Eduardo Berliner/ Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro/ Sala A Contemporânea/ até 31/3

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MEMÓRIAS
"Sardinhas" (acima) e "Rosto" (abaixo), trabalhos em aquarela
sobre papel que registram situações aparentemente banais

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Com composições de cenas enigmáticas e intrigantes, que remetem a um afastamento da realidade comum, a pintura que Eduardo Berliner vem realizando desde 2000 suscita frequentes associações com a arte surrealista. É como se muitos dos personagens pintados pelo artista carioca estivessem a serviço de “resolver a contradição até agora vigente entre sonho e realidade pela criação de uma realidade absoluta, uma suprarrealidade”, segundo palavras do manifesto de André Breton, de 1924. No entanto, a visão de um conjunto de obras realizadas em 2012, em cartaz na Sala A Contemporânea do CCBB Rio, indica por que é insuficiente remeter a obra de Eduardo Berliner à arte fantástica ou surrealista.

A mostra é formada por cerca de 30 trabalhos em desenho, aquarela, pintura a óleo, escultura e vídeo. Entre eles há diversas pinturas figurativas que apresentam situações habitualmente associadas ao universo onírico, como a representação de um menino tocando um instrumento, sentado sobre um manequim fragmentado em pedaços, no óleo sobre tela “Trompete”. Mutilações, metamorfoses, manequins e bonecos humanizados – comuns à iconografia de Berliner – são imagens frequentes do surrealismo. Além disso, o foco que o artista dá à infância também o aproxima do uso que artistas surrealistas faziam da obra de Freud, explorando o inconsciente e os impulsos obscuros da psique.

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IMAGENS MENTAIS
"Céu", pintura em óleo sobre tela, reflete estados de espírito

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No entanto, seu trabalho não se resume a esforços de distorção e reinvenção da realidade. Destacam-se também no conjunto pinturas que recortam fragmentos banais da vida: uma pomba aninhada nas vigas de uma casa, duas sardinhas num prato, o céu cinzento antes da chuva, duas crianças brincando em uma varanda engradada. Imagens muito pouco solares, sem grandes transcendências e, de maneira geral, melancólicas. “A partir de uma mesma e única observação ou de experiências visuais feitas em períodos diversos, o artista monta/edita fragmentos imagéticos, extraídos do cotidiano”, escreve o curador Fernando Cocchiarale.

Berliner, que participou da última Bienal de São Paulo e é o único artista brasileiro com trabalhos na importante Saatchi Collection, de Londres, pode ser visto como um artista da colagem e da edição, pois transfere para os mais diversos suportes narrativas construídas a partir de fragmentos do cotidiano. 


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