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Assista à história de Marcelo Vieira, que deixou uma bem-sucedida carreira militar por novos desafios

Mudar de vida, realizar um sonho, executar projetos engavetados há tempos, tudo isso parece mais próximo de se tornar real quando um novo ano se aproxima. Nessa época, muitos prometem reinventar o próprio cotidiano, seja no campo pessoal, seja no profissional. “O ano-novo é o arquétipo do recomeço, uma outra chance para a esperança”, diz o teólogo Leonardo Boff. O problema é que várias pessoas não avançam além da promessa. “Muitas vezes, racionalmente reconhecemos que mudar seria o melhor, mas emocionalmente podemos não estar prontos”, afirma a psicóloga carioca Aline Sardinha.

Esse descompasso, entretanto, não consegue barrar a obstinação daqueles que estão decididos a dar uma virada na própria história. Essas pessoas encaram os dissabores e perseguem a felicidade, a qualidade de vida, o ideal. De onde tirar essa coragem? Como vencer a acomodação? Quando se dá o “estalo”? Essas respostas podem representar a diferença entre a realização pessoal e a insatisfação duradoura. Não há receita pronta, mas especialistas em comportamento indicam que idade ou classe social não são determinantes. As circunstâncias é que têm um peso significativo nessa decisão.

Existem viradas para superar momentos difíceis, como a demissão, o divórcio ou a doença, e aquelas opcionais, em que, mesmo estando bem, a pessoa sente necessidade de mudar. Este segundo tipo é o ideal, como identifica o consultor de negócios César Souza, autor do livro “O Momento da Sua Virada” (Ediouro). “Assim, há tempo para traçar o próximo patamar da vida e mais chance de a mudança dar certo”,
diz ele. Um dos mais importantes requisitos para o êxito nessa empreitada é o temperamento, já que mudar radicalmente exige uma boa dose de coragem. “Quem tem medo só pensa no que pode dar errado e precisa de alguém que o empurre.

O corajoso sempre vê o futuro melhor do que o presente”, explica a psicóloga Rebeca Fischer, instrutora da Sociedade Brasileira de Programação Neurolinguística. Não é que o medo seja eliminado, já que mesmo aqueles que ousam sentem um “friozinho na barriga” ao dar um passo à frente.

O pulo do gato é manter os demônios sob controle.
O teólogo Boff acredita que todos têm potencial para vencer a inércia e seguir novos rumos. “O ser humano sempre quer a felicidade e o caminho para isso não é fazer emendas, mas buscar um novo começo.” ISTOÉ colheu histórias de pessoas que deram a virada em suas vidas. Elas contam de onde tiraram inspiração para enfrentar os novos desafios e mostram que, nessa hora, um dos melhores truques é acreditar naquele lema que afirma: o melhor está por vir. Feliz 2010!

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Outras pistas

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A semente da virada do ex-piloto Raul Boesel, 52 anos, foi plantada ainda na adolescência, em Londres, num memorável show da banda Pink Floyd, na década de 80. Mas ficou engavetada durante décadas, tempo em que ele construiu uma sólida carreira de piloto. Boesel começou a correr no kart aos 16 anos e ficou no automobilismo até os 48, mas sempre se interessou pela tecnologia na música. “Só nunca imaginei que ela poderia ser a minha profissão.” Desgastado no automobilismo, aos 45 anos, já pensava mais em música do que nos carros. “Foi quando decidi que era hora de mudar.” Aos 49, um ano após deixar a carreira de piloto, se empenhou com toda a energia para se tornar DJ. Contratou um professor e passou a treinar três vezes por semana, quatro horas por dia. Até sentir-se seguro para  primeira performance, acumulou duas mil horas. “No início, havia muito preconceito. As pessoas diziam que seria apenas um hobby, que eu fazia aquilo para me manter na mídia e que eu era muito velho para estrear como DJ.”

