No início deste ano, um erro na previsão do tempo custou caro aos meteorologistas do Rio de Janeiro. Tudo aconteceu depois de o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prever que a cidade poderia enfrentar tempestades e fortes ventos no réveillon. O prefeito carioca Cesar Maia fechou o tempo e armou uma briga com o chefe do Inmet, Luiz Carlos Austin. Alegou que o meteorologista poderia ter causado pânico, prejudicando a festa de final de ano.

A catástrofe se cumpriu, só que com nove meses de atraso. Na manhã do sábado 7, os cariocas foram acordados pelas rajadas de vento de até 126 quilômetros por hora, o equivalente à velocidade de um tornado moderado. No interior do Estado, as rajadas mais fortes ocorreram em Resende. Na capital, o bairro mais afetado foi a Barra da Tijuca, na zona oeste.

Quando a ventania cessou, o cenário era de destruição: sinais luminosos e placas de trânsito tombados, árvores atravancando o tráfego e telhados suspensos. Parte da cidade ficou às escuras e muitas regiões, sem água. O Rio não era castigado por um vendaval dessa intensidade desde a década de 70.

Segundo a meteorologista Nuri Oyamburo de Calbete, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o fenômeno é comum nesse período do ano, na transição entre as estações. “É comum surgir linhas de instabilidade no Sudeste devido ao encontro de massas de ar frio e quente”, explica Nuri. A consequência são ventos fortes e queda abrupta na temperatura. Em São Paulo, os termômetros, que marcavam 30 graus na sexta-feira 6, registraram 14 graus no dia seguinte ao temporal. A capital paulista foi menos castigada pelo vento, mas não escapou das chuvas de granizo.

A imagem de satélite na véspera do feriado de 7 de Setembro sinalizava para a chuvarada. A previsão para o final de semana era de tempestade severa com possibilidade de vento forte e granizo. Mostrava ainda a presença de cumulus nimbus, aglomerado de nuvens que gera ventos superiores a 100 km/h.

“Divulgamos a entrada da frente fria, mas não tínhamos como prever os ventos de 120 quilômetros por hora, o que é tecnicamente impossível”, explica Luiz Carlos Austin, do Inmet. Irritado com as acusações de que o instituto falhou ao não alertar a proximidade do temporal, Austin contra-atacou: “Se alguém tiver um modelo meteorológico que permita fazer esse tipo de previsão com 24 horas de antecedência, pode me procurar que eu vou usá-lo."