Washington Olivetto está fumando charutos – Davidoff robusto, dois por dia. Ele parou de fumar cigarros, anda cercado de seguranças, está trabalhando como nunca (a sua W/Brasil, neste momento de crise está produzindo 23 comerciais) e acaba de festejar o único Leão de Prata que o Brasil conquistou no 49º Festival Internacional de Publicidade, encerrado no fim de semana passado, com
os três filmes feitos para a campanha da Fnac: “Beethoven”, “Tubarão” e “New York, New York”. Os dois de bronze na mesma categoria filmes, a mais disputada, foram
para a DM9, com o comercial “Cego”, para
a Telefônica, e para a Leo Burnett com “Vertical”, para a Fiat.

Não foi um festival de arromba para os brasileiros, que trouxeram para casa 29 Leões, cinco a menos que em 2001, além de não estarem na disputa por Agência do Ano. Mas, certamente, foi um festival especial para a W/Brasil, que desde o início da década de 90 se vem afastando propositalmente de muitos festivais, em razão do avanço da publicidade feita exclusivamente para festivais, a tal propaganda-fantasma, expressão que o próprio Olivetto cunhou anos atrás, sob a inspiração das falcatruas de PC Farias. Os filmes premiados em Cannes foram criados quando Olivetto, dono de uma coleção de 49 Leões, estava sequestrado. “Isso demonstra o talento e a coerência da agência.”

A palavra sequestro ele não pronuncia uma única vez. Medo? “Todo mundo tem”, ele diz. Ir embora do Brasil? “De jeito nenhum.” Nem para Portugal, que ele adora e onde, há dois meses, foi procurado por dois jovens interessados em uma parceria. Como Olivetto e seus sócios, Gabriel Zellmeister e Javier Llussá, ficaram meio “frustradinhos”, como ele diz, quando se desfizeram amigavelmente da sociedade de cinco anos com uma agência portuguesa, os três resolveram aceitar a proposta para criar a agência WOP, de Washington Olivetto Portugal.

A agência tem um bom potencial, apesar do mercado português ser muito pequeno, mas nem o trauma do episódio trágico que viveu durante 53 dias conseguiu enfraquecer a forte ligação que ele tem com o Brasil. “Tenho amigos maravilhosos, e amigos desconhecidos que ainda não pude agradecer porque é muito difícil agradecer a 170 milhões”, diz em referência à comoção nacional provocada por seu sequestro.

O filme premiado em Cannes pode ser usado pela Fnac no mundo inteiro, porque é um trabalho de fácil entendimento e pode ser adaptado à Alemanha, França, Inglaterra… Olivetto está feliz, ainda que 2002 venha se desenhando para o negócio da propaganda de uma maneira muito parecida com o ano passado, “que foi certamente o pior ano que eu tive oportunidade de presenciar na minha vida profissional”. A W/Brasil deve fazer um pouco a mais do que em 2001, ele prevê. “Estou sentindo uma injeção muito forte na agência.” Ele está trabalhando num ritmo exagerado para, de alguma maneira, agradecer a seu pessoal. “O grupo foi heróico na minha ausência”, diz. “No nosso negócio, alegria é uma matéria-prima importante, e eles foram absolutamente heróicos.”