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Qualquer partido que se pretenda vitorioso nas eleições deveria, antes de tudo, livrar-se de seus esqueletos guardados no armário. Sobretudo quando esses esqueletos são frequentemente relacionados a práticas políticas as quais a sociedade não tolera mais. Ao que parece, o PSDB almeja trilhar seu caminho até o pleito de 2014 orientado por este princípio. Atento ao calendário eleitoral, o partido vislumbra cortar na própria carne. O alvo é o deputado Eduardo Azeredo (PSDB-MG). Principal protagonista do mensalão mineiro – esquema semelhante ao escândalo petista, também tramado por Marcos Valério, de desvio de verbas públicas de estatais mineiras para financiamento de campanha –, Azeredo é réu no Supremo Tribunal Federal por peculato e lavagem de dinheiro. A expectativa é de que o mensalão mineiro seja julgado em 2014. Mas, como os tucanos não pretendem ficar com essa pendência até a conclusão do caso, há um intenso movimento pela expulsão de Azeredo dos quadros partidários. A pressão é para que ele se afaste até o Congresso da legenda, que acontecerá em abril deste ano. “É um tremendo constrangimento”, afirma um tucano paulista. “O que o Azeredo fez lá atrás, os outros políticos não têm que pagar”, diz o deputado federal Nárcio Rodrigues (PSDB-MG), membro do diretório nacional da legenda.

A 18 meses da eleição presidencial, parlamentares tucanos admitem nos bastidores que a permanência de Azeredo no bloco de oposição tem impedido que o PSDB faça um discurso ainda mais forte sobre as condenações petistas e a defesa da ética na política. O maior temor na legenda é de que Azeredo, assim como os mensaleiros petistas, também seja condenado à prisão. “Temos que resolver esse fardo para hastearmos a bandeira da ética”, disse à ISTOÉ um outro parlamentar do PSDB, presente ao Congresso paulista do partido. Tradicional parceiro do PSDB, o Democratas também pressiona pela saída de Azeredo. Dirigentes do partido argumentam – e com muita razão – que o tratamento dispensado pelos tucanos ao caso Azeredo é inversamente proporcional à maneira como as denúncias do chamado “mensalão do DEM” foram encaradas pelos caciques do PSDB em 2008. Na ocasião, o PSDB defendeu a expulsão imediata do ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, flagrado com dinheiro ilegal. O partido ainda forçou a saída da legenda de seu vice, Paulo Octávio. Na visão deles, a decisão foi a mais correta e deve ser levada a cabo pelo PSDB em relação a Azeredo. “O PSDB tem o dever moral de afastar ou até expulsar o Azeredo”, prega uma parlamentar do DEM do Distrito Federal. A postura do DEM e de setores do PSDB está em consonância com os anseios da sociedade.

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EXPULSÃO
O DEM, do senador José Agripino, também
pressiona pela saída de Eduardo Azeredo do PSDB

O julgamento do mensalão petista, em 2012, fez história e mostrou que as instituições não podem mais ser lenientes com práticas de corrupção perpetradas por políticos, independentemente do seu calibre. O que causa espécie é que o caso envolvendo o deputado tucano tenha chegado bem depois à Justiça, apesar de ter acontecido quatro anos antes do esquema petista. Somente em 2009 a denúncia foi recebida pelo ministro Joaquim Barbosa, do STF. O processo está sem relator desde que Barbosa assumiu a presidência da corte, e irá para as mãos de um novo ministro ainda a ser indicado pela presidenta Dilma Rousseff em substituição a Carlos Ayres Britto, aposentado em novembro de 2012. canalizá-lo para a campanha do PSDB. Procurado por ISTOÉ, Azeredo afirmou que pretende ser novamente candidato a deputado federal pelo PSDB. “Não existe hipótese de ele deixar o PSDB”, declarou em nota sua assessoria de imprensa. Não é o que pensam os correligionários do PSDB, que primam pela ética e retidão no exercício da política. Estes querem Azeredo fora da legenda.

Fotos: Roberto Castro/Ag. ISTOÉ; divulgação

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