Assim que completou oito anos, em 1978, Manoj Nelliyattu Shyamalan, indiano de Pondicherry, província de Tamil-Nadu, ganhou uma máquina de filmar super 8 de seus pais, médicos radicados em Penn Valley, perto de Filadélfia, Estados Unidos. Entusiasmadíssimo com Contatos imediatos de terceiro grau, filme de Steven Spielberg, de 1977, ele sonhava fazer algo parecido. Vinte e quatro anos depois, aquele garoto que se transformou no badalado diretor de cinema M. Night Shyamalan, autor de sucessos como Sexto sentido e Corpo fechado, parece ter atingido seu objetivo com Sinais (Signs, Estados Unidos, 2002), cartaz nacional a partir da sexta-feira 20.

Em seu quinto longa-metragem, Shyamalan retoma o tema abordado por seu herói de infância falando do possível contato entre humanos e alienígenas. A exemplo de Spielberg, o novo trabalho do cineasta vem atraindo multidões aos cinemas de todo o mundo usando um marketing agressivo e uma fórmula infalível que mistura terror, suspense e esperança, além de sustos, engulhos de parte da crítica e protestos veementes de ufólogos. A história, de autoria do próprio, mostra o conflito de fé sofrido pelo ex-ministro episcopal Graham Hess (Mel Gibson), que mora cercado de uma plantação de milho numa região deserta da Pensilvânia. Mesmo vivendo ao lado do irmão Merrill (Joaquin Phoenix), um jogador de beisebol fracassado, e dos filhos Morgan (Rory Culkin, irmão caçula de Macaulay) e Bo (Abigail Breslin), Hess é um ser desolado. Abandonou a batina depois de perder a mulher num acidente. Sua descrença soa ainda mais gritante quando a casa em que moram – uma cópia do casarão de Norman Bates em Psicose, de Alfred Hitchcock – começa a ser cercada por enormes falhas na plantação que, vistas de longe, formam símbolos misteriosos, os tais sinais.

Shyamalan aprendeu a lição do mestre Hitchcock, que advertia o público para não contar a ninguém o que via no cinema. A chave de Sexto sentido e de Corpo fechado se resume numa única frase. A de Sinais, a duas se tanto. E, naturalmente, você não vai lê-las aqui. Basta saber que o filme funciona, e bem. Orçado em US$ 62 milhões, em um mês Sinais já faturou US$ 200 milhões só nos Estados Unidos. Neste ritmo, deverá ultrapassar a arrecadação mundial do campeão Sexto sentido, de 1999, que amealhou perto de US$ 700 milhões. Os brasileiros poderão se alvoroçar com a inclusão de uma cena passada em Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Mas a referência é circunstancial e não envolve os ditos sinais. De acordo com A. J. Gevaerd, editor da revista UFO, os chamados agriglifos – crop circles em inglês – são praticamente inexistentes no Brasil.

Algumas pessoas já se apresentaram como autoras dos megadesenhos, que em várias partes do mundo podem chegar a mais de 500 figuras, embora a autoria de muitas delas permaneça inexplicada. Pesquisadores brasileiros do gênero vêem nesse tipo de filme uma espécie de desserviço às causas que defendem. Nos Estados Unidos, porém, Sinais exerce um fascínio talvez atribuído à paranóia provocada pelo ataque de 11 de setembro. Afinal, Shyamalan filmou sob o clima que se seguiu ao ocorrido e existe uma tradição do cinema americano de se valer da metáfora espacial para espinafrar o inimigo externo. Mas o show deve continuar e o diretor é bom em espetáculo. Outra vez cercou-se de atores infantis muito bons e dirigiu o filme com tal precisão que afastou Gibson e Phoenix dos histrionismos habituais. M. Night Shyamalan integra a nova geração dos realizadores com resultado ao lado de Sam Mendes (Beleza americana), P.T. Anderson (Magnólia) e Darren Aronofsky (Réquiem para um sonho), só para nomear alguns. Sinais de novos tempos em Hollywood.