Desde 2003, ele frequenta todos os anos os festivais de Ibiza, a meca da música eletrônica. Neste ano, se apresentou pela primeira vez na cidade espanhola. E os novos desafios continuam. “Agora, quero me dedicar à produção musical.” Realizado, diz que não se arrepende da escolha. “O automobilismo ficou para trás. Assisto a todas as corridas e dou apoio aos meus sobrinhos que estão praticando, mas correr não me faz falta.” Boesel diz perceber algumas semelhanças entre o automobilismo e a música. Como o ritmo intenso de viagens, por exemplo. Mas, na lista das vantagens, o trabalho como DJ tem uma recompensa maior.
“Ao contrário das pistas de kart, nas de dança, o contato com o púbico é direto.”

Adeus, mesmice

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O administrador de empresas carioca Luciano Monteiro de Miranda, 34 anos, tinha um ótimo emprego, uma boa condição financeira, um namoro prazeroso, uma filha de 15 anos. Uma vida de novela, tendo como pano de fundo a Cidade Maravilhosa. Mas não estava feliz. Para reverter a situação, fez as malas e se mudou há três semanas para Vancouver, no Canadá, deixando para trás uma bem-sucedida carreira na área de vendas da IBM. Com o visto de imigrante em mãos, ele pretende adotar um estilo de vida totalmente diferente. “Decidi sair do meu País porque senti que precisava olhar para dentro de mim e ir em busca de novas aventuras”, conta Miranda. “Não queria levar aquela vida para sempre”, revela. O administrador, no entanto, reconhece ter sido difícil deixar a filha de 15 anos, a namorada e os pais, que têm mais de 70 anos. “Sempre que penso no quão significativa é essa mudança, bate uma ponta de desespero.

Para evitar isso, procuro não pensar naquilo de que estou abrindo mão. Só assim, terei forças para seguir em frente”, diz. Mas arrependimento não faz parte do seu repertório de emoções. Afinal, ele planejou a mudança durante dois anos e meio. Em Vancouver, não tem pressa de arranjar um emprego. “Quero me estabilizar, achar um apartamento e concluir o curso de inglês”, planeja Miranda, que admite ter ouvido muitas críticas da família e de amigos. “Eles não entendem por que saí de lá, se eu tinha tudo. Mas o fato é que eu não aguentava mais o rame-rame da vida que levava no Rio de Janeiro”, admite. Enquanto aproveita os novos ares, Miranda procura fazer todas as atividades de lazer que não fazia no Brasil, principalmente as ligadas a esportes. “Quando nos sentimos corajosos, temos forças para continuar lutando.”

Ela perdeu 20 quilos

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Desde pequena, a psicóloga mineira Renata Gonzaga, 31 anos, brigava com a balança. Seu biotipo,de gordinha não era problema na infância, mas tornou-se uma preocupação na adolescência. “Tinha mais dificuldades para conseguir namorados, era motivo de brincadeiras”, recorda. Ela, porém, nunca tomava uma atitude séria para perder peso. “Fazia dieta um tempo, mas o objetivo era sempre ficar em forma para a próxima festa”, diz. Logo voltava a comer descontroladamente. O estalo veio de repente, de frente ao guarda-roupa. “Quando notei que para sair eu tinha apenas uma peça do meu tamanho, vi que era o momento de buscar uma solução definitiva.” A decisão de procurar o grupo Vigilantes do Peso coincidiu com o fim do curso de psicologia.


Em um ano, ela emagreceu mais de 20 quilos graças à reeducação alimentar. “Sou outra pessoa”, diz ela, que há dois anos mantém-se nos 61 quilos. Típico caso de gordinha com baixa autoestima e sinais de depressão, Renata aprendeu a importância da perseverança. “Para emagrecer é preciso mudar nossa cabeça e os nossos hábitos”, prega ela, que agora tem um incentivador a mais para manter o peso: o noivo, com quem vai se casar em breve.

O médico que dá as cartas

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Aos 17 anos, o carioca Leonardo Bello, 33, decidiu que queria ser médico, pois “gostava de ajudar as pessoas”. Após seis anos de faculdade, quatro de residência em imunologia pediátrica e dois anos de especialização na Alemanha, começou a questionar a sua escolha. “Ficava até dois dias e meio sem dormir”, lembra. Num desses plantões, conheceu uma pessoa que foi decisiva para sua virada – um médico de 60 anos, muito talentoso, mas pouco reconhecido no meio e com patrimônio modesto. “O grande problema da medicina é que, se você não tem talento para os negócios, vai dar plantão a vida toda. Não queria me matar de trabalhar e não ir além.” Durante a especialização na Alemanha, Bello se distraia com o pôquer online.

