Uma outra figura carimbada da Saúde caiu
nas garras da “Operação Vampiro” e já é investi-
gada pela Polícia Federal: Ivan Batista Coelho, citado 15 vezes nas conversas grampeadas
de lobistas, era subsecretário administrativo
do Ministério, área responsável pelo setor de compras. Sob suas ordens atuava o coordenador-geral de recursos logísticos da Saúde, Luiz Cláudio Gomes da Silva, amigo do ministro Humberto Costa. A polícia descobriu que Luiz Cláudio era o vampiro-chefe da quadrilha. Acumulando as funções de Luiz Cláudio como responsável pelas licitações, Ivan chegou ao terceiro posto mais importante da pasta pelas mãos de José Dirceu, ministro da Casa Civil. A polícia suspeita que Ivan tenha vazado informações na compra de R$ 5 milhões em medicamentos, sem licitação,
para atender como emergência as vítimas de enchentes no Nordeste. Por isso, o governo suspendeu na semana passada um pregão para a compra de 70 mil ampolas de Fator 8, hemoderivado usado por hemofílicos. Os grampos da PF flagraram, em 5 de fevereiro, uma conversa entre os lobistas Eduardo Pedrosa
e Laerte Correa Jr., presos pela PF, envolvendo Ivan e o presidente do Fundo Nacional de Saúde, Reginaldo Barreto, mencionado como o beneficiário dos
R$ 723 mil pagos pela quadrilha.

Eduardo – Tá bom?
Laerte – Tá bom. Com o Ivan foi muito bem, viu?
Eduardo – Foi muito bem?
Laerte – Muito bem. Gostei lá.
Eduardo – Ok.
Laerte – Aí semana que vem eu tenho… Estão todos os contratos, tudo nas mãos dele (Ivan).
Eduardo – Ok.
Laerte – E aí sábado eu converso a história com o Reginaldo (Muniz Barreto).
Quatro dias depois, numa conversa entre o lobista Jaisler Jabour e o representante João Carlos, da União Química, Ivan é mencionado junto com um funcionário da comissão de licitação do Ministério, Manoel Pereira Braga Neto, que teria ligado para as empresas dando os preços da compra de 41 medicamentos para as vítimas das enchentes. As quantidades são “absurdas”, diz o lobista Jabour, ao repassar, pelo telefone, a listagem para Álvaro, representante da Neo Química. Em diálogos posteriores, os lobistas lamentam que o laboratório Cristália “levou quase tudo” da compra, que “chegou lá nos preços mínimos”. A Cristália é um dos doadores do PT em 2002.
João Carlos – Falei com o Dudu, tá?
Jabour – Ah…tá… eu pedi a ele pra te ligar porque ele está com todos os… A posição na mão e eu tô aqui no Rio, entendeu?
João Carlos – Eu sei… então eu disse a ele: “Porra, Dudu (lobista Eduardo
Passos Pedrosa), eu estou com o cara lá… agora tem nego no Ministério va-
zando a informação (… ) eu acho que é o cara que passa lá pro cara da Cris (laboratório Cristália)
Jabour – Ah… entendi
João Carlos – Entendeu?
Jabour – Não, aquilo ali é porque como esse aí foi todo da outra área…
João Carlos – Sim…
Jabour – Isso partiu lá do… do “I” (Ivan Batista Coelho)
João Carlos – Sim, sim, eu sei…
Jabour – Aquele que tem os dentes grandes (Ivan)
João Carlos – Sim, mas acontece que negociaram o preço, porra, no final de semana…
Jabour – Pois é… então, esses camaradas (funcionários públicos) ficaram sentados em cima da lista… cê lembra… o tempo todo que ficaram… (…) E devem ter feito assim milhões de trapaças.
João Carlos – Eu acho que o Maneco (Manoel Braga Neto, funcionário da Coordenação-Geral de Recursos Logísticos) tá jogando dos dois lados (recebendo dinheiro dos integrantes da quadrilha e de outro grupo)

A PF investiga a ação da quadrilha nos ministérios da Educação e da Previdência Social. Os policiais tentam localizar as transações financeiras do grupo para o Exterior. Estão sendo investigadas a off-shore Fargin Empreendimentos e Participações, sediada em Montevidéu, e a Southwestrade, que teria sociedade
com a filha de Jaisler Jabour, a modelo e namorada do ator Rodrigo Santoro, Ellen Jabour, na empresa ITC Lab participações e investimentos. A outra filha, Kelly, é sócia da Fargin. A suspeita é de que Jabour usava as filhas como laranjas. As duas terão de se explicar à PF.