Reconhecido como um dos setores mais avançados da economia brasileira, a aeronáutica mais uma vez surpreende. Está prestes a lançar o primeiro avião comercial movido a álcool, o Ipanema EMB 202, que deve ser homologado e liberado no primeiro semestre de 2003. O monomotor, um projeto de US$ 300 mil, é indicado para uso na agricultura e possui tanque para produtos químicos como fertilizantes e adubo. No início do mês, ele passou no primeiro teste, realizado na cidade paulista de Botucatu pela Neiva, a subsidiária da Embraer que produziu a aeronave.

As pesquisas sobre o uso do álcool na aviação são conduzidas desde a década de 80 pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA), em São José dos Campos, o berço do Proálcool. “A aeronave usa um combustível renovável de importância estratégica para a aviação”, defende o brigadeiro Álvaro Dutra, que acompanhou o projeto quando ele ainda era cercado de descrença.

A aeronave custará US$ 227 mil, usa o mesmo álcool dos carros e pode reduzir em mais de dois terços o gasto com combustível. Um avião convencional queima 70 litros de combustível por hora de vôo e cerca de 400 litros por safra agrícola, ao custo de R$ 100 mil. O tanque de álcool reduziria a despesa para R$ 30 mil por safra, segundo o gerente da Neiva, Fabiano Zaccarelli. O Ipanema pode ganhar os ares já no ano que vem. “É o primeiro avião a álcool em escala comercial”, afirma.

Para garantir a viabilidade do uso do álcool como combustível de aviação, a Neiva teve de fazer a conversão do motor americano Lycoming. “Demos um salto tecnológico”, exulta Zaccarelli. O executivo explica que em várias regiões do País o uso do avião para pulverizar defensivos agrícolas se torna obrigatório para a exploração do potencial da terra, tanto no cerrado, onde há extensas plantações de soja, quanto no Sudeste, particularmente em São Paulo. A aeronave a álcool não é apenas um sonho de consumo dos agricultores, mas um recurso tecnológico capaz de tornar ainda mais viável a elevação da produção agrícola do País.