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O sonho de todo cineasta com ambições autorais é que o seu nome vire um adjetivo, a exemplo de mestres do passado como Federico Fellini ou Ingmar Bergman. Uma mulher possui aparência voluptuosa e excêntrica? Ah, é felliniana. Alguém anda muito sorumbático? Está um pouco bergmaniano. Após quatro décadas assinando histórias bizarras, o cineasta americano Tim Burton acumulou prêmios, grandes bilheterias e ganhou um estilo que nos EUA vem sendo chamado de “burtonesque” (mistura de Burton e grotesco). Essa assinatura típica está presente também na animação “Frankenweenie” (em cartaz nacional na sexta-feira 2), provando que a combinação do humor sombrio com toques de ousadia cinematográfica é perfeitamente possível nesse gênero mais afeito às histórias “coloridas”. Estão lá os seus costumeiros personagens de fisionomia estranha que, por conviverem com dilemas existenciais e estarem sempre em briga com a humanidade, mostram-se cativantes aos olhos do público, mesmo o infantojuvenil. Há também o uso da técnica primitiva do stop-motion (quadro a quadro), que tem em Burton um dos raros entusiastas nos dias de hoje – ele a utilizou em “A Noiva Cadáver” e “O Estranho Mundo de Jack”.

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BICHOS SOLTOS
Experiências frustradas enchem a cidade de animais estranhos

Se a intenção era fazer uma homenagem ao terror gótico “Frankenstein”, clássico dos anos 1930, ela não estaria completa se não fosse filmada em preto e branco. Burton não só rodou “Frankenweenie” nessa película como ousou mais e utilizou a tecnologia 3D na finalização. A combinação inusitada confere um ar mórbido e futurista à história do garoto Victor Frankenstein, que, após a morte inesperada de seu cão Sparky, consegue ressuscitá-lo por meio de descargas elétricas. O que era para ser uma experiência caseira torna-se objeto de inveja de seus colegas de classe: numa competição na feira de ciências, a garotada perde o controle em seus experimentos malucos e espalha estranhas criaturas pelas ruas da pequena cidade de New Holand.

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A ideia original do filme é antiga. Essa mesma história já foi contada por Burton e pelo roteirista Leonard Ripps no curta-metragem de mesmo nome, em 1984. Curiosamente, por causa dessa produção, o diretor foi demitido da Disney sob o argumento de que estava gastando tempo e dinheiro em trabalhos que a companhia considerava assustadores para serem consumidos por toda a família.

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FÁBRICA DE BONECOS
Tim Burton usou mais de 200 miniaturas nas filmagens

Passados 28 anos, e novamente companheiro de empresa de Mickey Mouse, Burton prova que estava no caminho certo. Junto com a estreia de “Frankenweenie” chegaram recentemente aos cinemas duas animações de horror tributárias do adjetivo “burtonesque”: “Paranorman” e “Hotel Transilvânia”. A influência é identificável de cara. O primeiro fala de um menino que consegue se comunicar com os mortos; o segundo trata de um resort para monstros cansados de assustar humanos. Mais ambicioso que os seus seguidores, Burton gastou dois anos para finalizar “Frankenweenie”, liderando uma equipe de 33 profissionais voltados exclusivamente para criar os movimentos de mais de 200 bonecos (desses, 18 eram Victors e 15, Sparkys). A tarefa seria menos penosa não fossem eles tão liliputianos – mediam em torno de 10 cm. A constante manipulação das miniaturas obrigou a produção a criar até um hospital especializado onde 150 modeladores consertavam membros, ajeitavam cabelos, reparavam a pele e emendavam figurinos que sujavam ou rasgavam nas filmagens. Tudo isso fez com que o longa-metragem custasse 40 vezes mais do que a sua primeira versão, orçada em US$ 1 milhão. Valor que a Disney, dessa vez, gastou sem reclamar.  

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Foto: divulgação disney
Fotos: Leah Gallo; divulgação Disney