De volta ao Brasil, teve a ideia de organizar um torneio entre amigos. O pequeno hobby se tornou um evento para 100 pessoas. Assustado com a magnitude da sua ideia despretensiosa, descobriu um novo traço da sua personalidade: o empreendedorismo.

“O pôquer me abriu várias oportunidades”, diz o médico, que, junto com dois sócios, criou a empresa Nutz, exclusiva para as competições de pôquer. O negócio cresceu, deu retorno financeiro e, em 2006, eles lançaram o torneio nacional. Há um ano e meio, o carioca trocou a medicina pelo jogo em definitivo. “Ganho dez vezes mais do que ganhava quando era médico”, diz Bello, que pretende utilizar parte dos ganhos para construir um centro de apoio às crianças portadoras de HIV. “Como médico, jamais teria dinheiro para concretizar este sonho.”

Largou o marido e abraçou o piano

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Beth Ripoli, 57 anos, passou a infância atormentada pelo pai, que insistia para que ela estudasse piano. Obediente, fez aulas dos 6 aos 16 anos. Mas detestava, confessa. Aos 20, ela se casou e deixou Piracicaba (SP), para morar na capital. Livrou-se do instrumento para se tornar uma devotada dona-de-casa. Aos 30 anos, ficou doente – foi diagnosticada com artrite reumatoide. Procurou vários médicos, mas nenhum tratamento funcionava. “Eu não podia esticar a perna, levantar da cadeira e usar salto alto”, lembra. “Até que me aconselharam a praticar piano para exercitar a musculatura das mãos e dos braços.” Beth, então, entrou para a escola do Zimbo Trio. Após dois anos de aulas, foi convidada para tocar na noite. “Mas meu marido disse que não permitiria”, conta. Beth não teve dúvidas: pediu a separação. Sofreu perdas materiais e ficou impedida de ver o filho, então com 13 anos, por um ano. Em compensação, a dor da artrite sumiu. “E me diverti muito trabalhando nos bares nas turnês.” Aos 45 anos, gravou o primeiro CD, com composições próprias. Para completar a guinada, também encontrou um novo companheiro. Está casada há 21 anos com uma pessoa que respeita suas escolhas, gosta de frisar.

O chamado da saúde

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Algumas vezes, dar a virada é questão de saúde. Foi o caso do empresário paranaense Marcos Vilas Boas, 40 anos.
Em 2003, ele abriu uma empresa em São Paulo para ampliar seus negócios – uma rede de oito hotéis. “Trabalhava todos os dias, das 8h à 0h. Ao chegar em casa, não conseguia dormir e assistia à televisão durante a madrugada”, lembra Vilas Boas, que visitava a mulher e a filha em Curitiba apenas uma vez por mês. O sono só vinha induzido por remédios. As crises de enxaqueca eram frequentes e, pelo menos uma vez por mês, as dores insuportáveis o levavam ao hospital. Até que a rotina massacrante atingiu o limite das forças físicas. “Um dia, acordei e disse ‘chega!’”, afirma o executivo, que, para completar, fumava um maço de cigarros por dia. “Joguei o cigarro fora, procurei um médico e contratei um preparador físico.” Hoje, é um triatleta que nem lembra quando teve a última crise de enxaqueca. “Quanto mais a gente faz atividade física, mais tem disposição para trabalhar. Hoje, levo menos tempo para fazer as mesmas coisas. Tudo é possível com disciplina.” A televisão? Virou objeto de decoração em casa. “Assistir à tevê é a prova da falta do que fazer. Com este tempo, a gente faz esporte.”


