Teima-se em dizer que o adolescente brasileiro não é muito chegado à leitura de livros. Mas esta imagem pode estar mudando, atesta José Henrique Grossi, vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL). “Ainda não temos números que quantifiquem o aquecimento deste mercado. No entanto, há indícios significativos, como as pesquisas realizadas através dos provões e da entrada das grandes editoras no segmento”, diz ele. Ratifica sua tese o lançamento do novo selo Objetiva Jovem, que brinda leitores juvenis com autores consagrados na linha de Luis Fernando Verissimo e José Roberto Torero, que, respectivamente, assinam O santinho e Uma história de futebol, e de Carlos Heitor Cony, que prepara uma adaptação do romance de Alexandre Dumas, O máscara de ferro. Também pensando no filão, a recém-criada Rocco Jovens Leitores tem investido em nomes do peso de Fernando Sabino, autor de Os caçadores de mentira, e de Nélida Piñon e Lygia Fagundes Telles, com obras no prelo. Sem contar as dezenas de exemplares lançados anualmente pela Melhoramentos, uma editora tradicionalmente ligada ao público infanto-juvenil.

Eventos do mercado editorial também estão focados nesta direção.Em novembro de 2003 está prevista a primeira versão paulista do Salão do Livro Juvenil, já tradicional na agenda carioca. A aposta mostra-se correta. Pesquisas realizadas na última feira Primavera dos livros, no mês passado, no Rio de Janeiro, demonstram que os títulos mais vendidos foram os infanto-juvenis, conforme atesta Taís Marques, uma das organizadoras. O boom não deve ser creditado apenas ao fenômeno da série Harry Potter, da escocesa J.K. Rowling. O presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, Paulo Rocco, da editora que leva seu sobrenome, diz que o adolescente está lendo porque as crianças estão sendo mais incentivadas à leitura. “Isso significa uma geração futura de leitores potenciais”, acredita Rocco.

A amizade de parte da criançada com os livros vem da insistência de pais mais esclarecidos e das escolas. Mas editoras têm cumprido sua parte, lançando edições bonitas, interativas e atraentes. “A linguagem tem de ser ágil e de identidade com seu público. E o livro não pode ser muito longo”, ensina Rocco, lembrando das exceções de Harry Potter, cujo quinto volume, previsto para sair no próximo ano, deve esbarrar nas mil páginas. No Brasil, a série já vendeu mais de um milhão de exemplares. Um outro atrativo certeiro, segundo o editor, é associar a obra a materiais, como marcadores, caderninhos, canetas, e aos eventos literários. “O Salão do Livro Juvenil está cada vez maior, prova de que o público pré-adulto está criando hábitos de leitura.”

Explosão – Novos e curiosos caminhos igualmente ajudam a aproximar a turma jovem da literatura, afirma Breno Lerner, diretor da Melhoramentos, editora com 113 anos de atividade, que dedica 55% de seu catálogo a este mercado. “A venda de CDs nas livrarias fez muitos jovens descobrir os livros. Eu diria que, no Brasil de hoje, o segmento juvenil cresce mais do que o infantil. Mas foi a explosão da literatura infantil nos últimos tempos que resultou na explosão da juvenil.” Nesta semana, a editora está brindando seu público com a série best seller mundial Enigmas de Baker Street – charadas de Sherlock Holmes. Segundo Lerner, em todo o mundo o detetive centenário é classificado como literatura juvenil, embora muitos o identifiquem com o público adulto.

Mas adulto mesmo é o tratamento dado pela Objetiva Jovem aos dois títulos que inauguram o selo, com uma tiragem de cinco mil exemplares cada um. Só no primeiro dia foram vendidos dois mil livros, conta a diretora editorial Isa Pessôa. “Fizemos uma estréia de qualidade. Vamos continuar investindo em mestres da literatura. São autores que nós adoramos e é hora de nossos filhos adorarem também. Mas teremos espaço para novos talentos”, diz. O alvo é o leitor com idade a partir de nove anos, que gosta de livro de verdade e descarta o excesso de ilustrações e dobraduras características do consumidor infantil. Foi assim, brincando de ler, que as crianças de ontem viraram os leitores juvenis de hoje, e amanhã podem formar uma nova geração mais letrada.