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NA ESTRADA AMARELA
Oscar Diggs (James Franco), antes de se tornar o Mágico de Oz,
e uma das figuras fantásticas que encontra: universo onírico

A aventura da garota Dorothy, que foi levada por um tornado até a Terra de Oz e lá fez amizade com um espantalho sem cérebro, um leão covarde e um homem de lata que deseja ter um coração, é normalmente classificada como uma fábula infantil. Não são poucos, no entanto, os estudiosos que nela veem uma complexa alegoria à situação política e econômica dos EUA, no início do século passado. Seu enredo povoado de bruxas e cenários fantásticos como a Cidade de Esmeralda e a Estrada de Tijolos Amarelos, descrita inclusive por Elton John em uma de suas canções, rendeu 14 livros, todos escritos por L. Frank Baum (1856-1919). Nenhum deles, contudo, tratou diretamente do personagem Mágico de Oz, que dá nome ao volume inicial da série, adaptada posteriormente para um musical e para o clássico longa-metragem de 1939. Agora uma superprodução de US$ 200 milhões centra-se basicamente no passado do ilusionista Oscar Diggs (James Franco) e como ele tomou o poder nesse reino imaginário. “Oz – Mágico e Poderoso” (em cartaz na sexta-feira 8) mostra-o numa época imprecisa, que locais e figurinos sugerem ser o século XIX. Lépido e sedutor entre as atrações de um circo mambembe do Kansas, no interior dos EUA, ele ambiciona ser um misto do mago Harry Houdini e do inventor Thomas Edison.

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VISUAL
Viagem em bolhas de água até o castelo da bruxa boa:
equipe de 700 artistas para criar 1.500 efeitos digitais

Na história mais conhecida do personagem, aquela estrelada por Judy Garland, um velho Oz se apresenta como um péssimo mago e confessa ser uma farsa. Vem daí a associação que sempre se fez da sua figura com a dos poderosos que se mantêm no comando sem uma real representatividade. Logo no início da produção atual, o vemos alternar conhecidos clichês entre galã e trapaceiro dos picadeiros: escolhe como estrela de seus números de magia a mais bonita garota da trupe (a quem seduz, claro), engana o assistente na partilha dos centavos recebidos pelos truques de quinta categoria e vive fugindo dos pagantes ludibriados. Ao brigar com o halterofilista da companhia, foge em um balão e é levado por outro tornado, fenômeno climático muito comum nessa região dos EUA. Acaba aterrissando em Oz, cujos habitantes acreditam na profecia de que um mágico irá salvar o reino de suas divisões internas, provocadas por três bruxas.

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Esse lado de conto de fadas é, para muitos, mero pretexto usado por Baum para tratar das forças políticas nos EUA no final do século XIX e início do século XX. Nesse período, debatia-se a questão do lastro em ouro, exigência para a emissão de papel-moeda cuja pequena circulação estava endividando tanto os agricultores (representados pelo espantalho sem cérebro) como os industriais (simbolizados pelo homem de lata, sem coração). Assim, a Estrada de Tijolos Amarelos, que levaria à Cidade de Esmeralda, seria uma alusão a esse padrão monetário – o mágico representaria um banqueiro, e o leão sem coragem, os políticos em geral, incapazes de atender às necessidades da população. A apropriação atual da história não foge completamente dessa visão social, mas não se submete ao alcance de sua metáfora. Ao se deparar com o tesouro guardado em Oz, o primeiro impulso do ilusionista é usufruir da riqueza, aceitando se passar como o “salvador da pátria”. Mas, ao enganar a população, não é pintado feito um tirano, como era de se esperar: é visto como um atrapalhado arrivista.

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Numa jogada de mestre, o diretor Sam Raimi pinta a política (pois é disso que se trata, afinal) como um espetáculo, mas associa seus meios de ludibriar as pessoas aos próprios recursos do cinema: é com a técnica da projeção de sua imagem em movimento que Oz se impõe diante das massas e vence as bruxas do mal. Como cineasta, Raimi se mostra na posse de todo esse arsenal. Seu “Oz” é um requintado espetáculo visual do início ao fim, com efeitos visuais (1.500 ao todo) usados sem exibicionismo. Para conseguir melhores atuações, preferiu construir 30 cenários em uma ex-fábrica de caminhões da General Motors, perto de Detroit, área equivalente a 23 mil metros quadrados. Tudo isso a favor da magia.


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