As doenças de pele costumam estigmatizar e trazer sofrimento a suas vítimas. Uma marca, uma mancha que seja, podem incomodar e derrubar a auto-estima do doente. Quando essa enfermidade é o vitiligo, que causa manchas brancas na pele e tem entre os alvos principais o rosto e as mãos, justamente áreas bastante expostas, a situação é ainda pior. Para ajudar esses pacientes, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na capital paulista, acaba de abrir um ambulatório especializado no combate ao mal. No local, os pacientes receberão atendimento individual, multidisciplinar e contarão com auxílio psicológico. “Estamos centralizando o conhecimento. Teremos condições de entender melhor o vitiligo, além de oferecer recursos confiáveis à população”, explica a dermatologista Valéria Petri, coordenadora do ambulatório. A médica acredita que a iniciativa também ajudará a diminuir o charlatanismo, já que o vitiligo, que ainda não tem cura, se tornou um prato cheio para aproveitadores que desejam vender saídas milagrosas.

Estima-se que aproximadamente 1% da população mundial seja vítima
da doença. No entanto, apesar dos esforços da ciência, pouco se conhece sobre ela. De acordo com a dermatologista Denise Steiner, de São Paulo, parceira de Valéria no novo ambulatório, a teoria mais aceita hoje é a de que o vitiligo seja uma doença auto-imune. Isso significa que o próprio corpo, por razões desconhecidas, produz anticorpos contra o melanócito, célula produtora da melanina, o pigmento que dá coloração à pele. É por esta razão que, nas regiões onde ocorre esse fenômeno, a pele perde a cor. “O vitiligo pode atingir só um lado do corpo (segmentar) ou ser do tipo vulgar, atacando várias partes. Nesse caso, o mais comum é o gênero simétrico, no qual as manchas aparecem exatamente no mesmo lugar dos dois lados do corpo. Mas cada vitiligo tem características próprias e por isso há necessidade de terapia personalizada”, explica Denise.

O tratamento baseia-se na utilização de remédios que deixam a pele sensível à ação da luz ultravioleta, que estimula a migração de melanócitos para as áreas afetadas. Há ainda os medicamentos chamados imunossupressores porque evitam o ataque do sistema de defesa do corpo contra o próprio organismo. Mas a recuperação muitas vezes é lenta. Alguns pacientes ficam anos se tratando para conseguir bons resultados. Existem também as opções cirúrgicas. Nesses casos, cobrem-se as regiões atingidas com células da pele extraídas de outros pontos. “Nas operações, retiram-se células sadias de uma região para que sejam implantadas nos locais atingidos e ocorra uma nova pigmentação da pele”, explica o dermatologista Carlos Santos Machado, da Faculdade de Medicina do ABC, na Grande São Paulo. “Mas, apesar dos ótimos resultados, as cirurgias tratam a consequência e não a causa do problema”, ressalva. Por isso, esses procedimentos não são garantia de que a doença está vencida.

Fisicamente, as consequências do vitiligo são apenas estéticas. No entanto, a enfermidade pode causar sérios problemas psicológicos e é por isso que tratá-la e conseguir manter uma boa auto-estima é importante. Muitos pacientes se escondem, mas essa não é uma boa saída. O advogado aposentado Augusto Pereira Junior, 78 anos, foi um dos que souberam lidar com a doença. Há quatro anos, surgiram as primeiras manchas esbranquiçadas na pele da testa, mas ele não se intimidou. Partiu para o tratamento, fez a cirurgia e hoje está bem melhor. “Houve um momento em que quase desisti de me tratar, mas a vontade de pelo menos tentar ficar mais bonito foi mais forte”, diz, bem-humorado.

Tratamento à cubana

Cuba é conhecida por oferecer o que muitos consideram um eficaz recurso contra o vitiligo. Trata-se da Melagenina Plus, uma pomada feita à base de extrato da placenta humana. “O remédio age nos melanócitos que estão ao redor da mancha. Ele estimula a multiplicação dessas células, que migram para as áreas atingidas, lhes devolvendo a cor”, afirma a dermatologista brasileira Patrícia de Oliveira Lima, médica do Centro Médico Brasil-Cuba, em São Paulo. A pomada pode ser importada por R$ 88. De acordo com Patrícia, 80% dos casos têm bom resultado. No entanto, muitos especialistas alegam que não há estudos comprovando a eficácia do remédio. Patrícia, é claro, rebate. “Temos 34 anos de pesquisas com a Melagenina Plus. O que não há é um laboratório farmacêutico enchendo os médicos de propaganda sobre o remédio”, critica.

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