Dois episódios impressionantes agitam os bastidores do futebol brasileiro. O primeiro é uma história esquisita de um jogo que não ocorreu. O segundo, surgido no rastro desta revelação, é a descoberta de que o ex-técnico da Seleção Brasileira, Mário Jorge Lobo Zagallo, cobra – e recebe – o cachê mais alto do planeta por uma série de entrevistas. Os casos estouraram na terça-feira 10, numa reportagem dos jornalisas Juca Kfouri, Erich Beting e Rodrigo Mattos publicada pelo jornal Lance!. Os três repórteres mostraram que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) recebeu R$500 mil em 1995 para jogar uma partida amistosa contra a Líbia, em Trípoli. O jogo nunca foi realizado e a CBF ficou com o dinheiro. Menos de um mês depois da assinatura deste contrato, pousou macio numa conta corrente de Zagallo no Exterior, número 10.569, do Alpha Bank Limited, no paraíso fiscal das Bahamas, um depósito de US$ 500 mil, cerca de R$ 1,5 milhão no câmbio atual, feito pela Dar El Ssada, a mesma empresa quem em nome da federação líbia, tinha assinado o compromisso com a CBF para o jogo em Trípoli. Os dois depósitos foram feitos pela mesma pessoa, Al Usta Giuma. Na tentaiva de acabar com a suspeita de lavagem de dinheiro e de deesvinvular os dois casos, a CBF se defendeu mostrando três cartas enviadas pela Dar El Ssada que liberariam a confederação para devolver o dinheiro, caso os líbios cancelacem o amistoso pela segunda vez. Mas Zagallo sofre um pouco mais para explicar as circunstâncias em que a dinheirama desembarcou na sua conta.

O contrato para o jogo foi assinado por Ahmed Ramandan, diretor da Dar El Ssada, e Marco Antônio Teixeira, tio do presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e secretário-geral da entidade, em 16 de agosto de 1995. O jogo seria realizado no dia 6 de setembro seguinte, mas foi adiado para 4 de outubro do mesmo ano e novamente cancelado. No primeiro documento exibido até agora pela CBF, datado de 27 de agosto de 1995, a Dar El Ssada pede o adiamento da partida, alegando que o estádio não ficaria pronto a tempo. Dois dias depois, em 29 de agosto, Ramadan enviou uma carta à CBF: "Ora concordamos quem no caso de que o jogo não venha a ser realizado na data acima (4-10-95) por nossa responsabilidade, renunciamos especificamente a receber de volta o pagamento efeturado a V. Sas." No dia 27 de setembro, oito dias antes da nova data, Ramadan pede o segundo adiamento, pois a Fifa estaria impedindo os líbios de realizar o jogo por causa de uma dívida não paga. "Como eles desmarcaram duas vezes, não devolvemos o dinheiro", disse Marco Teixeira através da assessoria de imprensa da CBF. "Quanto ao caso do Zagallo, é problema dele, não temos nada com isso", finalizou.

E agora, Lobo?

Zagallo falou a ISTOÉ sobre o depósito.
ISTOÉ – Por que o sr. recebeu os US$500 mil?
Zagallo – Um jornal líbio, chamado Al Saad, sei lá, queria fazer algumas entrevistas comigo. Pedi e os caras pagaram. Esse Juca (Kfouri) é um invejoso. Sempre quis me detonar, inclusive na copa de 1998, para colocar o Luxemburgo.

ISTOÉ – Nas não é muito dinheiro para uma entrevista? O ex-presidente dos EUA, Bill Clinton, que até ontem mandou no mundo, cobra US$150 mil por palestra…
Zagallo – Problema dele. Ninguém tem nada com isso. O Pelé não tem o preço dele? E o Guga? O único tetracampeão mundial também pode ter o preço dele.

ISTOÉ – O sr. teme ser investigado pelo Fisco ou pela Justiça?
Zagallo – Não é crime ter conta no Exterior, desde que você declare tudo bonitinho…

ISTOÉ – E o senhor declarou?
Zagallo – Isso é problema meu e da Receita Federal.