Da farda ao consultório

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Como soldado do Exército, ele integrava a escolta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Nas Forças Armadas desde os 19 anos, fazia parte de um pelotão de investigação criminal que prestava serviços às autoridades que vinham a São Paulo. Tudo caminhava para que o paulista Cleber Soares se consolidasse na carreira militar, até que conheceu a futura esposa, que o influenciou a cursar odontologia para trabalhar com ela numa clínica própria. Como os dois projetos eram incompatíveis, ele largou o Exército aos 27 anos para começar o novo curso. “As Forças Armadas ajudam muito na formação moral do ser humano, mas a rotina cansa”, diz Soares, atualmente com 33 anos. Ele também ficava preocupado com o futuro. “Na vida militar, além do expediente normal de trabalho, que inclui os finais de semana, existem os serviços extras. Queria ter mais tempo, construir uma família e ter mais dinheiro no futuro”, explica. Depois de formado dentista, Soares decidiu dar outra guinada e preferiu se dedicar à clínica que montou com a mulher. “Há poucos profissionais na área que têm perfil empreendedor”, afirma. O casal montou a Sorridents, uma rede de clínicas odontológicas. “Não havia nenhuma certeza de que a mudança que fiz fosse dar certo, mas arrisquei e funcionou”, diz o próspero empresário.

A mulher de diplomata que virou mãe de santo

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A atribulada vida de mulher de diplomata trouxe Gisele Binon ao Brasil em 1959. Além dos salões acarpetados, a francesa doutora em letras pela Sorbonne foi visitar um terreiro de candomblé na Baixada Fluminense. Após oito anos viajando pela África, queria ver os rituais brasileiros de inspiração afro. A visita redefiniu a vida de Gisele. Ao som dos atabaques e diante da dança ancestral, ela entrou em transe. “Senti um frio na espinha e fui ao chão”, recorda. Intrigada, por muito tempo viveu um misto de temor e atração. Ao fim, rendeu-se e iniciou-se no candomblé. Nos anos seguintes, voltou para a França, separou-se do marido, deixou seus pais cuidando dos dois filhos e decidiu retornar ao Brasil. Em 1972, abriu um terreiro em Duque de Caxias (RJ), onde vive até hoje, aos 86 anos. “Decidi ser dona da minha vida”, diz. “Não queria mais a rotina triste e sem graça da França.” Não foi uma decisão fácil. Trocar Paris pelo Rio, a carreira de doutora em letras pela de mãe de santo, a rotina sofisticada de embaixadas pelo subúrbio carioca, nada disso foi feito sem medo. “Não há um caminho único. É preciso levar em conta as circunstâncias de cada um”, afirma ela. Com a separação, resolveu fazer o que seu coração mandava. “Não é fácil uma virada assim, principalmente para as mulheres, que ainda se dedicam ao lar, aos filhos e ao marido.”

Duas guinadas para dar certo

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Cansado de sua função de metalúrgico na empresa Cosigua, Rodolfo Lima resolveu realizar o sonho de abrir o próprio negócio em 1989. Pediu demissão, juntou as economias e comprou um bar. “Foi a pior coisa. Desenvolvi alcoolismo, acabei com o negócio e com meu casamento”, recorda. O que poderia ter sido a grande virada terminou em decepção. Certa vez, alcoolizado, torceu o joelho e procurou ajuda na acupuntura. Deu tão certo – curou-se até do vício – que ele decidiu fazer um curso de terapias corporais, que engloba acupuntura, do-in e outras técnicas. Gostou, fez empréstimos bancários e deu uma nova chance ao seu lado empreendedor. “Primeiro, comecei a atender pacientes. Depois, a formar terapeutas”, conta. Hoje, é dono do Centro de Estudos do Corpo e Terapias Holísticas, que forma 80 alunos por ano, tem convênio com 13 empresas e dispõe de uma agenda de 2.500 clientes. Dessa trajetória, ele tirou uma lição importante: “Antes de fazer grandes mudanças, é preciso conhecer o novo terreno”, diz. Na primeira tentativa, a ansiedade de querer ser dono do próprio nariz o fez passar por cima de precauções básicas. Da segunda vez, estudou bastante para ter certeza de que era seu projeto de vida.
“Se tivesse desistido no primeiro fracasso, não teria chegado até aqui.”

