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MOBILIDADE
Marcelo da Silva não precisou fazer cirurgia para
hérnia de disco depois de diagnóstico mais preciso

Cerca de 85% das pessoas passarão por algum tipo de dor reincidente nas costas em algum momento da vida. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, três de cada dez brasileiros apresentam problemas crônicos na região. Geralmente oriunda de uma inflamação gerada por má postura ou esforço repetitivo, a maioria dessas dores pode ser revertida, desde que eliminada sua causa, sem que seja preciso uma intervenção cirúrgica. Apesar disso, não são raros os casos de pacientes que recebem a indicação para operações desnecessárias.

Para mudar essa realidade, o “Jornal Americano de Radiologia” publicou novas diretrizes segundo as quais o primeiro passo é a investigação meticulosa da origem da dor. A lombalgia (dor na região lombar), por exemplo, deve ser dividida por tipo de causa: não específica (infecção, torção da coluna, doenças inflamatórias) ou específica (na ocorrência de um estreitamento anormal do canal espinhal lombar ou mais frequentemente na hérnia de disco).

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Também a fisioterapia e a reeducação postural, de acordo com as diretrizes, fazem diferença contra as dores. Centros de excelência no País apresentam resultados animadores que comprovam a eficácia da terapia. Em São Paulo, o Projeto Coluna, do Hospital Albert Einstein, já tirou da fila da cirurgia 72% dos pacientes que lá chegaram com indicação para a intervenção. “Avaliamos a postura do indivíduo de forma minuciosa”, diz a fisioterapeuta Marília Diniz, integrante do projeto. O Hospital Nove de Julho, também em São Paulo, mantém um programa que reúne de fisioterapeutas a neurologistas para identificar a causa da dor e depois tratá-la. “Vários profissionais que possam analisar o problema são fundamentais”, diz Cláudio Correa, coordenador do Centro de Dor do hospital. Na Inglaterra, o Instituto Nacional de Saúde e Excelência Clínica usa ainda a terapia cognitivo-comportamental – busca modificar padrões de pensamentos e comportamentos associados à dor crônica – para aliviar tensões emocionais que agravam o problema.

Um dos motivos pelos quais tratamentos desse gênero mostram-se na maioria dos casos mais eficazes do que as cirurgias é o fato de que a dor tem mecanismos complexos. Por isso, geralmente não é solucionada com apenas uma intervenção. “Pode ser que o paciente até tenha uma hérnia de disco, mas ela pode não ser a causa da sua dor”, diz Mario Ferretti Filho, do Albert Einstein. O analista de banco de dados Marcelo da Silva, 31 anos, por exemplo, tinha indicação para cirurgia de hérnia de disco, mas após ter seu problema mais bem avaliado e se submeter ao programa de reabilitação, viu-se livre da dor que o incomodou por anos. “Segui o programa com disciplina”, diz. Outra razão apontada é que, embora a maioria das pessoas apresente alterações em exames de imagem, elas nem sempre representam um prejuízo ao paciente ou necessidade de uma operação.

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Mesmo para os casos em que a dor é tão grave que impede maior adesão à fisioterapia, a medicina disponibiliza procedimentos minimamente invasivos guiados por aparelhos de imagem em que analgésicos e anti-inflamatórios são injetados no foco da dor por meio de uma agulha. “Essa analgesia é mais eficiente e pode durar meses”, explica o médico Luciano Miller, diretor da Colunar, clínica especializada em cirurgias minimamente invasivas da coluna vertebral, em São Paulo. “O paciente pode, assim, dedicar tempo ao tratamento convencional sem sentir dor”, completa.

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Para quem necessita mesmo se submeter à cirurgia, há métodos menos agressivos, como o que usa aparelhos com uma microcâmera na ponta que conseguem excepcional visualização durante o tratamento de hérnia de disco, com incisões que não chegam a um centímetro. Eles resultam em menos risco e em recuperações mais rápidas. “Antes, para chegar até a coluna as incisões eram grandes, lesionava-se muito o tecido, o que dificultava a recuperação. Essas novas técnicas estão revolucionando a cirurgia para hérnia de disco”, diz Miller.

Lá fora, há novos caminhos em estudo. Cientistas da Universidade de Frankfurt, na Alemanha, mostraram que o ozônio pode aliviar a pressão dos discos vertebrais sobre as estruturas nervosas que os envolvem, processo envolvido na dor. Na pesquisa, com uma única injeção de ozônio, 37% dos pacientes relataram estar livre de dor por seis meses após a aplicação. Na Universidade de Brighman, nos Eua, estuda-se um disco artificial flexível, que permite o movimento mais natural das vértebras. Em outra linha, diversos centros de pesquisa do mundo realizam estudos com células-tronco, fatores de crescimento e terapia gênica para aplicar em discos doentes e com isso reverter o processo degenerativo. Mas ainda não há aplicabilidade em humanos. 


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