II Mostra do Programa de Fotografia/ Centro Cultural São Paulo, SP/ até 13/1/2013

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PAISAGEM MIDIÁTICA
Fotografia de Dirnei Prates realizada a partir da imagem de jornal
 

Por trás do excelente trabalho pessoal dos três fotógrafos da II Mostra do Programa de Fotografia do Centro Cultural São Paulo há uma boa curadoria. A mostra foi retomada, este ano, em comemoração aos 30 anos da instituição, e projetada pelo atual curador de artes visuais, Marcio Harum, como um espaço para “pensar as particularidades e os limites da linguagem fotográfica”. Nos trabalhos atualmente em exposição, o território de reflexão é a construção da imagem.

O elo que aproxima as obras recentes de Dirnei Prates, Sofia Borges e Marcelo Tinoco é o trabalho com a paisagem. No entanto, nenhum dos fotógrafos tem como matéria-prima a paisagem natural. Seu tema de abordagem é sempre a paisagem cultural. Dirnei Prates tem a paisagem midiática como alvo. Na série “Paisagens Populares”, ele se apropria de imagens veiculadas em jornais. Sua estratégia, porém, é eliminar as figuras de destaque e mirar o terceiro plano da imagem, no qual os personagens se tornam pontos distantes, que se confundem com o grão estourado da impressão gráfica do jornal. O resultado é uma fotografia sem primeiro plano, em que o interesse está no pano de fundo.

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NATUREZA CONSTRUÍDA
Trabalho de Sofia Borges realizado com dioramas do Museu de História Natural

Marcelo Tinoco também trabalha com a profundidade de campo, porém, diferentemente de Prates, valoriza por igual todos os planos da imagem. Desafiando as limitações técnicas da fotografia analógica, compõe complexas cenas em que fundo e figura têm o mesmo peso narrativo. Paradoxalmente, ao fazer uso de ferramentas de pós-produção fotográfica, Tinoco constrói imagens que remetem à composição pictórica renascentista ou a um certo “apego ao passado”, como aponta o crítico Mario Gioia, em texto de apresentação da exposição. Essa remissão ao passado – e esse ruído entre tempos tecnológicos – se faz tanto na composição como no tema: na paisagem bucólica do domingo no parque ou na citação da pintura antiga, como em “Para Canaletto” (2012), que reprograma fotografias tiradas pelo próprio Tinoco em Veneza.

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A série “Tema”, de Sofia Borges, é composta por paisagens de terceira mão. Os trabalhos consistem em fotografias em preto e branco tiradas de detalhes de pinturas de dioramas do Museu de História Natural de Nova York. Se alguma dúvida surgir acerca da ficção dessa paisagem, ela logo se dissipa com a presença de uma segunda fotografia, em pequeno formato, do processo de construção desse cenário. Assim, como aponta a crítica Luiza Proença em seu texto de apresentação, o trabalho de Sofia Borges é tanto sobre a construção de cada imagem fotográfica quanto sobre a exposição dessas imagens. No modo como organiza essas fotografias nas paredes do espaço expositivo do CCSP, Sofia nos incita realmente a pensar os limites da linguagem, já que situa seu trabalho não simplesmente como fotógrafa, mas como editora de imagens.  

Foto: Sofia Borges, Marcelo Tinoco e Dirnei Prates