Herói, que nada

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A vida de Marcelo Vieira parecia um filme de aventura. Aos 26 anos, o paulista, oficial do Exército desde os 19, se tornou comandante e instrutor do pelotão que integrou as forças de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti. Suas funções iam desde o treinamento teórico até as instruções dos armamentos militares e explosivos. Naquela mesma época, ele concluiu a faculdade de design. Bateu a indecisão: o jovem não sabia qual rumo dar à sua vida. Foi então que Vieira decidiu utilizar como critério aquilo que realmente o fazia feliz – a possibilidade de desenvolver atividades diversificadas. No Exército, isso não era possível, segundo ele. “Aquela rotina seria a minha vida para sempre”, afirma. O ex-militar, hoje com 28 anos, conta ter ouvido muitas críticas. “As pessoas achavam que eu não deveria abandonar a estabilidade do Exército por um mercado incerto, que oscila com as crises.” Mas, como todas as pessoas que têm coragem para dar a virada, ele não deu ouvidos. “Não tenho nenhum arrependimento em relação à minha escolha. Claro que sinto saudades, mas o que eu queria mesmo era inovar.” Vieira percebeu que as apresentações em power point para grandes empresas eram um nicho de mercado na época.

“O conhecimento da formulação de estratégias militares me ajudou a desenvolver os projetos na área de tecnologia”, diz ele, dono da empresa Meu Estúdio, especializada em apresentações corporativas.

Tudo por um amor suíço

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Há dois anos, a catarinense Denise Prado, 46 anos, deixou um casamento de 17 anos e três filhos – uma menina de 17, outra de 15 e um menino de 10. “Estávamos no limite, já dormíamos em quartos separados”, conta. Denise era dona de uma escola de dança de salão em Florianópolis e, em uma das aulas, conheceu Bernardo, um suíço. Os dois engataram um romance, até que ele teve que voltar para casa. Mas o novo casal continuou se comunicando freneticamente pela internet. Ao perceber que Denise estava envolvida com outro homem, o marido sentenciou: “Vá embora com ele, eu cuido das crianças.” A catarinense não sentiu culpa, e sim alívio, mas a decisão não ocorreu sem conflitos. “Fui muito julgada.
A minha sogra ficou indignada. O meu irmão não me perdoa até hoje. O que me deu forças foi a certeza de que, se eu não fosse para a Suíça, me arrependeria para o resto da vida”, afirma.
A filha do meio foi a que mais sofreu. Ela chorava muito, pedia para que eu voltasse. Retornei para ficar um mês com ela.”, lembra. Denise conta que planeja levar os filhos para estudar na Suíça. Quanto às críticas, diz ter a consciência tranquila.
“Se meus filhos tiverem algum problema com isso, que procurem um psicólogo”, sentencia, ao lado de seu suíço.
 

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O empresário que virou mochileiro

Depois de passar décadas dirigindo empresas, ele aproveitou um momento de crise para largar tudo. E hoje passa os dias rodando o mundo e curtindo a natureza

Francisco Alves Filho

Mesmo quando passava boa parte de seus dias em intermináveis reuniões de negócios para administrar suas duas empresas, a Companhia Mercantil Itaipava e a Rede Bandeirantes de Postos, além de outros pequenos negócios, o carioca Richardson Valle não deixava de pensar nas questões espirituais e ambientais. Nos raros momentos de folga, viajou para a China, Índia e outros cantos do planeta, onde pôde captar o que chama de energias positivas. “Sempre me interessei pelos mistérios da alma, mas não tinha tempo para me dedicar como gostaria”, diz ele. A oportunidade surgiu em 2006, quando suas empresas entraram numa grave crise que culminou no fechamento de todo o grupo. Valle enxergou, no meio dos dissabores, uma oportunidade positiva: poderia finalmente mergulhar nos estudos dos temas que mais o interessavam. Ele conta que resistiu às boas propostas para trabalhar como executivo de outras empresas e ter direito a benesses que dão segurança e conforto. “Fui empresário por quase cinco décadas. Percebi que havia chegado a hora de fazer o que realmente gostava”, diz Valle, hoje com 65 anos. Depois de certificar-se que os dois filhos do ex-casamento estavam amparados, tornou-se um mochileiro internacional e há três anos viaja o planeta aprimorando o espírito e a relação com o meio ambiente. “Aprendi que os dois assuntos estão intimamente ligados”, diz.

