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TRAGÉDIA INSPIRADORA
Deslizamentos em Petrópolis estimularam a administradora
Cláudia Martins a criar o Projeto Recicla Tecido

Os amigos de Cláudia Martins frequentemente perguntam por que, apesar das duas graduações em matemática e direito e da carreira como diretora-financeira, ela decidiu trabalhar com reciclagem de tecidos. Nessas horas ela sempre evoca os deslizamentos de terra que atingiram Petrópolis em janeiro de 2011 e deixaram mais de 35 mil desabrigados. “Foi um marco na minha vida. Fui ser voluntária e vi pessoas que tinham perdido tudo. Não tinham nem uma manta para cobrir os filhos”, diz a administradora de 54 anos.

A visão das crianças descobertas foi o estopim da ideia de recolher retalhos para fazer colchas, que doava para os moradores carentes da região. Depois que soube da nova lei sobre resíduos sólidos do País e do problema que o lixo gera na cidade, ela decidiu que iria se empenhar para manter as sobras de tecido longe dos lixões e bueiros. “Pensei que sozinha eu não conseguiria, mas poderia capacitar outras mulheres”, diz Cláudia. Foi assim que surgiu o Projeto Recicla Tecido, que ensina mulheres de comunidades da região o ofício da costura. Além de diminuir a quantidade de resíduo na cidade, as alunas de Cláudia ainda ficam com a renda dos produtos vendidos. Apenas no ano passado, 100 mulheres passaram pela experiência.

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NADA SE PERDE
Com o site B2Blue.com, Mayura Okura ajuda a reaproveitar resíduos sólidos de empresas

Resultados e atitudes como esta se destacaram no Projeto Sustentabilidade, iniciativa da Editora Três, que publica ISTOÉ. Durante todo o ano de 2012, leitores enviaram para a redação suas ideias e projetos. Escolhidas por uma comissão julgadora, os quatro vencedores ocupam estas páginas.

Outro projeto premiado também vai na linha do “o que é lixo para uns vira recurso para outros”. Esse princípio básico da reciclagem é elevado a novos patamares pela empresa paulistana B2Blue.com. No site, companhias que precisam dar um destino correto a seus resíduos sólidos encontram empresas dispostas a comprá-los. Há de tudo nesse verdadeiro mercado livre do lixo: plástico, tecido, madeira, eletrônicos, entulho, fios de cobre, papelão e até restos de comida. “Nós queremos mostrar para as empresas que os resíduos têm valor”, explica Mayura Okura, fundadora da B2Blue.com.

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MATERIAL
Itens como garrafas PET viram brinquedos no Projeto Arte Ecológica

“Uma confecção pode vender retalhos para uma fabricante de bancos de carro, por exemplo.” O foco do site, que ganha comissão em cada transação, são os negócios de pequeno e médio portes. No último mês, quase 700 toneladas de resí­duos foram comercializadas. Isso significa, segundo dados da empresa, que 865 árvores deixaram de ser cortadas para a fabricação de papel e 156 toneladas de minério foram poupadas. Bom para o meio ambiente e para o bolso das empresas.

Companhias menores e condomínios, que não dispõem de muitos recursos para programas de sustentabilidade, estão na mira de um time de engenheiros gaúchos que desenvolveu uma maneira eficiente e confiável de purificar água para reúso. A solução da OZ Engenharia combina membranas de microfiltração a um aparelho de oxidação por ozônio. O conjunto faz com que a água que sai de pias, máquinas de lavar e até de descargas possa ser utilizada novamente para regar jardins, lavar calçadas ou resfriar máquinas (leia o quadro). “O sistema é mais confiável do que os filtros tradicionais porque, quando as membranas ficam saturadas, elas naturalmente impedem a passagem de água contaminada”, explica o sócio-proprietário Fábio Rahmeier. Graças ao uso de bombas, a limpeza das membranas de microfiltração ocorre de forma automatizada, o que diminui o gasto com manutenção e mão de obra.

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Após a morte de sua mulher, em 2003, o garçom Carlos Alves Barbosa, 40 anos, se voltou para um hobby que cultivava havia anos: fazer brinquedos com materiais que outras pessoas consideram lixo, como garrafas PET, jornais e peças de eletrônicos. “Começou como distração, virou terapia e hoje eu planejo expandir a ideia”, diz Barbosa. O objetivo é criar uma escola onde pessoas de todas as idades possam aprender como reaproveitar o material que antes iria se acumular em aterros e bueiros. “Enquanto estava na Força Aérea, dei oficinas para adolescentes de 14 a 17 anos. O interessante é que nesses momentos a gente acabava também passando algo sobre as nossas experiências de vida para eles”, relembra Barbosa. Já o conhecimento sobre o meio ambiente ele reuniu no livro “Consciência Ecológica”. Agora, procura parcerias para montar sua própria escola. Com isso, pode facilitar o surgimento de mais candidatos com boas ideias para as próximas edições do Projeto Sustentabilidade.

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Fotos: Pedro Dias/Ag. Istoé; dbimages/Alamy


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