A imprevisibilidade no futebol é notória. Na última Copa do Mundo, as seleções brasileira e alemã eram consideradas fracas antes do torneio, mas seu desempenho superou as expectativas e os times se enfrentaram na final. O resultado se conhece: por dois gols a zero, o Brasil levou a taça e o título de pentacampeão. Apesar de ser difícil explicar a lógica de uma partida, os cientistas se amparam em equações matemáticas para decifrar o futebol.

A pesquisa mais recente sobre o assunto foi publicada na revista britânica Nature. O professor de física Tamas Vicsek, da universidade húngara Eotvos, usou uma fórmula matemática para descrever uma ola, movimento sincronizado dos torcedores em forma de onda que se agita de um lado a outro do estádio. A ola, que significa onda em espanhol, ficou consagrada na Copa do México, em 1986. “Tínhamos estudado outros tipos de comportamento humano”, conta Vicsek, “e era natural que estendêssemos nosso trabalho para essa situação espetacular”. Para analisar a onda de torcedores, os pesquisadores filmaram 14 olas para definir seu padrão de deslocamento. “Como base, usamos um programa que descrevia os movimentos do músculo cardíaco”, diz Vicsek.

A conclusão é peculiar: se a ola for iniciada por 25 a 35 pessoas, são grandes as chances de ela contaminar toda a arquibancada. Uma ola em geral se move no sentido horário, tem largura de 6 a 12 metros (o equivalente a 15 assentos) e velocidade de 12 metros (ou 20 assentos) por segundo. Depois de formada, ela se espalha pela multidão e adquire formato estável, quase linear. Amante do futebol e, em especial, do Brasil, Vicsek jura que o estudo ajuda a entender o comportamento da multidão.

A pesquisa húngara não é a única a se embrenhar no mundo futebolístico. No início do ano, o matemático Henry Stott, da Universidade de Warwick, na Inglaterra, criou um modelo estatístico da Copa do Mundo para traçar previsões com grande probabilidade de acerto. Seu sistema combinava os porcentuais de aposta das lotéricas, as análises estatísticas dos jogos anteriores e as chances de vitória nas partidas seguintes. Até aí, nenhuma novidade. A diferença em relação a outras pesquisas é que Stott aliou a isso um novo fator, a imprevisibilidade de algumas seleções. Resultado: ao lado da Argentina, por sua capacidade de surpresa, o Brasil foi cotado como o favorito. Segundo Stott, os péssimos resultados brasileiros antes do campeonato obscureceram as chances reais do time de Felipão. Ponto para o matemático inglês.

Outras pesquisas beiram a polêmica. É o caso de Mike Wright e Nobuyoshi Hirotsu, da Universidade de Lancaster, também na Inglaterra. Seu tratado matemático não só mostrava que os técnicos erravam ao fazer as substituições, mas indicava qual o melhor momento de realizar a troca de jogadores. Ao estudar a primeira divisão inglesa, o cientista concluiu que muitas substituições eram feitas nos derradeiros 15 minutos de jogo. A análise científica indica que a troca deveria acontecer antes, mas os próprios cientistas admitiram que o sistema não é perfeito. “Há sempre outros fatores que podem ter impacto na partida”, justifica Wright. Apesar de tantos avanços, para a ciência o futebol permanece uma caixinha de surpresas.
 

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias