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Nas últimas semanas ganharam substância as conversações sobre a inevitável candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, à Presidência. Os clamores pelo nome do socialista têm origem dentro do próprio PSB, de grande parte do empresariado e até de alguns setores do PT, incomodados com o tamanho do espaço ocupado pelo PMDB no Legislativo e Executivo. Ciente do papel que é chamado a desempenhar no novo cenário político do País, Campos pela primeira vez quebra o silêncio sobre suas verdadeiras ambições. À ISTOÉ, ele disse que seu prazo para decidir sobre concorrer ou não à sucessão da presidenta Dilma Rousseff é janeiro de 2014. A decisão vai depender do que acontecer este ano. “Existirá candidatura se houver espaço político”, garante Campos. A cautela é óbvia. Não há motivos, por enquanto, para um rompimento com o governo. Muito pelo contrário. Para o presidente do PSB, é preciso ajudar Dilma a “ganhar 2013”. “Este ano é estratégico para tudo o que o Brasil acumulou nas últimas duas décadas, em termos de democracia, estabilidade econômica e social”, afirma o governador. “A disputa eleitoral é legítima, mas tem ho­ra para acontecer”. Em contrapartida, não interessa politicamentea Campos descartar a candidatura. O jogo duplo é conveniente. Afinal, se até janeiro de 2014 houver mesmo espaço, conforme disse à ISTOÉ, ele precisa ter musculatura política e apoios suficientes para entrar na disputa em condições de ganhar.

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Obedecendo a essa lógica, todos os passos de Campos pelos próximos dez meses estão sendo pensados e repensados, milimetricamente. Em encontros com aliados e empresários, ele age como se fosse candidato, mas jamais se anuncia como tal. Foi o que ocorreu em reunião em dezembro do ano passado, em Brasília, na sede do PSB. “Entendemos que ele é candidato”, disse um dos participantes do encontro. Para cuidar da montagem de palanques regionais até uma espécie de estado-maior da candidatura foi criado dentro da sigla. Integram esse núcleo o senador Rodrigo Rollemberg, o vice-presidente do partido, o ex-ministro Roberto Amaral, assim como os deputados Márcio França (SP), Beto Albuquerque (RS), o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, e o chefe de gabinete de Pernambuco, Renato Thièbaut. Foi Beto, aliás, quem aqueceu o debate sobre a candidatura de Campos. Na visão dele e de outros socialistas, a disputa de 2014 depende apenas da conjunção de três fatores. “Se a economia ficar estagnada, o PSDB não se firmar e a Marina Silva lançar candidatura, abre-se uma avenida enorme para o Eduardo”, diz um cacique socialista. Empresas de comunicação também foram contratadas para projetar nacionalmente a imagem do político pernambucano. Nos próximos dias, serão realizadas as primeiras sondagens de popularidade fora do Nordeste. Nos bastidores, o partido vem desenhando uma agenda nacional com participação de Eduardo Campos em fóruns e eventos para discutir os rumos da economia. Em suma, se o governador pernambucano ainda não é candidato, ele está candidato.

Mantendo a linha do jogo duplo, Campos diz que é preciso atender as bases, mas não pode deixar que “a torcida comande o time”. “A comissão técnica tem que saber fazer a mediação e colocar cada coisa em seu devido lugar.” No capítulo “colocando fim aos boatos”, Campos garante que não marcou nenhuma conversa com o ex-presidente Lula para tratar de eleições. Eles se falaram pela última vez por telefone no Natal. Emissários do ex-presidente comentaram com ele sobre a intenção de Lula marcar um encontro, nada além disso. O governador de Pernambuco tampouco conversou com Dilma sobre candidatura. “Ela foi muito elegante. Falou da necessidade de cuidarmos da relação do PSB com o governo e o PT. Disse que encara a política com muita naturalidade e não deixará nada arranhar nossa amizade”, afirma. “Precisamos ganhar 2013 e ver o que acontece depois.” Questionado sobre algum atrito que possa ter tido com Dilma, Campos silencia. Mas é fato que, após a eleição de 2012, uma ala do PT liderada por Zé Dirceu tentou convencer a presidenta a buscar um diálogo alternativo com o PSB. Ou seja, que excluísse o presidente da sigla. Obviamente, não deu certo.

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OS ARTICULADORES
O senador Rodrigo Rollemberg (à esq.) e o deputado Beto Albuquerque
integram o núcleo da pré-campanha de Eduardo Campos ao Palácio do Planalto

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O que assusta alguns petistas é a capacidade de articulação de Eduardo Campos, que dialoga com toda a base aliada do governo, mas também com a oposição. Recentemente, foi recebido pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, de quem é amigo. Conversa frequentemente com Sérgio Guerra, presidente do PSDB, que lhe passa as impressões sobre os rumos da oposição. Da mesma maneira tem a simpatia do DEM de Agripino Maia e do PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab. Ao mesmo tempo, atrai para si o PDT de Carlos Lupi e está de olho no PR e no PTB. Essa habilidade, associada aos bons resultados de sua gestão na economia de Pernambuco, atrai a curiosidade de empresários. Campos tem recebido visitas frequentes de empreiteiros e banqueiros, inclusive “amigos de Lula e do PT”. Todos o questionam sobre suas pretensões políticas e alguns, mais animados, pedem que ele se lance candidato. Estrategicamente, o governador desconversa.


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