Comédias baseadas num único personagem costumam ter vida curta, pois rir da mesma piada cansa. Mas o humorista canadense Mike Myers, saído do elenco de Saturday night live – programa americano de televisão há milênios no ar –, tem jogo de cintura suficiente para garantir risadas de seu personagem que entra no terceiro filme. Austin Powers em o homem do membro de ouro (Austin Powers in goldmember, Estados Unidos, 2002), em cartaz nacional, dá sequência à série iniciada com Austin Powers – 007 um agente nada discreto (1997) e seguida por Austin Powers – o agente Bond cama (1999). Mas O homem do membro de ouro, seguramente, é o melhor. Novamente dirigido por Jay Roach – e com Michael Caine como Nigel Powers, o pai do espião, e Beyoncé Knowles, do grupo Destiny’s Child, no papel da perigosa Foxxy Cleopatra, a beldade de plantão –, a fita é um besteirol inteligente. Austin Powers poderia ser definido como a soma dos Beatles com o James Bond de Sean Connery, dois dos grandes ícones britânicos dos anos 60, época da Swingin’ London, em que sexo consumia-se como sorvete, as drogas transformavam o mundo em desenho animado e o rock era a trilha sonora da vida.

Assim, Myers criou o agente secreto que foi congelado e transportado para os dias de hoje sem perder os cacoetes psicodélicos. É também da década das transformações que saltam o vilão dr. Evil (o próprio Myers) e seus agregados, Mini-Mim (Verne Troyer), seu clone anão, e Scott Evil (Seth Green), o filho extremamente revoltado. Através de uma máquina do tempo, na verdade um carrão, o grupo viaja por períodos da história recente tendo como desculpa alguma trama para a dominação do mundo urdida por dr. Evil e seu parceiro, o holandês Johann van der Smut, o tal Goldmember, também vivido por Myers. Neste episódio, eles caem na era disco dos anos 70 com direito a participação especial de John Travolta. Por sinal, a cena de abertura, uma das mais hilariantes vistas recentemente, assim como outros momentos do filme, é pontilhada de celebridades – de Steven Spielberg a Ozzy Osbourne. Em tempo: nos anos 60, Michael Caine estrelou uma sátira a 007 na qual usava óculos. Sem querer, o ator já se transformava no pai de Austin Powers.