário Chaim Zaher ao conglomerado britânico Pearson, teria inclusive indicado funcionários a cargos para setores estratégicos do seu ramo de atividade. Por meio desse suposto esquema, a empresa Interactive, ligada ao grupo COC e que tinha como sócio o próprio denunciante, comercializou 2,5 milhões em softwares educativos com a Secretaria da Educação paulista. Em troca, o grupo de Zaher oferecia uma série de benefícios a Chalita. Pagou US$ 600 mil na reforma do seu apartamento de alto-padrão em Higienópolis, bairro nobre da capital paulista, custeou viagens internacionais e comprou 34 mil exemplares de um livro do deputado. Íntimo de Chalita, Grobman acusou-o de usar duas funcionárias durante o expediente da secretaria para escreverem best-sellers que depois publicaria em seu nome. Afirmou ainda ter visto malas de dinheiro na casa e no escritório do então secretário da Educação de Alckmin.

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Antes de serem levadas ao MP, as acusações já eram de conhecimento do staff tucano. O deputado Walter Feldman, um dos coordenadores da campanha, admite que orientou Ivo Patarra a acompanhar Grobman. “Essa informação nos chegou na campanha. O Chalita candidato, nós na campanha do Serra… Nós colocamos que eram denúncias que nos pareciam que deveriam ser investigadas, então eu sugeri, juntamente com o Ivo, que fizesse o encaminhamento ao MP”, admitiu Feldman ao jornal “O Estado de S. Paulo”. O parlamentar se defendeu, no entanto, dizendo que as informações não foram repassadas para o comando da campanha e nem teria havido o intuito de usá-las durante a disputa municipal. “Não queríamos entrar nessa linha de fazer denúncias. Não cabe isso em campanha, como o PT fez contra nós, com os chamados aloprados”, declarou.

No entanto, a versão pretensamente antialoprada de Feldman de que o PSDB não se interessou em usar politicamente as denúncias contra Chalita, em meio à campanha eleitoral de 2012, acabou derrubada na quarta-feira 27. Ex-diretor da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) de São Paulo no período em que Chalita era secretário estadual, o empresário Milton Leme disse ter recebido oferta de dinheiro para confirmar as acusações contra o deputado federal do PMDB e um dos principais apoiadores de Fernando Haddad. Em outubro, ele teria participado de um encontro, a convite de Grobman, num shopping na capital paulista. Lá, segundo Leme, estava presente também Walter Feldman. Durante a conversa, o empresário disse que foi surpreendido inclusive por um aceno a distância do então candidato à Prefeitura e ex-governador de São Paulo, José Serra. Milton Leme também relatou ter recebido dias depois um telefonema de Roberto Leandro Grobman com uma oferta de R$ 500 mil a serem pagos pela campanha tucana em troca da confirmação das denúncias contra Gabriel Chalita.

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O encontro ocorrido no shopping na capital paulista foi confirmado tanto por Grobman como pelo deputado Feldman. Mas o parlamentar insiste ter agido de acordo com princípios éticos. “Essa prática não corresponde nem à minha história pessoal nem à intransigente postura do PSDB de compromisso com a ética”, complementou refutando a acusação de ter ofertado dinheiro. Já o autor das denúncias contra Chalita diz que não recebeu nenhuma vantagem financeira e acusa o empresário Milton Leme de ter recebido valores do antigo proprietário do grupo COC para ficar em silêncio. Além de gerar um efeito bumerangue para o PSDB, as graves denúncias contra Chalita tiveram outra consequência política. Na semana passada, o governo federal descartou o nome do deputado para comandar um ministério na cota do PMDB. Chalita estava cotado para assumir a Ciência e Tecnologia. Agora, o peemedebista, isolado até por setores do seu próprio partido, terá de se preocupar com sua sobrevivência política.

Montagem sobre fotos de ALEX SILVA/AE; Zanone Fraissat/Folhapress; CLAUDIO GATTI/Ag. Istoé


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