Nos últimos tempos, mensagens conclamando internautas a subscreverem petições online invadiram as caixas de e-mail e passaram a ser compartilhadas à exaustão nas redes sociais. São tantos os abaixo-assinados, tantas as causas, que viraram uma espécie de spam engajado. O ativismo digital chegou ao ápice no Brasil com o recorde de 1,6 milhão de assinaturas do requerimento virtual que pede o impeachment do presidente do Senado, Renan Calheiros. Por representarem mais de 1% do eleitorado nacional, os parlamentares foram obrigados a receber a petição na semana passada e os ativistas entregaram simbólicas 15 caixas vazias no Congresso. Diante do clamor público, alguns senadores prometeram discutir o assunto – e só.

A mobilização que o cliqueativismo consegue no mundo digital não tem correspondência na vida real. Dias antes, apenas 250 manifestantes empunharam cartazes na avenida Paulista, em São Paulo, pelo impeachment de Renan. Afinal, defender causas atrás de um computador é muito mais confortável. Há sites especializados, como o Avaaz e o Change, e após um simples cadastro qualquer um pode iniciar uma campanha. Da corrupção política às questões cotidianas, como a instalação de um semáforo numa rua, pela volta das bandeiras aos estádios de futebol de São Paulo ou contra cartões de consumação em casas noturnas, tudo é possível, mas os resultados concretos são poucos. “Quanto mais específica a reivindicação, maior a chance de vitória”, diz Graziela Tanaka, diretora de campanha da Change.

Nos Estados Unidos, por exemplo, uma pessoa se indignou com uma taxa de US$ 5 cobrada pelo cartão de crédito. A petição consegiu 300 mil adesões e fez com que o Bank of America eliminasse a cobrança. Na semana passada, uma família de São Carlos (SP) arrecadou R$ 330 mil para trazer o professor Renato Mecca de volta ao Brasil. Ele sofreu um acidente de moto na Indonésia e está internado sob o risco de ficar tetraplégico. As doações foram levantadas em dez dias com ajuda do Avaaz e custearão o traslado aéreo com uma UTI móvel. “Jamais conseguiríamos sem essa mobilização em massa”, diz Andreia Mecca, irmã de Renato.

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