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Há poucos dias, o ex-empresário chegou de uma viagem pelos Andes peruanos e já está novamente na estrada, dessa vez rumo à Floresta Amazônica. “Não tenho mais um endereço fixo, cada dia posso estar num lugar diferente”, afirma. “Meu carro é o metrô, o ônibus ou meu tênis”. O momento crucial de sua mudança aconteceu no intervalo entre a derrocada de seus negócios e os convites para voltar a trabalhar nas empresas de amigos. Segundo ele, até hoje, as propostas são freqüentes. “Alguns amigos não entendem que estou melhor assim”, diverte-se ele. “Acho que todos devem correr atrás de sua felicidade e é isso que estou fazendo.”

 

Do Sena para o Leblon

A história do jovem economista francês que largou o trabalho em Paris para ter uma vida mais tranquila perto do mar, no Rio

Na praia do Leblon, no Rio de Janeiro, ele é conhecido como Mateus. Quem o vê de short e sem camisa batendo papo com os amigos na areia pode imaginar que é um típico carioca. Seu verdadeiro nome, no entanto, é Matthieu Stanic, um jovem de 26 anos nascido em Paris, que há um ano trabalhava de terno e gravata como operador do mercado financeiro numa importante seguradora francesa. “Trabalhei 3 anos lá com um objetivo em mente: juntar dinheiro para viajar ao Brasil e viver perto do mar”, conta ele, que é formado em Economia. Conseguiu o bastante para viajar, mas para se manter aqui tem sido criativo e diversificado. Dá aulas de francês na praia, onde junta o útil ao agradável, já trabalhou como gandula nas redes de vôlei e como ajudante de pescadores. “Sou inquieto e tenho a necessidade de mudar constantemente”, explica. “A única coisa que não muda é meu fascínio pelo mar”.  E pelo Rio de Janeiro.

Por conta desta inquietude, Matthieu já planeja novas mudanças. “Pode ser que volte a trabalhar na antiga função para juntar dinheiro e comprar um veleiro”, diz o jovem, sem precisar datas. O certo é que ele não hesita um minuto quando acha necessário renovar sua rotina. Mas prefere não dar conselhos. “Eu sou solteiro, sem dependentes. É difícil dizer a alguém que tem família e outras responsabilidades que mude tudo na vida”, pondera. Mas quando fala de si mesmo, diz que em momento algum conseguirá parar e viver um cotidiano que não o satisfaça. E admite que, algumas vezes, isso causa contratempos. “Não é fácil dizer a uma namorada que seu coração está pedindo uma mudança, que precisa viajar , sair por aí. Isso já aconteceu comigo”, conta. “Mas é preciso ser sincero consigo mesmo e com as pessoas que se ama”. Difícil discordar dos argumentos desse franco-carioca.

 

Do tédio a uma nova experiência

Paulo deixou o trabalho num cartório para fazer um curso de garçom na Espanha. Deu tudo errado. Mas ele está feliz

Durante 10 anos, o paulista Paulo Rodolfo Simeão trabalhou num cartório, fazendo serviços burocráticos. Desde 2007, mora na Espanha e se diz muito mais feliz do que era quando vivia no Brasil. Por aqui, Paulo teve problemas com o chefe e conta que não suportava mais a sobrecarga de trabalho e a remuneração incompatível com o estresse que enfrentava. No entanto, a decisão pela mudança veio acompanhada de uma grande decepção. Ele fez um teste em São Paulo para trabalhar como garçom na Espanha. Foi selecionado, mas teria de pagar R$ 4 mil para assumir o cargo na cidade de Palma de Maiorca. “Quando cheguei lá, não tinha empresa, não havia nada. Era uma fraude”. Desiludido, ficou desempregado durante um mês e meio, até que soube de uma empresa que contratava pessoas para serviços domiciliares.

“Fui contratado para cuidar de um casal de idosos”, conta. “Ganho menos do que no Brasil, mas sou mais feliz. Não preciso lidar com documentos, burocracia, conviver com juízes e auditores e ficar preso no escritório. Gosto de conviver com o ser humano e lidar com questões emocionais”. Com o casal de idosos – ele tem 75 anos, e ela 72 – Paulo aprendeu a importância de aproveitar a vida, cuidar da alimentação e fazer atividades físicas para viver bem por muitos anos. “Um dia, pretendo voltar ao Brasil e trabalhar com saúde ou estudar medicina.”

 


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