O escritor inglês Evelyn Waugh (1903-1966) é um dos melhores exemplos do mais puro humor britânico – aquele que o leitor menos atento leva alguns instantes para registrar, que não escancara o riso, mas deixa na memória uma marca indelével de anedota inteligente e inspirada. Malícia negra (Editora Globo, 270 págs., R$ 29) é um ótimo exemplo de crítica social do colonialismo, que tanto gera sorrisos quanto uma certa dor na consciência de todos nós ocidentais.

A história se passa no reino imaginário da Azânia, que na época do lançamento do livro, em 1932, foi considerado um simulacro da então tumultuada Abissínia, atual Etiópia. Seu imperador fictício, o deslumbrado Seth, teria sido inspirado no imperador Haile Selassie, hoje guru dos rastafári jamaicanos. Tais referências foram categoricamente rejeitadas pelo próprio autor, apesar de ele mesmo admitir no prefácio da reedição de 1962 que a obra foi escrita a partir das experiências de uma longa estada em diferentes regiões da África oriental e central.

Mas o que mais se destaca no trabalho de Waugh é sua capacidade de ridicularizar a sociedade colonialista britânica e a cicatriz que ela deixou nos líderes de uma África incipiente na sua luta pela independência e emancipação. Para muitos, a liberdade era indissociável da idéia de que civilização e modernidade passavam forçosamente pela cultura ocidental. Tanto no que de melhor havia como no seu lado mais engessado e anacrônico. Dos contrastes destes dois mundos, Evelyn Waugh constrói um universo rico em referências interculturais com elegância e sarcasmo que tornam a leitura irresistível.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias