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 Durante a explosão dos preços de petróleo nos anos 70, quando a Venezuela era conhecida como a “Venezuela Saudita”, os endinheirados e a classe média torravam suas economias importando de Miami carrões e bens de luxo. Agora, quando o país governado pelo coronel Hugo Chávez Frías desfruta outra vez a bonança proporcionada pelo preço do barril nas alturas (US$ 60, já tendo chegado a US$ 70), os privilegiados continuam a comprar importados, mas o governo usa parte da renda obtida com o petróleo para investir em programas sociais, conhecidos como “missiones”. É uma rede que abrange desde assistência médica aos favelados até os mercados populares com preços subsidiados. Trata-se, nos dois casos, de política ambientalista e desperdício de dinheiro fácil, hábito freqüente em países viciados pelo “ouro negro”. A Venezuela nunca investiu seriamente na diversificação das atividades econômicas nem em medidas duradouras de inclusão social. Mas o assistencialismo cativou os eternos excluídos (quase a metade dos venezuelanos) e deu ao presidente 62% dos votos, contra 38% do adversário Manuel Rosales, nas eleições de domingo 3. Desse modo, Chávez conquistou um terceiro mandato, agora de seis anos. E ele tentará se perpetuar no poder através de uma nova modalidade de revolução, a “reeleição permanente”, modificando a Constituição.

 

O apoio de Chávez entre os despossuídos tem bases concretas – e serve de exemplo uma das “missiones” mais conhecidas, o Barrio Adentro. É um sistema de saúde pública baseado na construção de consultórios populares nas favelas e comunidades carentes e na instituição de médicos de família. Para viabilizar esse projeto, o governo “importou” 26 mil médicos cubanos. Também o número de equipamentos e de leitos hospitalares aumentou. Já o projeto Robinson, elaborado por pedagogos cubanos, alfabetizou 1,5 milhão de pessoas e oferece aulas equivalentes ao ensino fundamental. Um programa muito popular é o Mercal, uma rede de mais de 15 mil mercados que vendem produtos da cesta básica subsidiados. A criação de novos programas foi ameaçada pela recente queda dos preços de petróleo, mas Chávez não se intimidou e avançou sobre as reservas internacionais do país, atualmente em US$ 35 bilhões: ele pediu ao Banco Central US$ 6 bilhões para financiar um fundo social gerido pelo governo.

As classes média e alta (a segunda é antichavista até o último fio de cabelo) não têm motivos para reclamar da vida, pelo menos do ponto de vista econômico. É uma explosão de consumo, com filas de espera para comprar carros em concessionárias, vôos internacionais lotados e redes de lanchonete em expansão – tudo turbinado a índices médios de crescimento de 7% ao ano, em média. Mas
os sinais de alarme indicando que esse tipo de crescimento não se sustenta por muito tempo já começam a soar por todos os lados. Em outubro, a inflação acumulada em 12 meses atingiu 15,5% – a maior da América Latina depois do Haiti. Mesmo assim, a taxa básica de juros está num patamar muito baixo, entre 4% e 6% ao ano. Uma abrupta desvalorização do bolívar, a moeda local, é esperada a qualquer momento. Se os preços do petróleo continuarem a cair no mercado internacional, a economia da Venezuela (quarto maior produtor mundial) sofrerá um colapso. Esse é o limite do chavismo.